Texto de autoria de Reinaldo Afonso Mayer, professor Universitário aposentado, Especialista em Informática e Mestre em Educação pela UEPG, residente em Ponta Grossa.
Nos
anos setenta, sentávamos em um muro, na esquina da Barão de Capanema com a Avenida
Antônio Vieira, o antigo ponto final do ônibus da Vila Catarina Miró. Nosso
sonho era ser alguém na vida e jogar no campo esburacado do bairro, que até
recebeu o pomposo nome de Estádio Flávio Carvalho Guimarães. Às vezes, íamos lá
assistir jogos, da cerca podre de madeira, outras vezes o alugávamos fazendo
uma “vaquinha” para jogar por um time que inventamos, o Vasquinho da São José.
Usávamos até o uniforme que copiamos de um time do Rio de Janeiro! Na esquina
“famosa”, os mais velhos, como Bibico, Ye-Yé e Celso, o Véio, sempre elogiavam
o futebol do “Negrinho do tamanduá” ou falavam do tamanho do ponta-direita
Arizinho, tão pequeno e magro que “dormia em um sarrafo”. Porém todos queriam
ser tão bons como o Tadião Filipowski, o filho da Dona Eugênia. Ele defendeu as
cores do Vasquinho e do alviverde com unhas e dentes. Até chegou a quebrar a
perna mais de uma vez em divididas, mas arrancava o gesso antes do prazo se uma
“decisão” fosse acontecer. Foi campeão em muitos times da cidade e um dia,
finalmente, pudemos vê-lo jogando no profissional do Guarani, contra o famoso
Botafogo de Cal, Gerson e Jairzinho. Os que tinham menos de 18 anos, nos
campeonatos oficiais da Liga, defendiam o juvenil do Palmeiras, que sempre era goleado
pelos adversários, mas até que teve alguns dias de glória, contra times como o do
Operário Juvenil, que foi o campeão daquele ano, mas foi vencido ali no bairro por
um a zero. Façanha que rendeu até uma placa para eternizar o raro momento que
aconteceu! Anos depois, continuamos jogando, mas eu nunca descuidei dos meus estudos.
Tive bons momentos em outros esquadrões, como o Olinda, de Olarias, do técnico
Toinca, o Blue-Star, do técnico Noel ou o Cerâmica 12 de Outubro, do Sirlei
Alves da Silva. Vibrei por jogar, por um tempo, ao lado de craques que eu
admirava, como Tito, Rubens Henrique, Lara, Kurt e Luizão e outros que esbanjaram
categoria nos times profissionais da cidade. Hoje, ainda vou aos domingos na missa
das dez da Igreja São José, onde fiz a primeira comunhão. Para depois descer a
Anita Garibaldi e ver, do muro do gol dos fundos do Palmeiras, se algum jogo
está acontecendo. Mas também para conferir se tem alguém que talvez tenha jogado
comigo. Acho que já fomos esquecidos, porém ainda guardo algumas fotos em
preto-e-branco e os recortes de alguns jornais daquela época. Talvez um dia, sejam
também peças descartáveis. Como nós.