segunda-feira, 27 de junho de 2022

Deixados para trás

Texto de autoria de Mário Francisco Oberst Pavelec, técnico em agropecuária, Ponta Grossa.

Postado no Portal aRede, em 29/06/2022 e publicado no Diário dos Campos, em 28/07/2022.

Os relatos de aparições de OVNI’s na região dos Campos Gerais remontam desde o início da década de 1950. Até recentemente, em 2018, foram avistadas algumas espaçonaves sobre os bairros da Chapada e Boa Vista. São casos ainda em investigação pela Associação Ufológica de Ponta Grossa.

Mas, no início da década de 1970, essas aparições eram muito mais frequentes e intensas, segundo pude testemunhar. Principalmente sobre os arenitos de Vila Velha.

Não sei ao certo o que atraía esses fenômenos até lá, mas, na época, nós, que éramos fissurados por tais eventos, sempre íamos até o parque, à noite, armados com telescópios, binóculos e máquinas fotográficas, principalmente aos finais de semana. Muitas vezes acampávamos por lá, para buscar nossos ET’s, e, confesso, para nos divertirmos muito.

Não raras vezes, tivemos claros avistamentos, próximos o suficiente para podermos observar que as naves eram pilotadas por seres não deste mundo.

Mas, no outono de 1971, em uma noite mais fria, com céu encoberto (sim, imaginávamos que tínhamos errado o passeio), por volta das 3 horas da madrugada, aconteceu aquilo que mudaria definitivamente nossas vidas.

Em nossas barracas de lona improvisadas, sentimos um forte vento, muito quente, e uma iluminação ofuscante. Ao sairmos, nos deparamos com uma nave alienígena extremamente próxima ao nosso acampamento, logo acima dos arenitos. Permanecemos estarrecidos, mudos e estáticos. Era enorme, prateada, triangular, com luzes coloridas em todo seu entorno. Não havia nenhum outro barulho, além da vegetação agitada pelo vento.

Foi gradativamente descendo em direção ao acampamento, até se posicionar diretamente em frente aos arenitos, próximo ao solo o suficiente para podermos tocar e adentrar a nave. Um enorme portal se abriu e, após alguns minutos, os mais longos da minha vida, um ser esguio, alto, com uma cabeça enorme e olhos igualmente avantajados, desceu aquilo que parecia ser uma rampa. Ergueu suas mãos como se nos saudasse, e parou em frente ao grupo dos perplexos humanos.

Não posso mais relatar os acontecimentos daquela noite, pois quando retomamos nossas consciências, o sol já ardia forte no domingo outonal. Um de nós, nunca mais foi visto.

Aqueles deixados para trás, acordaram em nunca mais tocar no assunto, nem por brincadeira. Nosso silêncio durou até hoje. O que sobrou de todos, é este que vos conta.

 

 

segunda-feira, 20 de junho de 2022

UEPG 50 anos

Texto de autoria de Sílvia Maria Derbli Schafranski, advogada, Ponta Grossa.

Postada no Portal aRede em 22/06/2022.

Já não me recordo há quanto tempo e ainda menina ouvia de forma reiterada: “espere até você ir para a Universidade”. Naquele tempo ficava a imaginar o que é uma Universidade e por que os adultos se referiam a ela como algo sublime, capaz de alterar tanto a realidade alheia. Como ocorre com muitos outros adolescentes, o tempo foi passando e chegou o grande momento de decidir os rumos de minha trajetória. Não sei exatamente a razão, mas na época optei pelo curso de Direito.

Ao colocar meus pés naquela instituição já na qualidade de “caloura”, comecei a perceber a grandeza do universo que ali se apresentava. Na primeira semana do curso adentrou a sala de aula como professora de Sociologia Jurídica a minha própria mãe e, naquele momento, comecei a perceber que grande parte dos membros de minha família, assim como de muitas outras de nossa cidade, tem as suas vidas acadêmicas e profissionais atreladas a essa instituição.

Repentinamente passei a me interessar pela grandeza da diversidade que ali se observava através da infinidade de protagonistas que se apresentam naquele mesmo cenário portando ideias e ideais muitas vezes distintos uns dos outros. Percebi o valor inestimável da nossa UEPG quando compreendi que a maior parte da população ponta-grossense e dos Campos Gerais está de certo modo vinculada a ela. Pude perceber que a maior riqueza que lá se encontra traduz-se na excentricidade do material humano encontrado diariamente nos passos dados por aqueles que caminham orgulhosos pelos seus corredores.

Os mais antigos nas cadeiras descreveram-me uma universidade pretérita, cuja história oficialmente começou no ano de 1969 pelas mãos do então governador do Paraná Paulo Pimentel, e que iniciou suas atividades em 1971, sob o comando do primeiro Magnífico Reitor, Álvaro Augusto Cunha Rocha.

Também me contaram inúmeras histórias que foram vividas naquele cenário, como namoros que evoluíram ao matrimônio, pessoas que ali se conheceram e que passaram a se admirar mutuamente e diversas amizades que ali foram embrionadas. Descreveram-me com infindável riqueza de detalhes uma UEPG, palco de motivação para muitos mestres, doutores e mentes brilhantes que um dia foram o motivo da real inspiração e fator determinante nas escolhas de vida de alguns.

Hoje, também como membro da casa, assim como foram meus pais e irmãos, percebo que são cinquenta anos de história e de diversas “estórias” maravilhosas que inspiram e que também fomentam a economia de nossa cidade.

 

terça-feira, 14 de junho de 2022

Teresa Cristina

Texto de autoria de Sílvia Maria Derbli Schafranski, advogada, Ponta Grossa.

Postada no Portal aRede em 15/06/2022 e no Portal CulturAção em 28/06/2022.

Nas primeiras cartas que recebi o tratamento ainda era bastante formal. Ele só se referia a minha pessoa como Doutora Teresa Cristina. Recordo que estava desesperado procurando alguém que acertasse o diagnóstico do filho mais velho.

Ao examinar aquele rapaz franzino não pude deixar de perceber que o tronco e os membros superiores se movimentavam de forma abrupta e as contrações eram muito perceptíveis.

Estranho perceber que ele caminhava de forma exageradamente alegre e fazia muitas caretas que eram intercaladas com piscadas e um tique nasal que lhe parecia convulsionar.

Nunca havia visto algo tão bizarro em minha vida, mas de certa forma havia me comprometido em auxiliar no diagnóstico, porém não havia encontrado nem um caso semelhante.

Seguimos realizando exames e trocando cartas por quase dez anos. Foi quando finalmente o chamei e expliquei tratar-se de uma doença muito rara cujo prognóstico não seria bom. Na ocasião ele entrou em negação e preferiu acreditar que já havia recebido o diagnóstico correto de outro médico. Preferiu acreditar tratar-se de Tourette.

Quando recebi a última carta na qual me chamava carinhosamente de Doutora Tuca ele noticiou que o filho havia falecido e que já não controlava seus impulsos, tendo antes se tornado promíscuo e depois inerte e acamado.

No fim da carta lamentou o ocorrido e agradeceu por todos os anos de pesquisa. De forma estranha indagou por que meus pais haviam me colocado esse nome e reiterou que infelizmente não poderia pagar meus honorários mas que eu poderia dispor dos produtos de sua pequena venda.

Foi somente nesse momento que percebi de quão pequeno pedaço de terra eu havia brotado e passei a recordar dos meus ideais de menina: liberdade, igualdade e fraternidade. Recordei que carrego o nome de um pequeno município chamado Teresa Cristina, fundado às margens do Ivaí. Diziam os mais velhos que foi o primeiro modelo de cooperativismo implementado no país e inspirado em ideais do socialismo utópico de Charles Fourier.

Ao responder a carta três pensamentos não me deixavam: um deles, o diagnóstico não aceito que me veio à mente: doença de Huntington. Outro as próprias palavras de Marx: “Se a aparência e a essência das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária”.

Contudo o pensamento que mais me confortava é o de que o confronto da realidade com as utopias não pode destruí-las. Estas representam sonhos e realidades intangíveis que nos acalentam a alma.

 

 

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Festa da Colheita

 

Texto de autoria de Carlos Mendes Fontes Neto, engenheiro civil, Ponta Grossa.

Publicada no Jornal da Manhã em 08/06/2022, postada no Portal aRede em 08/06/2022.

Bem ali no Trevo do Tronco, indo de Ponta Grossa para Castro, entrando à direita, se chega à Colônia Terra Nova. Terra de gente imigrante que veio da Alemanha lá pelos anos 30 do século passado. Pouco à frente, pela estrada sem pavimento, ladeada em alguns pontos por pinheiros e mata ainda nativa e em outros por campos de plantação, existe um museu que mostra os primeiros anos da difícil vida de imigrante. Um pequeno museu que guarda muita história, com utensílios, mobília e equipamentos agrícolas do início da colonização.

E é ali, também, que se realiza todo ano a festa em agradecimento à boa colheita, a Erntedankfest. Ela inicia com missa na igreja situada no meio do campo, dedicada à Santa Terezinha, numa manhã de domingo do mês de maio, e segue com a procissão dos colonos em trajes típicos até o pequeno pavilhão montado ao lado do museu. É ali que um almoço típico alemão é servido aos participantes, em grandes mesas comunitárias, após a chegada do desfile dos tratores antigos preservados pelas famílias. E com as apresentações folclóricas do Sonnenstrahl, provando os Waffeln e as Apfelstrudel, percebemos que as tradições ancestrais são mantidas e valorizadas ali, principalmente pelas mulheres. Elas são a coluna de sustentação da identidade da colônia. E isso transparece desde a mais idosa até a mais jovem, característica de força herdada da mulher germânica que veio para o Novo Mundo. Poucos metros além, fica a casa das Maus, construída de madeira serrada manualmente no modelo que obedece aos padrões da terra-mãe, com área para depósito e maquinários no térreo, ampla cozinha no pavimento principal e os quartos na parte superior. E ali, ao redor de uma enorme mesa, palco de refeições que reuniam uma família numerosa, elas contam sobre a vida da colônia para os visitantes. Cuidam do museu, preservam as araucárias, e ainda mantêm a terra que produz a fartura, nem sempre fácil.  Se quedam como guardiãs de uma cultura que sedimentou a formação dos Campos Gerais junto a todos os outros povos que cruzaram o mar e aqui vieram construir suas vidas.

Se ainda se lembram da planície do Vale do Reno ou dos bosques e campos da Floresta Negra, não podem deixar de se admirar com a beleza que encontraram na Terra Nova.

 

Assim, lá pelas bandas de Castro, existe ainda uma terra com uma gente que canta “kein schöner Land in dieser Zeit als hier das unsere weit und breit” (Não há terra mais bonita nestes tempos aqui como a nossa, extensa e larga).

Emergência na costura

Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes , Professora de Português e Inglês, residente em Ponta Grossa.           Minha mãe nã...