Texto de autoria de Rogério Geraldo Lima, empresário, redator e radialista, Palmeira.
Lida na CBN Ponta Grossa em 1º/04/2021, postada no NCG.news em 03/04/2021, publicada no Correio Carambeiense em 03/04/2021 e no Diário dos Campos em 07/04/2021, postada no Portal D'Ponta News em 15/04/2021, postada no Portal aRede em 21/04/2021.
No Estádio
João Chede, propriedade do Ypiranga Futebol Clube, de Palmeira, há 100 anos a
bola rola no gramado e uma testemunha está lá desde o início desta história. É
a arquibancada de madeira, em estilo arquitetônico inglês, um bem tombado como
patrimônio histórico do Estado do Paraná, com episódios alegres e tristes
impregnados em suas tábuas e vigas.
Os arquivos
das memórias foram já deletados pelo implacável dedo do tempo. Imagino então um
match de futebol dos primórdios,
quando um polaco grandalhão inflava o peito para não ser vazado jogando de goal keaper, que um mulatinho ligeiro distribuía
dribles desconcertantes e passes precisos, atuando como center half, e que um avantajado alemão fazia gols de cabeça e de
canela na posição de center forward.
O match, como seria de supor, terminou em
confusão generalizada. Por sinal, uma das maiores de todos os tempos nos
limites dos rios Forquilha e Monjolo. Na etapa final, quando faltavam poucos
minutos para o fim do prélio, o placar marcava 3 a 3 e o mulatinho fazia
carnaval, driblando adversários de um lado para o outro, quando foi
violentamente atingido por um beque adversário. Foul apitado pelo árbitro. Sem conter a dor, o jogador levantou-se e,
célere, viu que o alemão sinalizava. Com precisão, colocou a bola na cabeça do
avante, que a mandou para o gol. Adversários correram para reclamar ao apitador
a invalidação do gol por offside.
Porém, o referee, com cara de poucos
amigos, incontinenti, deu como válido o goal.
Aí,
acabou o jogo e seguiu-se um corre-corre nunca antes visto. Voadora e
rabo-de-arraia para todo lado. O goleiro polaco acertou com a mão espalmada – e
que mão! – a cara de um adversário que se atreveu desafiá-lo e terminou
estirado fora do campo. O alemão autor do gol fugiu, perseguido por torcedores
do team adversário que o alcançaram,
atingindo-o na região glútea com vários quicks.
“Parrem de chutarrr meu punda”, implorava,
choroso.
O mulatinho,
sagaz, desapareceu em desabalada carreira após transpor, num jump, os trilhos da estrada de ferro. Permaneceu
embrenhado no mato durante dias, tomando para si a culpa pelos acontecimentos
daquele domingo de fuzarca.
A ficção ganha
vida com o futebol e suas histórias, dada a riqueza cultural do nobre esporte
bretão e da arquibancada centenária do Estádio João Chede. Não só de futebol o
futebol vive, mas também é, há incontáveis décadas, pretexto e fonte
inspiradora para a literatura. Como fez aqui este writer.
E trila o
apito final!