segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Mais uma de amanhecer

Texto de autoria de Luiz Murilo Verussa Ramalho, servidor do Ministério Público Estadual, residente em Ponta Grossa.

Postado no Portal aRede em 05/09/2023, no Portal Culturação em 26/09/2023, no Portal TánoTipo em 04/10/2023 e publicado no Diário dos Campos em 30/08/2023.

Com frequência que desafia o bom senso e despreza a necessidade de olhar mais vezes o céu nas horas em que morre a madrugada, vou à sacada e contemplo o elevador luminoso do Edifício Infinity, fincado na direção fronteira. Mesmo nas horas precoces, há tráfego nas ruas Jacob Hollzmann e Sant'Anna, fazendo entrar em minha casa o som das almas que àquela altura estão despertas e se movimentam, em todas as direções, já verticalmente metidas nesse dia novo que, segundo o senso comum, é um "milagre", mas que para cada qual pode ser um presente, um fardo, uma dádiva ou um calvário, conforme o conceito que cada vivente fizer de si e da circunstância que o cerca.

Do mesmo ponto testemunhei, nos últimos anos, estenderem-se rumo ao céu alguns espigões – poucos, mas suficientes para abrigar parcela substantiva da cidade em que nasci, lá longe. A provinciana Ponta Grossa definitivamente já não é mais dada a campesinatos, antes esboça passos cada vez mais duros para uma modernização que virá para males e bens, e em nenhum desses caminhos acertará ou errará sozinha, pois esquecer o passado é o tributo que se paga pela necessária incorporação às cadeias cada vez mais amplas de produção e, quando as coisas se passam assim, se passam como não poderiam se passar diferentemente. O que perfura e mata, e ainda não se fala disso com o arrebatamento merecido, são os efeitos colaterais. O dilema da automação algorítmica e da computação quântica como a tuberculose de nosso tempo, ou como mero catastrofismo dos inimigos da inovação, terá nos Campos Gerais um cenário como qualquer outro. Anyway, ainda é cedo para ruminar o vindouro inferno tecnológico de Musk et caterva, e o cenário convida a sair pela vertente lírica.

"Numa noite, ou num dia (...)/ Tudo aquilo que vemos ou nos parece/Nada mais é do que um sonho dentro de um sonho", (Edgar Allan Poe - Séc. XIX), e é assim que tudo parece visto deste ângulo, antes de descermos e nos integrarmos ao sonho e à coletividade que nada tem de sobrenatural além de estar sobrenaturalmente incorporada ao processo de viver, ao jogo dos interesses no balanço das pulsões e apetites, destinos que se cruzam no imenso caudal da experiência humana. 

Naturalmente mais voltado a identificar os ângulos retos e as arestas do que as harmonias em geral, jamais me afeiçoei ao subgênero "texto de amanhecer", instituição sólida da Crônica. Acordei mais cedo e me saiu um. Deve ser inspiração do "Corvo" Allan Poe, esse equilibrista da treva e da luz.

Adoração da Cruz

Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes , Professora de Português e Inglês, residente em Ponta Grossa.           Já escrevi c...