segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Heróis não morrem, são apenas esquecidos

Texto de autoria de Reinaldo Afonso Mayer, professor Universitário aposentado, Especialista em Informática e Mestre em Educação pela UEPG, residente em Ponta Grossa.

Nos anos setenta, sentávamos em um muro, na esquina da Barão de Capanema com a Avenida Antônio Vieira, o antigo ponto final do ônibus da Vila Catarina Miró. Nosso sonho era ser alguém na vida e jogar no campo esburacado do bairro, que até recebeu o pomposo nome de Estádio Flávio Carvalho Guimarães. Às vezes, íamos lá assistir jogos, da cerca podre de madeira, outras vezes o alugávamos fazendo uma “vaquinha” para jogar por um time que inventamos, o Vasquinho da São José. Usávamos até o uniforme que copiamos de um time do Rio de Janeiro! Na esquina “famosa”, os mais velhos, como Bibico, Ye-Yé e Celso, o Véio, sempre elogiavam o futebol do “Negrinho do tamanduá” ou falavam do tamanho do ponta-direita Arizinho, tão pequeno e magro que “dormia em um sarrafo”. Porém todos queriam ser tão bons como o Tadião Filipowski, o filho da Dona Eugênia. Ele defendeu as cores do Vasquinho e do alviverde com unhas e dentes. Até chegou a quebrar a perna mais de uma vez em divididas, mas arrancava o gesso antes do prazo se uma “decisão” fosse acontecer. Foi campeão em muitos times da cidade e um dia, finalmente, pudemos vê-lo jogando no profissional do Guarani, contra o famoso Botafogo de Cal, Gerson e Jairzinho. Os que tinham menos de 18 anos, nos campeonatos oficiais da Liga, defendiam o juvenil do Palmeiras, que sempre era goleado pelos adversários, mas até que teve alguns dias de glória, contra times como o do Operário Juvenil, que foi o campeão daquele ano, mas foi vencido ali no bairro por um a zero. Façanha que rendeu até uma placa para eternizar o raro momento que aconteceu! Anos depois, continuamos jogando, mas eu nunca descuidei dos meus estudos. Tive bons momentos em outros esquadrões, como o Olinda, de Olarias, do técnico Toinca, o Blue-Star, do técnico Noel ou o Cerâmica 12 de Outubro, do Sirlei Alves da Silva. Vibrei por jogar, por um tempo, ao lado de craques que eu admirava, como Tito, Rubens Henrique, Lara, Kurt e Luizão e outros que esbanjaram categoria nos times profissionais da cidade. Hoje, ainda vou aos domingos na missa das dez da Igreja São José, onde fiz a primeira comunhão. Para depois descer a Anita Garibaldi e ver, do muro do gol dos fundos do Palmeiras, se algum jogo está acontecendo. Mas também para conferir se tem alguém que talvez tenha jogado comigo. Acho que já fomos esquecidos, porém ainda guardo algumas fotos em preto-e-branco e os recortes de alguns jornais daquela época. Talvez um dia, sejam também peças descartáveis. Como nós.

5 comentários:

  1. Reinaldo, já no início da leitura me identifiquei com o lugar, a esquina retratada, o campo do Palmeiras e os personagens de sua crônica.
    Lembro com nitidez do Celso (Veio), do YéYé e do Tamanduá.
    Talvez até tenhamos convivido nessas paisagens. Foi bom recordar.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pela leitura, ainda passo por lá também, nossa casa na Barão de Capanema 1025 também traz agradáveis lembranças do lugar!

      Excluir
  2. O comentário saiu como anônimo. Sou Sueli Fernandes, participante deste projeto desde 2.019.

    ResponderExcluir
  3. ROSICLER ANTONIÁCOMI2 de outubro de 2024 às 18:19

    Reinaldo, você pode nem jogar bola mais, mas com esta crônica está marcando um golaço no Projeto Crônicas dos Campos Gerais.

    ResponderExcluir
  4. Bem, ainda sigo jogando, mas como sempre fui goleiro nos principais times que joguei, esta crônica foi a minha alternativa para balançar as redes...agradeço o comentário!

    ResponderExcluir

Pedimos aos leitores do blog que desejem fazer comentários que se identifiquem, para que os autores conheçam sua origem.

Heróis não morrem, são apenas esquecidos

Texto de autoria de Reinaldo Afonso Mayer , professor Universitário aposentado, Especialista em Informática e Mestre em Educação pela UEPG, ...