tag:blogger.com,1999:blog-90087503392682083352024-03-28T20:29:29.392-07:00Crônicas dos Campos GeraisO projeto é realização da Academia de Letras dos Campos Gerais e parceiros. Visa estimular o relato escrito (crônicas) de vivências sobre a região dos Campos Gerais do Paraná. Os textos selecionados nesta quarta edição, que termina em setembro de 2024, serão publicados no quarto livro de crônicas. Vejam abaixo, no quadro à direita, as orientações para participar.Mário Sérgio de Melohttp://www.blogger.com/profile/13241546686296443748noreply@blogger.comBlogger232125tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-63026131360108178622024-03-25T06:36:00.000-07:002024-03-25T06:36:39.891-07:00Emergência na costura<p><i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de autoria de <b>Rosicler
Antoniácomi Alves Gomes</b>, Professora de Português e Inglês, residente em
Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> Minha mãe não perdia liquidação de
retalhos das Casas Reunidas, Casa dos Milagres, ou Casa Íris. Na minha
infância, os retalhos ficavam guardados em um baú, e, mais adiante no tempo, na
parte debaixo de uma estante que eu mesma comprei — depois de pagar as prestações
do meu primeiro relógio de pulso, e de minha cama com colchão de espuma (minha antiga
era cama de molas, já sem as molas, e o colchão de palhas). Cama, colchão e estante,
“tirei no crédito” nas Casas Blanc, onde eu já trabalhava como auxiliar do
auxiliar de contabilidade. Nunca me ocorrera que ter crédito na loja que me
dava emprego podia significar, nas entrelinhas, que eu não estava na lista
negra do Setor de Recursos Humanos...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eram
tão longos os dias e tão empoeirados os palcos das brincadeiras, na minha
infância! Com seis filhas e um filho, Jandira — minha mãe, minha costureira,
minha advogada em negociações com o pai, ou entreveros com as irmãs (ainda
conto, dia desses, os bullyings “inocentes” que me faziam) —, se virava com
trabalhos árduos, “malmente” auxiliada pelas irmãs mais velhas, lavando roupas
no tanque com água tirada do poço, assando grandes formadas de pães, cuidando
da horta. E ainda achava tempo para costurar nossas roupas, sempre em manequins
maiores e com tecidos resistentes, para durarem mais tempo e ainda ficarem
inteiros para a “segunda mão” das crianças mais novas. Cada uma das crianças
tinha duas ou três “mudas” de roupas, incluindo a “domingueira”. Mas “eram tão
longos os dias (...)”, que certa vez eu simplesmente não tinha roupa limpa para
ir à escola. O uniforme escolar daquela época não era mais que um avental
amarrado nas costas com um laço. Se eu aparecesse na escola apenas vestindo o
avental, seria um escândalo. Sem titubear, ela deixou as panelas no fogo aos
cuidados de uma das outras filhas, tirou do baú um retalho que dava para
costurar rapidamente um vestido com alças, com uma parte da costura
interrompida na altura da cintura, para que passasse facilmente pelos ombros,
sem precisar de botões ou zíper, com bainhas simples nas barras. Eu, ao lado, vestida
escandalosamente apenas com o avental sem amarrar o laço, mal cobrindo a
calcinha (milagrosamente parece que eu tinha uma calcinha limpa naquele
momento), esperando para enfiar o vestido e sair correndo pela Rua Franco
Grilo, em direção ao Grupo Escolar Jesus Divino Operário.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">Ah, terminei hoje de customizar uma
saia para servir à personagem Mirabel, com retalhos que também tenho
guardados...</span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-27273540080593828312024-03-18T05:02:00.000-07:002024-03-18T05:02:18.788-07:00Amor sobre rodas<p><i style="text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de autoria de <b>Sílvia
Maria Derbli Schafranski</b>, advogada e Mestre em Ciências Sociais pela UEPG,
residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">No aconchego do nosso lar, em uma noite tranquila, meu filho, com
olhos curiosos e mente inquisitiva, decidiu mergulhar em um dos capítulos mais
lindos da minha juventude. Sentados à bancada da cozinha, ele me olhou com um
sorriso jocoso e indagou-me:</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">"Mamãe, qual era o Uber que te buscava nas festas, quando
você era jovem?"</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Foi como abrir um baú empoeirado de lembranças. Um sorriso
nostálgico surgiu em meus lábios, enquanto eu rememorava os dias de outrora.</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">"Bem, filho, na verdade não tínhamos Uber naquela época. Mas
havia alguém muito melhor."</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">“Nos anos 90, quando as festas eram regadas à música alta, roupas
coloridas e um misto de ansiedade e excitação adolescentes, havia uma figura
que se destacava entre os jovens: meu pai. Com seu espírito jovial, ele
abraçava uma peculiar missão com uma dedicação quase sagrada.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">"Quem me levava e me trazia das festas durante toda minha
adolescência era o seu avô.”</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">"O vovô? Mas como ele conseguia te acompanhar na balada?”</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Eu ri com a inocência, e abriu-se uma janela para um passado
repleto de amor paternal.</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">"Bem, filho, seu avô não dirigia qualquer carro. Ele tinha
uma verdadeira carruagem, um gigante de metal que acomodava treze outras
meninas!", expliquei, vendo seu espanto.</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">"Treze outras garotas? Mas como cabiam?"</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">"Ah, isso era parte da mágica", respondi com olhos
brilhando de nostalgia. "Seu avô tinha um Landau, um carro grande e
espaçoso. Ele fazia questão de nos levar e nos devolver em segurança, mesmo que
isso significasse várias viagens pela cidade."</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Seus olhos brilhavam com curiosidade. "Seu avô era um homem
gentil e preocupado com o bem-estar das pessoas. Fazia-se sempre presente.
Ainda, tentava captar as nossas conversas e, quando chegava em casa, ele as
transmitia à sua avó”. Não era apenas um motorista, mas um observador atento,
um ouvinte discreto das confidências e segredos das garotas que transportava.</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Durante o trajeto, as conversas fluíam. Falávamos sobre paqueras,
expectativas para a noite, dilemas adolescentes e sonhos futuros. Ele
geralmente permanecia em silêncio, mas, ocasionalmente, lançava um comentário
sábio ou uma piada bem-humorada que arrancava risos.</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Lembro-me da sensação de segurança e conforto, do jeito carinhoso
com que ele nos tratava e da sabedoria tácita que emanava de sua presença.</span><o:p></o:p></p>
<p class="Standarduser" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Com esse ritual contínuo, compreendi que o amor verdadeiro não se
traduz apenas em palavras, mas em atitudes incondicionais de sacrifícios,
devoção, proteção, amizade e responsabilidade.</span><o:p></o:p></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-16608475964888555002024-03-11T10:01:00.000-07:002024-03-11T10:04:46.050-07:00Metáfora do moinho<p><i style="text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de autoria de <b>Sílvia
Maria Derbli Schafranski</b>, advogada e Mestre em Ciências Sociais pela UEPG,
residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm -0.05pt 0cm 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">No coração da pequena
cidade de Carambeí, encravada no interior do Paraná, ergue-se majestoso o
imponente moinho de vento, um dos símbolos mais marcantes da região.</span><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm -0.05pt 0cm 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Elevam-se as grandes pás
giratórias e estrutura de madeira robusta. Não apenas um marco histórico, é
também um ponto de referência para moradores e visitantes.</span><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm -0.05pt 0cm 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Naquela tarde
ensolarada, enquanto o movimento turístico se intensificava, algo incomum
acontecia. Entre os turistas tirando fotos e os moradores aproveitando o dia de
folga, uma figura se esgueirava pelas sombras, tentando passar despercebida.</span><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm -0.05pt 0cm 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Era Ariel, um jovem
inquieto em busca de um momento de paz e introspecção. Envolto pelo ruído da
cidade e as conversas animadas dos visitantes, seus pensamentos pareciam
barulhentos demais: – O moinho, erguido como um guardião solene na vastidão da
paisagem, é mais do que uma estrutura de madeira que desafia o vento. Ele é um
símbolo poderoso, um eco sussurrante da jornada humana através das estações da
vida, pensou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm -0.05pt 0cm 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Em meio aos seus
pensamentos, ouviu um guia gritar: – Vejam senhores esse moinho, com sua
capacidade de transformar o vento em energia, nos ensina a arte da adaptação.
Assim como ele ajusta as velas para aproveitar ao máximo cada rajada, nós
também aprendemos a ajustar nossas velas da alma, navegando com coragem e
sabedoria através das mudanças que a vida nos impõe.</span><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm -0.05pt 0cm 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Ariel imediatamente
pensou: – À medida que as estações passam e os anos fluem como rios sinuosos, o
moinho permanece como um farol silencioso de esperança e renovação. Ele nos
lembra que, mesmo em momentos sombrios, há sempre a promessa de uma nova
aurora, um novo começo esperando para nascer.</span><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm -0.05pt 0cm 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Enquanto o sol se punha
lentamente, Ariel finalmente emergiu do moinho, renovado e revitalizado. Ao
sair, trouxe consigo um pouco da calma e da serenidade que encontrara naquele
lugar tão especial.</span><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm -0.05pt 0cm 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Quando contemplou o
moinho, viu não apenas uma estrutura de madeira, mas o reflexo da própria
jornada. Metaforicamente se imaginou como suas pás, girando, impulsionado pela
força dos ventos da mudança. Descobriu que cada revés, cada desafio, é apenas
mais uma</span><span style="color: #0d0d0d; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">oportunidade de crescer, de aprender, e sedimentar verdadeiros
valores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm -0.05pt 0cm 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Para Ariel, o moinho se
tornou um símbolo de resiliência. Entendeu que somos capazes de transformar as
tempestades em calmarias, assim como o moinho converte o vento em energia.</span><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm -0.05pt 0cm 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">E assim seguiu seu
caminho, com propósito de voar alto e livre, como as pás de um moinho, em
direção aos sonhos mais audaciosos.<o:p></o:p></span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-28880156688882460412024-03-04T03:55:00.000-08:002024-03-04T03:55:44.215-08:00A camiseta e a vaca<p><i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de autoria de <b>Wilson Czerski</b>, </span></i><span style="background: white; color: #222222; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; text-align: justify;">militar da Aeronáutica, escritor e jornalista aposentado,
natural de Ponta Grossa e residente em Curitiba</span><i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span> </span>Ainda início da década de 1990. Um
cunhado trabalhava na Indústria Wagner. Por algum laço especial de amizade dele
com a direção, minha mãe e o padrasto foram contratados para cuidar de uma
chácara de um dos gerentes, localizada na Colônia Dona Luiza.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Em visita
a Ponta Grossa, num domingo de verão, fomos, minha família e a do cunhado,
passar o dia na tal chácara. A casa em que minha mãe estava instalada não era
muito grande, mas o suficiente para duas pessoas morarem como caseiros. As
cercas de arame delimitavam a propriedade, mas não havia separação entre a casa
e uma área de campo que se estendia para todos os lados por algumas centenas de
metros. Outros detalhes não me chamaram a atenção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O fato
é que, enquanto aguardávamos o almoço ser servido, adultos e crianças se
envolveram em uma brincadeira com bola. Devido ao sol forte, tirei a camiseta
regata e a pendurei em um arame utilizado como varal. Este foi o início de uma
tragédia afetiva.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Embora
fosse uma camiseta tricolor (azul com duas listas, uma branca e outra vermelha
nas laterais), portanto, em desacordo com as minhas preferências clubísticas,
eu a tinha por predileta. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Quando
a procurei para vesti-la para sentar-me à mesa, dei-me conta de tê-la deixado
lá fora e, ao sair para buscá-la, deparei-me com uma cena inusitada e
alarmante. Uma vaca, simplesmente, estava a mastigar a dita cuja. Desesperei-me
não só porque gostava muito dela, a camiseta e não a vaca, mas porque
precisaria dela para poder dirigir de volta. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Confesso
que minhas relações com os bovinos sempre foram muito discretas e nossa
intimidade limitava-se a alguns olhares desconfiados trocados a uma distância
segura. Foi, então, que eu me equipei de toda a coragem que jamais suspeitei
possuir e avancei em direção à vaca alvinegra e, entre uma mastigada e outra,
consegui arrancar a camiseta de sua boca.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ao
fazê-lo, uma mistura de sentimentos tomou conta de mim. Tristeza por constatar
os estragos causados à preciosa peça de vestuário. Ela sofrera uma traumática
transformação. Tomara-se de uma cor diferente decorrente do suco de grama.
Estava mascada, gosmenta e quente, formando uma pasta heterogênea de tecido,
grama e baba do ruminante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Porém,
não pude deixar de exibir à rival um ar de triunfo por ter recuperado o meu
pertence.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: left;">Lavei a
camiseta – ou o que sobrou dela – sob muitas gargalhadas e enquanto secava – em
outro varal –, saboreamos uma peixada fantástica de taraíras como dizemos nós,
ponta-grossenses, pescadas ali próximo, no rio Tibagi.</span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-36495554460909173292024-02-26T07:10:00.000-08:002024-02-26T07:10:42.436-08:00Costumes, fins<p><i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Texto de autoria de <b>Luiz
Murilo Verussa Ramalho</b>, servidor do Ministério Público Estadual, residente
em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Quando a boca imponderável
do destino sopra as famílias espalhando mapas afora os farelos que são os
seus indivíduos, tudo parece ser o fim, ter cor de fim, o odor o sabor o
sombreado do fim, mas é somente o começo de algo indomável que é, também,
destino.</span></span><span class="eop"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Ao ler neste espaço a
crônica “Evolução de Costumes”, na qual a Sueli aborda os hábitos que as
diferentes gerações de sua família tinham no arrumar a mesa, me lembrei de que
a minha também punha à mesa hábitos que merecem registro, embora numa
perspectiva outra.</span></span><span class="eop"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Consta do anedotário que
tios-avós paternos meus e outros antepassados – tão mais remotos que o direito
civil nem nominou os parentescos – foram pistoleiros na Paraíba,
presumivelmente na primeira metade do século que findou. Duas das reses – o pai
de meu pai e um irmão mais velho – desgarraram do clã e, se afastando das
agruras locais (quando os patriarcas levavam a prole ao circo, distribuíam
revólveres aos rapazinhos púberes, reunidos em torno da mesa, para se defenderem
das famílias contrárias) se instalaram inicialmente no Estado de São Paulo e
depois no Paraná. Meu tio-avô se estabeleceu como próspero dono de
supermercado; meu avô, que gostava de mim e eu dele (com melhores razões agora,
como se verá), metamorfoseado em gaiteiro lendário no nosso estado, não se fez
ouvir pela Fortuna e faleceu precocemente como despretensioso alfaiate (o que
houve com a gaita?). Unia os irmãos não serem fugitivos, por não deixarem
delitos para trás, podendo fazer de alma leve o muito ou pouco que fizeram, sem
nada dever aos tribunais. O que entristecia o mais velho, refletindo sobre a
travessia próxima, era não ver a Copa de 94, que logo vinha e Romário colocou
no bolso.</span></span><span class="eop"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Só uma vez, um dos que
ficaram veio mapa abaixo para visitá-los. Idoso, enfermo, completamente só,
pediu a meu pai que o acompanhasse numa consulta. Na hora de o médico
auscultá-lo, meu pai lhes deu as costas, para guardar privacidade, quando ouviu
o doutor gritar horrendamente. Ao virar-se, descobriu que seu tio tinha o torso
tomado pelos projéteis que sua magreza acolhera em décadas de violência. “Eu
mais novo gostava muito de umas feixxtas”, riu entredentes o parente, que pouco
viveu depois da cena.</span></span><span class="eop"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">O que este tio pensaria de
minha geração, ou mais especificamente de mim, que sem ter levado nenhum tiro
em festas faço pouco delas, e ponho para fora sem matá-la uma lagartixa que
volta e meia me aparece em casa?</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Penso eu que certos costumes, realmente, merecem ter
fim.</span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-51293886188615242802024-02-19T05:50:00.000-08:002024-02-19T05:50:00.003-08:00Cidade<p><i style="text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de autoria de <b>Ingrid
Aparecida Ditzel Felchak</b>, professora aposentada, escritora e fotógrafa,
natural de Prudentópolis e residente em Ivaí.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-top: 12.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Caminhei na direção do povoado. Os pés
vagarosos eram picados pelas grimpas escondidas entre o capim. Os Campos Gerais
estavam cobertos pela geada. O vento impiedoso rosou minha face e o chapéu de
palha alçou voo frenético além das araucárias. A beleza encantou os olhos. Onde
poderia estar?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-top: 12.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> Casas de
madeira pintavam a paisagem com cores variadas. Nos telhados, a fumaça dançava
enquanto saia das chaminés. Aproximei-me... Crianças brincavam de
esconde-esconde nas ruas de terra. Pessoas passavam apressadas carregando
cestos de mantimentos ou conduzindo animais. Nas áreas e cercas, roupas
secavam. Ainda posso sentir o cheiro de pão assado. Acordei.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-top: 12.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: left;">Olhei pela vidraça
respingada de chuva. As araucárias cederam lugar ao concreto e o povoado à
cidade. Uma metamorfose orquestrada pelo progresso. Na calçada, o corre-corre
dos transeuntes. Agora não há mais silêncio. Buzinas fazem queixas em meio ao
congestionamento dos automóveis. Observo o movimento. Duzentos anos entre o
sonho e a realidade. Olho o relógio na cabeceira. Levanto apressado em uma luta
frenética pela sobrevivência cotidiana. Percorro a distância entre a praça e o
colégio. Os alunos estão à espera da primeira aula do dia.</span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com26tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-53790901952693010412024-02-12T04:42:00.000-08:002024-02-12T04:42:19.329-08:00Evolução de costumes<p><i style="text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de autoria de <b>Sueli
Maria Buss Fernandes</b>, professora aposentada, residente em Ponta Grossa.</span></i></p><p style="background: white; text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Os
costumes mudam de acordo com a época, com o nível social, cultural ou econômico
de uma família. Lembro bem dos costumes da minha infância, trazidos por meus pais
que, por sua vez, os herdaram de suas famílias. Meus avós de ambos os lados
eram muito religiosos, frequentavam missas, novenas, participavam ativamente
das atividades da igreja São José. Chamávamos a Vó Maria, da Barão de Capanema,
de “Vó de Baixo” e a Vó Luísa, da Prefeito Brasílio Ribas, de “Vó de Cima”,
tomando por base a localização da nossa casa na Júlia Lopes. Minha mãe não
seguiu o mesmo esquema religioso. Tornou-se mais liberal depois do casamento.
Já independente da mãe, vivia segundo suas regras.</span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Meus
avós arrumavam a mesa para as refeições sem preocupação com louças ou talheres.
Diziam que ninguém come o prato e que o importante era o alimento. O café era
adoçado no bule, um caneco para cada pessoa, a manteiga com uma faca dentro do
pote, compartilhada por todos. O mesmo acontecia com a geleia. A nata do leite
fervido afastada com um pequeno sopro antes de adicioná-lo ao café. Simples
assim, trivial.</span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Na minha
casa, mesmo na humildade, a relação com o visual e o conforto era mais
estreita, sem nenhuma conexão com luxo, sofisticação ou requinte. O café
era servido num bule, porém amargo. Para tanto minha mãe abandonou os canecos,
adotou xícaras, pires, açucareiro e colherzinhas. Facas individuais para cortar
e preparar o pão, garfinho para o bolo e pratinhos de sobremesa onde colocar o
alimento evitando deitá-lo sobre a toalha. Aumento de louça na pia, porém mais
conforto e higiene.</span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Enquanto
meus avós e tias ainda usavam toalhas de plástico pela praticidade com as
crianças, lá em casa se usava toalha de tecido e guardanapos. Aprendemos desde
criança a usar talheres básicos, não lamber a colherzinha do café e não apoiar
os cotovelos na mesa. Os copos eram do tipo americano e taças só no Ano Novo
para o brinde com frisante.
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Agora que conheço,
embora não use, talher para peixe, taças para água, vinho tinto, vinho branco,
enfileiradas, fico imaginando o que diriam meus avós sobre isso. Com certeza
diriam: “Que frescura”! “Luxo não enche o bucho”, ainda com a visão antiquada
que não incluía boas maneiras. Mesmo assim sinto saudade das cucas de uva da Vó
de Cima que eu segurava com a mão e ia mordendo. A outra segurava o caneco de
café já adoçado, sem frescura.</span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-21158269975372058582024-02-05T04:33:00.000-08:002024-02-05T04:33:23.342-08:00Causa mortis<p><i style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10.0pt;">Texto de autoria de <b>Mário
Francisco Oberst Pavelec</b>, técnico em agropecuária, natural de Palmeira,
residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Já
contei algumas das “aprontações” do pequeno piá que habitou (ou habita?) em
mim. Passamos pela brabeza, as aventuras do pescador, o deslumbre cinematográfico
no Cine Inajá, as tampinhas no Júlio Teodorico, as peripécias no campinho de
saibro e os banhos refrescantes no Recanto dos Papagaios. Desta vez, o pequeno
menino atacou de médico legista.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Alguns
de nossos queridos parentes que transpuseram o plano da existência física para
a existência espiritual estão descansando no Cemitério da Colônia Dona Luiza,
inclusive meu pai. Não sei ao certo se meu destino final será lá também, mas,
desde muito pequeno, por um motivo ou outro, frequento aquele campo santo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Provavelmente
foi no sepultamento de algum parente, ou em uma das idas até lá para verificar
as condições da carneira da família, mas, estava este moleque com seus familiares
já de saída, de mãos dadas com sua mãe, muito próximo ao portão principal, e,
virando o olhar para sua genitora, dispara:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">—
Eu sei do que este homem morreu! — apontando para um túmulo grande, coberto de
granito preto.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">—
De quê? — pergunta minha mãe, bem curiosa.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">—
Cerveja! — rebato eu de bate-pronto.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">—
Como assim? <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">—
Olha ali, tem a marca da Antarctica no túmulo dele. Morreu de cerveja —
sentencio.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Uma
Estrela de Davi, aquela de seis pontas, enorme, ocupava grande parte da lápide,
ao lado do nome do cidadão. Certamente um judeu ali sepultado, resguardado
pelos seus símbolos religiosos e sagrados. Esta estrela também era, na época, o
símbolo de muitas cervejarias, dentre elas a da Antarctica, que tinha sua fabricação
em Ponta Grossa pela Cervejaria Adriática, no final da Avenida Vicente Machado.
<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Para
as cervejarias, a estrela de seis pontas representava o símbolo da alquimia,
posto que, por muito tempo, a ciência cervejeira era um mistério fortemente
guardado. O pequeno moleque sempre via esse símbolo nos rótulos que circulavam
em sua casa. Ligar a cerveja ao estampado na lápide daquele senhor não foi
difícil. <i>Causa mortis</i>: cerveja.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Me
perdoem os judeus, mas eu tinha, no máximo, uns cinco anos de idade. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Hoje em dia, quando abro uma,
geladinha, tomo todo o cuidado para esta não seja a minha <i>causa mortis</i>.</span>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-56918716337919509372024-01-29T04:23:00.000-08:002024-01-29T04:23:30.033-08:00O dia em que o Operário descansou<p><i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Texto de autoria de <b>Luiz
Murilo Verussa Ramalho</b>, servidor do Ministério Público Estadual, residente
em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Um dia, o conhecimento
humano vai desvendar o conhecimento humano, e uma das coisas que faremos vai
ser explicar como e por que fazemos o que fazemos. Até que isso não aconteça, e
até que a paciência do confuso leitor não o abandone e me abandone, ficaremos
com o enigma e o mistério.</span></span><span class="eop"><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Poucos anos atrás,
recém-morador do bairro de Olarias, acordei mais cedo do que o muito cedo de
costume, com explosões estrugindo em vários rumos. Após alguns minutos de
impasse sobre se tratava-se do Juízo Final (sendo o anjo trombeteiro uma
espécie de animador de rodeio) ou um simples mega assalto na agência do BB mais
próxima, o olho do bom senso piscou na noite alta com a explicação: estava
hospedado no hotel ao lado um time de futebol, e os torcedores da equipe local
vieram recepcioná-lo com rojões na esperança de que os atletas não descansassem
e entrassem em campo com a perna dura.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Não sei se o parágrafo
inicial deste texto assenta bem com o que veio após, mas os camaradas – aliás,
autointulados operarianos – caem da cama na calada (ops) da noite pra acordar
uma vizinhança inteira e, principalmente, outros indivíduos que se supõe
estejam habituados ao alarido dos jogos e a tais artimanhas, além de disporem
de orçamento para uns tampões de ouvidos que calam até a voz das neuroses
alheias e respectivas carências afetivas e do que fazer.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Na melhor tradição do
esporte brasileiro, o empenho da torcida não encontrou seu equivalente em campo
e o time acabou rebaixado. No ano seguinte, silêncio tumular em Olarias.
Decerto, o Operário, aquele que trabalha em Oficinas, precisava descansar.</span></span><span style="font-family: "Arial",sans-serif;"><o:p></o:p></span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-89430328559819819292024-01-22T05:57:00.000-08:002024-01-22T05:57:19.441-08:00Fundo do poço<p><i style="text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de
autoria de <b>Sueli Maria Buss Fernandes</b>, professora aposentada,
residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">A
vida já foi muito mais difícil do que é hoje, quando não havia água potável
encanada tampouco saneamento básico
para as populações de periferia na cidade. Desafortunadamente, algumas pessoas
ainda convivem com a falta desses serviços imprescindíveis à saúde.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Nasci
e me tornei adulta em Ponta Grossa, no bairro Órfãs, vivendo com água de poço
artesiano de onde o líquido precioso era retirado balde por balde amarrado a
uma corda. Uma manivela fazia a rotação de um rolo de madeira que baixava o
balde até a água e depois de cheio, através da mesma manivela, subiam a corda e
a caçamba.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Pelas
mãos do destino um dia fui morar em Castro e a situação da água seria a mesma
que vivi na infância, porém o poço ainda não existia. Iniciamos a perfuração
que naquele terreno, por sua constituição, não facilitava alcançar o lençol
freático. Um profissional encontrou o melhor lugar para a perfuração usando a
técnica rudimentar do galho de pessegueiro. O poço foi sendo perfurado, mas só
encontravam pedras. O supervisor da obra decidiu usar dinamite para retirá-las
e facilitar o acesso à água. Os vizinhos foram alertados, todos se fecharam em
suas casas e a detonação ocorreu. O estrondo enfureceu um enxame de vespas
fazendo com que se alvoroçassem e atacassem. Onde estariam elas que nunca foram
vistas antes?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">A
obra era executada por três operários: dois na superfície içando os baldes
cheios de terra e pedras e os devolviam vazios para o colega que se encontrava
no buraco. No dia da detonação todos estavam na superfície, distanciaram-se o
suficiente por segurança e aguardavam. No momento do ataque das vespas, todos
buscaram abrigo e um deles adentrou ao buraco julgando ser o melhor
esconderijo. Contudo as vespas atacaram-no mesmo no subsolo. Gritando,
defendia-se dos ferrões como podia. O vizinho ao lado criava galinhas.
Assustado convocou os bombeiros para atender a situação criada pelo explosivo e
constataram a perda de todas as galinhas. O poceiro foi atendido no PS, sem
gravidade. Meu marido voltava do trabalho naquele momento e de longe avistou o carro
dos bombeiros. Logo imaginou um incêndio em nossa casa. Um grande susto! O
giroflex colaborou para que o evento se tornasse cinematográfico no bairro
Santa Cruz. Literalmente chegamos ao fundo do poço. Desistimos de novas
tentativas. Mudamos de endereço sem jamais saber se alguém tomou um gole de
água daquele poço que marcou nossa história na cidade.<o:p></o:p></span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-68111562060122848992024-01-22T05:55:00.000-08:002024-01-22T05:55:10.533-08:00Ataque dos quatis<p><i style="text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de autoria de <b>Camila
Pasetto Kiapuchinski</b>, bacharel em Serviço Social, empresária na área de
alimentos, residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Parque Estadual de Vila
Velha, excelente opção para o final de semana. Contato com o bioma da Mata Atlântica
e com os famosos arenitos esculpidos pela natureza.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Mas pasmem, mesmo diante
de tantas belezas, a primeira lembrança que me vem em mente não remete a sua
grandiosidade, tampouco com a infeliz possibilidade da época, de subir nos
arenitos. Minha principal memória deste parque se refere aos temíveis,
carnívoros, farejadores, ladrões de comida. Os quatis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Em minha primeira visita ao
parque, há mais de 20 anos, era permitido fazer piquenique no local. Eu estava
muito animada com o passeio da escola primária. Carregava de forma zelosa minha
lancheira, contendo o precioso lanche de datas especiais: uma lata de
refrigerante e um pacote de bolacha recheada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eis que me sento em uma
mureta para saborear o momento (sim, o lanche era o ponto alto do passeio).
Deixo a bolacha ao lado, para sentir o aguar de minha boca sendo tocado pela
doçura dos gases daquela lata.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Já pensando na crocância
que seguiria, me voltei para pegar o pacote. Ele estava a centímetros, porém,
sob posse de um quati e logo atrás dele havia muitos outros como ele, sedentos
pela comida dos humanos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Levantei assustadíssima,
sem a chance de recuperar ao menos a lata, saqueada na sequência. Fiquei sem
lanche e passei o resto da tarde com medo de um ataque feroz, exigindo mais
daquilo que me arrancaram minutos antes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Este ano voltei ao
parque. Fui com receio, confesso, mas me surpreendi com todas as mudanças. No
que se refere à comida, é proibido entrar com alimentos e/ou bebidas em
qualquer tipo de embalagem, exceto em casos de famílias com bebês e pessoas com
dietas restritivas; alimentar-se e consumir bebidas alcoólicas nas trilhas;
jogar lixo ou restos de comida no chão e sobretudo alimentar os animais. O
descumprimento destas e demais regras te coloca sob pena de multa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">E o reencontro com os
bichinhos? Este não aconteceu. Pela estrutura e cuidados atuais, creio que
estavam na mata se alimentando do que a natureza a eles provê. Estavam em
segurança.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Contudo, tive a
oportunidade de construir uma nova lembrança do local. Meu filho, seguindo pela
trilha, olhando a mata, habitat dos quatis, dizendo: “Uau, como a natureza é
linda!”<o:p></o:p></span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-19699729142189896642024-01-15T04:12:00.000-08:002024-01-16T09:24:26.147-08:00Natalândia<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-right: -0.05pt; text-align: justify;"><i><span style="font-size: 10pt;">Texto de autoria de <b>Mário
Francisco Oberst Pavelec</b>, técnico em agropecuária, natural de Palmeira,
residente em Ponta Grossa<span style="background: white; color: #222222;">.<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Sempre
ficamos mais nostálgicos nesta época com as festas que, teoricamente, são para
celebrar o nascimento de Jesus. Mas, parece inevitável a compra de presentes,
principalmente para as crianças.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Nos
antigos natais de minha existência, vínhamos de Palmeira para passarmos esses
momentos na casa de minha tia Haydêe, minha madrinha e irmã de meu pai. Na rua Brasil
Pinheiro, quase na Balduíno, uma casa enorme, toda em madeira, com um enorme
terreno que abrigava muito bem a enorme família Pavelec. Vinham tios e primos
de todos os cantos, Curitiba, Rebouças, fora os que moravam nas imediações e
não precisavam dormir fora de casa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Biscoitos
de mel, pão caseiro frito na chapa do fogão a lenha, comida farta o dia todo,
primos correndo e brincando por todos os lados, crianças dormindo no fantasmagórico
sótão, muito churrasco, e na noite da véspera de Natal, um culto e o Papai Noel
com muitos presentes para as crianças e varas de marmelo para as mamães. Ele
batia fortemente na porta da frente da casa, fazendo os pequenos tremerem de
excitação. Não sei bem o motivo, mas sempre um de nossos tios sumia nessa hora.
(Contém ironia).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Todo
ano ganhávamos meias, gaitas de boca, carrinhos e bonecas de plástico, alguns
outros mimos dos tios e tias. Mas o presente sempre mais aguardado era aquele
que tínhamos escolhido para que nos fosse dado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Na
rua Dr. Paula Xavier, esquina com a Dr. Colares, existia o paraíso dos pequeninos:
Brinquedolândia. Era uma imensa loja especializada nos desejos infantis. Lá
podíamos encontrar de tudo, qualquer tipo de brinquedo disponível na época.
Algumas vezes éramos levados ao recinto só para olhar, diziam nossos pais.
Rondávamos aqueles corredores com uma atenção redobrada para podermos encontrar
aquele presente que faria nossa alegria no Natal. Sinalizávamos com vigor os
nossos desejos e depois éramos retirados da loja e, não sei como, os brinquedos
apareciam magicamente nas mãos do Papai Noel na véspera do Natal. (Ironia
também).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Essa
loja, cujo prédio ainda está com a mesma fachada e uma pintura muito semelhante,
segundo minha memória, eu também a chamava de Natalândia, pois era praticamente
uma vez ao ano que nos era dado o prazer de lá adentrar, justamente nas
vésperas do Natal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Depois
cresci um pouco mais, descobri as descobertas do Natal, mas ainda descia do
alto da Balduíno até lá, de bicicleta, adolescente, para comprar meus amados </span><i style="text-align: left;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Matchbox</span></i><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%; text-indent: 35.4pt;">, que ainda os coleciono. Mas
sempre circulava os corredores com muita atenção.</span><span style="text-indent: 35.4pt;"> </span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-81177904181015471902023-12-26T06:46:00.000-08:002023-12-26T06:46:35.243-08:00Fim de ano<p><i style="text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de
autoria de <b>Sueli Maria Buss Fernandes</b>, professora aposentada,
residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Foi
dada a largada para a corrida de dezembro! Não, não me refiro à São Silvestre,
competição de rua que se realiza anualmente no Brasil, em 31 de dezembro.
Refiro-me àquelas corridas insanas nas semanas que antecedem o Natal. A ânsia
na busca por presentes transforma o calçadão de Ponta Grossa num formigueiro
humano. Todos buscando presentes que alegrem familiares e amigos. Doce ilusão!
Isto se confirma quando o comércio reserva a semana seguinte à troca do
presente que não serviu ou que, principalmente, não agradou. O amigo-secreto é
um caso à parte. Tem o grupo da empresa, da universidade, do Pilates, da
igreja. Aí entram em cena as lembrancinhas e a caminhada se alonga até o
Paraguaizinho. Ninguém fica satisfeito com o seu presente e, malgrado este
fato, não entendo o porquê de repetirem essa prática que sabidamente causa
mal-estar? Já notaram o sorriso amarelo de quem quer jogar o presente no
momento em que abre o pacote? A corrida começa a cansar, mas ainda segue pelas
lojas de decorações natalinas para ornamentar a mesa, a guirlanda da porta, a
árvore iluminada...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Atualle</i>, desce, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lojão 1,99</i>,
sobe...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">E
a ceia? Meu Deus!! Lista de ingredientes para prepará-la em casa, orçamentos
espalhados pela mesa em busca do melhor preço caso optem por comprá-la pronta.
Se for do tipo americano, onde cada família contribui com um prato e com as
bebidas, às vezes há descontentamento porque um não come peru, outro não gosta
de pernil, bacalhau é adorado por uns e odiado por outros. Coloco passas no
arroz? Arrisco colocar maçã picadinha na maionese? E na farofa, vai azeitona ou
não? Haja paciência, força e coragem! Desde a entrada até a sobremesa são as
mulheres que programam e passam pelo desgaste causado por uma festa de fim de
ano em casa. Aos homens cabe a facilidade de fazer um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pix</i> contribuindo na divisão de gastos e na prazerosa compra de
caixas de cerveja e alcatra para o churrasco do dia seguinte. O churrasco de
alcatra, nosso prato típico, é complementado pelas sobras da véspera, já
requentadas algumas vezes, o popular “já te vi”. O chester é uma delas. Um
presente de última hora e mais uma corridinha até o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tozetto</i> pegar, talvez, a última garrafa de vinho <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Casillero del Diablo</i>, para um primo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Os
participantes da São Silvestre correm por um troféu, mas uma corredora de
dezembro só deseja um sofá onde possa descansar as pernas. E o aniversário era
de quem, mesmo?<o:p></o:p></span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-84422972657617823012023-12-18T08:07:00.000-08:002023-12-18T08:07:57.173-08:00Manquinho<p><i style="text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de
autoria de <b>Sueli Maria Buss Fernandes</b>, professora aposentada,
residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Desconheço
criança, principalmente menino, que não goste de colher frutas do pé, de preferência
em terreno alheio. É uma aventura tão deliciosa quanto as próprias frutas. Um
pomar produtivo aguça a vontade de provar daquela fruta, nem que seja azeda. Os
laranjais da minha infância em terrenos urbanos eram “mato” como se dizia
quando se referiam à quantidade. Além de laranjas havia também ameixa, maçã,
pera, araçá, goiaba em muitos quintais. A rua da minha casa era cortada por uma
valeta onde corria água de um arroio e por ali só havia passagem para pedestres.
O fundo daquela valeta era de saibro vermelho com o qual os meninos faziam
bolinhas, colocavam ao sol para secar e usavam-nas como projéteis de seus
estilingues para atingir passarinhos com os quais disputavam as frutas. O
arroio nascia dentro do terreno de um senhor de meia idade que era invadido
quase que diariamente pelos meninos em busca de frutas no pé. Obviamente ele
detestava a invasão das crianças a seus domínios, o qual acessavam através de
uma cerca de arame farpado. O terreno, com a casa da família, era em frente ao
Açougue dos Carraro, na Rua Anita Garibaldi, e se estendia por dois quarteirões
até a minha rua. Pelas dimensões da propriedade o dono não dava conta de
enxotar os invasores pois eles se espalhavam por entre as frutíferas e, além do
mais, o senhor tinha um problema na perna e mancava, daí o apelido “Manquinho”.
Usava uma espingarda que dava tiros de sal nas nádegas da piazada, mas em vão,
eles sempre voltavam.<b><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Numa
época de peras os meninos invadiram o terreno e o senhor soltou seus cachorros.
Rápidos como um raio, dois meninos subiram numa pereira e ficaram lá até o
anoitecer, pondo à prova a paciência do Manquinho. Impotentes, cães e dono se
retiraram desolados.<b><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Certamente
as famílias não tinham ciência desses fatos até que os pais de um deles
souberam das travessuras do filho e de seus colegas. O Manquinho se postou numa
posição estratégica e agarrou um menino pela camiseta. Perguntou: - Você gosta
muito de pera, certo? Então vou te dar a maior de todas. Em seguida entalou uma
pera gigante na boca do piá deslocando seu maxilar. Chegando em casa, olhos
arregalados, quase sem respirar, antes de uma boa bronca, a pera foi retirada
aos pedacinhos com um canivete para liberar sua boca e encaixar novamente o
maxilar. Proibidos pelos pais e com medo das consequências, as incursões pela
dita propriedade diminuíram até cessarem definitivamente.<o:p></o:p></span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-17952400009445188672023-12-11T06:04:00.000-08:002023-12-11T06:04:34.408-08:00Carnaval imaginário<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de autoria
de <b>Nery Aparecido Assunção</b>, escritor, historiador, funcionário da
Prefeitura de Tibagi, diretor do Museu Histórico Desembargador Edmundo Mercer
Júnior.</span></i><b><span style="font-family: "Arial",sans-serif;"> </span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">A cidade de Tibagi repousa em
silêncio no sábado à tarde, feriado de carnaval do ano de 1910, apenas pássaros
a cantar e, de súbito, o trote de cavalos pelas ruas, gritos e agitação que
despertam os moradores em suas residências na praça central, que perguntam
curiosos: o que está acontecendo na
praça? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Senhor não ouviu falar do
cantor que está na cidade, Manoel Evêncio, conhecido como “Cadete”? Dizem que
ele gosta de carnaval e resolveu convidar algumas moças da cidade para desfilar
em um “bonde” montado sobre uma carroça, desfile conhecido como corso, ideia
que ele trouxe quando esteve no Rio de Janeiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Será
que vai desfilar todos os dias de carnaval? Pois é! Sei que ele organizou com ajuda de algumas
pessoas, parece que até o prefeito gostou da ideia e autorizou-o a promover o
desfile. Tem muita gente no desfile, carroças decoradas e mascarados a cavalo.
Como você ficou sabendo do corso? Na
sessão de cinema no domingo passado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Estamos
achando que o Cadete quer promover uma grande festa aqui na cidade, que seria
bom! O primeiro movimento de carnaval de Tibagi.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Pronto,
acabou a paz em Tibagi! Mas, mulher, pense no lado bom: com o movimento, o
comércio vai melhorar, até na pensão do Senhor Nicanor vai ter movimento de
hospedagem, os garimpeiros vão gastar dinheiro na festa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Eu
imagino uma tenda de circo montada na praça, podemos participar da festa
vendendo nossos quitutes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Calma,
acho melhor irem se divertir nos clubes.
Clube? Sim, poderiam alugar algum
salão e fazer a festa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Imaginem a ideia do Cadete:
colocar nossa cidade, conhecida como “Tibagi, Terra dos Diamantes”, para “cidade do carnaval”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Mas vamos dar uma pausa na imaginação
e ver o tal corso do Cadete passar com suas princesas, o cantor cantando
marchinhas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Gostei
dessa ideia do corso no carnaval, imaginem um desfile com batuque, convidar o
pessoal do grupo dos garimpeiros para desfilar, e a banda do senhor José Machado
para desfilar junto, poderíamos encerrar o desfile no meio da praça! Tá, entendi, na tenda do circo? Tô imaginando a banda do Maestro Machado
tocando na tenda para o povo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Uma
imaginação, a realidade não muito distante, pois a ideia do Cadete e moradores
da praça se concretiza no ano de 1999, quando uma tenda de circo é montada na
praça e tem início uma nova fase do carnaval de Tibagi, onde milhares de
pessoas se divertem.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Cadete não
imaginava a evolução do carnaval, mas eternizou seu nome na história da maior
festa popular dos Campos Gerais</span><span style="text-align: left;"> </span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-78428072007934034552023-12-11T06:01:00.000-08:002023-12-11T06:01:12.123-08:00Tempos Mágicos<p><i style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%;">Texto
de autoria de <b>Isabel Regina Nascimento</b>, escritora, Policial Civil aposentada</span></i><i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%;">, residente
em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Nos dias em que a juventude pulsava com energia
incontrolável, Ponta Grossa transformava-se em um turbilhão de emoções durante
a tradicional feira agropecuária que acontecia no antigo colégio agrícola. Era
um evento que despertava saudades mesmo antes de terminar, pois era encontro de
gerações marcado por shows inesquecíveis, risos compartilhados e corações
apaixonados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Os shows eram o ponto alto da festa. Artistas
famosos da época subiam ao palco, transformando o ambiente em um mar de euforia
e música, a multidão vibrava em uníssono, perdendo-se nas melodias que ecoavam
pelo ar, a juventude dançava e cantava celebrando a vida, e as lembranças
desses momentos especiais ficaram gravadas na memória para sempre.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Entre amigos, as paqueras eram como borboletas
flutuando no ar. Olhares furtivos e sorrisos tímidos abriam portas para
histórias de amor e amizade. O parque de diversão ganhava um brilho a mais
quando os grupos se aventuravam nos brinquedos, como chapéu mexicano, chicote e
roda-gigante compartilhando risos nervosos e emoções à flor da pele. A cada
volta e reviravolta, as amizades se fortaleciam e os laços se aprofundavam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">As rainhas da festa, elegantemente vestidas e
com coroas reluzentes, eram o centro das atenções e admiradas por todos, elas
representavam a beleza e a graça da cidade, personificando o orgulho ponta-grossense.
A cada aceno pareciam espalhar um pouco de magia entre a multidão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Quando as luzes da feira finalmente se
apagavam, a saudade já se fazia presente. Os momentos vividos ali se
transformavam em preciosas lembranças, como estrelas em céu noturno, iluminando
os dias cinzentos. E, mesmo à distância, no tempo e no espaço, o espírito
daqueles tempos mágicos continua nos corações, que relembram a juventude que
sempre brilha no horizonte da memória.<o:p></o:p></span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-37163078351409850672023-12-04T06:29:00.000-08:002023-12-04T06:29:46.689-08:00A música da vizinhança<p><i style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;">Texto de autoria de <b>Mário
Francisco Oberst Pavelec</b>, técnico em agropecuária, natural de Palmeira,
residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Meus
vizinhos não respeitam os horários. Tem alguns que começam logo cedo, algumas
vezes antes do nascer do sol, outros alongam sua cantoria até ao anoitecer. Uns
são mais repetitivos, outros mais tímidos, alguns mais agressivos e outros mais
mansos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Dentre
meus vizinhos, o seu João é um dos mais tímidos. Canta pouco, quase sempre é
difícil distinguir suas melodias, mas é um excelente construtor. Tem várias
casas no bairro, e sempre é requisitado para mais uma construção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Já
o Bem, este é um cantor e tanto. Sua voz ecoa pelas Uvaranas, já logo cedo.
Potente e sonoro, seu canto é bem definido, audível e sua voz é inconfundível.
Porém é um fofoqueiro contumaz, denunciando a qualquer um que passe em sua
frente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">O
Sr. Laranjeira, cuja voz já é mais aguda, inúmeras vezes faz dueto com o Bem, e
espalham uma ópera matinal que desperta os outros vizinhos. A perfeição impera.
Cantam e encantam a grande maioria. Sempre tem gente que não gosta, e fica
incomodado com esta sonoridade toda bem de manhãzinha.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Tem
alguns estrangeiros também, os da família Rola e da família do Professor
Pardal. Estes são menos agressivos na sua potência vocal, porém sempre se fazem
ouvir. Se mostram com muita frequência, durante o dia todo. Mas como são
muitos, revezam com tranquilidade do amanhecer ao anoitecer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">O
canto dos Curucacas, outra família que reside aqui próximo e escolhe os pontos
mais altos do bairro, atravessa a sinfonia com seu grunhido grave, esganiçado,
longo e repetitivo, fazendo as vezes da percussão nesta orquestra silvícola. Já
vi também, nesta faina, o Sr. Tucano, que, sem vergonha, faz o contraponto aos
Curucacas, sem perder o tom.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Tirivas
e Canarinhos compõem esse grupo da percussão com seus sons mais agudos, como se
fossem uma “segunda voz” mantendo o ritmo e a melodia. Sempre entram nos tempos
exatos, recheando a música, e destacando a voz dos solistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Dizem que “se quiser ouvir o canto dos
pássaros, não os prenda em uma gaiola, plante árvores”. Bem isso que fiz. Desde
que mudamos da Vila Oficinas para o São Francisco, nas Uvaranas, produzi e plantei
algumas mudas, que hoje já começam a frutificar. Romã, Pitanga, Araçá, Goiaba,
Amorinha, Café, além de um Jambeiro que já existia no terreno. Estas já proporcionam
sombra e atraem esses vizinhos canoros. Além disso, a florada atrai abelhas que
zunem em um contínuo fundo musical, ímpar, que preenche as pausas do compasso
dessa revoada.</span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-53910423275700970542023-11-27T06:42:00.000-08:002023-11-27T06:42:57.999-08:00Mistério na casa 37<p><i style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #222222; font-size: 10pt;">Texto de
autoria de <b>Sueli Maria Buss Fernandes</b>, professora aposentada,
residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Do lado ímpar de uma rua do Bairro Colônia Dona
Luíza, fui vizinha de uma família de alemães cuja descendência tinha raízes no
Volga.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Construída em madeira há décadas,
sobreviveu ao tempo, pela manutenção razoável. Flores e arbustos escondiam
tábuas corroídas pelo tempo e pelos insaciáveis cupins que se multiplicavam. O
terreno era cercado por ripas largas e grudentas do óleo queimado com o qual
foram pintadas. O portão permanecia encimado por um arco entrelaçado de
pequenas rosas e seus espinhos pontiagudos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Que histórias essa casa poderia contar sobre seus
jovens anos, sobre a família de seus primeiros moradores? Em épocas de escassez
tiveram dificuldades para criar os filhos, alimentá-los e dar-lhes estudo.
Enfrentaram a epidemia da gripe asiática no final dos anos 50, mãe e filho
acometidos por ela. Febre e geada andando juntas, a caminho da farmácia no
amanhecer gelado. Nos festejos de fim de ano, a animação, fartura de comida e
bebida eram habituais. Às vezes alguém passava do ponto, dava vexame, sentava
sobre os copos, quebrava alguns e desejava aos parentes, com a língua enrolada
“Boas Entradas”! “Prost”!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Toda aquela gente foi saindo de lá aos poucos para
trabalhar ou morar fora, estudar em cidades com maior potencial de crescimento,
os filhos se casaram e foram embora. Os que cumpriram seu tempo de permanência
neste planeta estão em sua última morada num jazigo do Cemitério São José, mas
algo estranho acontece durante a noite. Alguém continua vivendo lá! Não é de
carne e osso. Um fantasma vive no forro de madeira daquela edificação antiga.
Ele joga bolinha de gude de madrugada sobre o forro. Cada família que alugava a
casa tentava afugentar o indesejado, porém o fantasma insistia em manter-se no
mesmo endereço enxotando os inquilinos. As bolinhas corriam pelo forro em toda
sua extensão e batiam contra uma viga. Dali rolavam pela parede tocando o piso
num ruído incessante. Recomeçava o jogo... Na Vila Hilda do Henrique Thielen
havia algo semelhante que até hoje se comenta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Durante o dia a vida parecia normal, as janelas se
abriam expondo cortinas brancas de renda, um cão preguiçoso desfilava
vagarosamente pelo espaço ou dormia sobre o tapete convidativo: Bem-vindo. À
noite, o breu da escuridão apoderava-se de tudo e o único sinal de vida ou de
morte era o som das bolinhas de gude no teto de madeira da velha casa alemã,
até o raiar de um novo dia.<o:p></o:p></span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-31701788865933260792023-11-20T06:34:00.000-08:002023-11-20T06:34:41.279-08:00A Barca<p><i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Texto de autoria de <b>Luiz
Murilo Verussa Ramalho</b>, servidor do Ministério Público Estadual, residente
em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Como bom
canceriano, não creio em signos, fluídos, simpatias, energias, unicórnios,
horóscopo, destino, <i>karmas</i>, <i>shakras</i>, sortes, figas, sinas e, como
sabem todos os que estão na mesma barca, o não acreditar também é uma prisão.
Ainda assim, na hierarquia dos esoterismos que abusam de nossa boa-fé, nenhum
dos citados rivaliza com certos outros que nos rondam para atacar nos momentos
mais inconvenientes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Há alguns dias,
levantei os olhos do chopp para escutar um sujeito que se aproximou oferecendo
uma <i>oportunidade única</i>. Tratava-se de uma oferta, na verdade uma
embrulhada dos diabos, que envolvia aquisição de <i>Bitcoins</i> (melhor, <i>criptomoedas</i>,
<i>sorry</i>, Faria Lima), associada à construção de imóveis que integram um
conjunto habitacional que supostamente está saindo nos arrabaldes da cidade.
Depois de perguntar o que faço da vida e ouvir de mim que sou engenheiro civil
(tenho uma cascata para cada situação dessas, geralmente digo professor de
artes, mas resolvi dar corda), disse-me que, “como eu sei”, nossa cidade possui
um potencial infinito para o crescimento imobiliário, viabilizando consecução
tranquila das expectativas de rendimento. Citou estatísticas de alvarás,
construções e edificações liberados pela Administração Municipal, números que
posteriormente verifiquei serem autênticos, conforme noticiado pela imprensa
local, o que me levou a vê-lo até com alguma simpatia; o mercado do estelionato
é competitivo e demanda capacitação continuada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Lendo as metas
que ele rabiscou no guardanapo, confesso, foi difícil manter o semblante neutro
de investidor. Em matéria de matemática estou para lá da ignorância, mas, pelas
contas que fiz rapidamente, em dez anos, conforme o perfil <i>aplicador
moderado</i> (porque ganância é um hábito feio, mas, ainda assim, com possibilidade
de a economia andar melhor que o previsto, propiciando retornos ainda maiores)
eu lucraria cerca de 10 vezes o PIB brasileiro. Cidade promissora, o nosso
Eldorado princesino. Os contadores me aguardem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Firmei
compromisso de fechar negócio no próximo dia útil, dei “meu” telefone (na
verdade, o do meu compadre Luiz Felipe, que é engenheiro mesmo e, por morar em
outra cidade e não ler estas páginas, vai continuar sem entender por que tantos
golpistas o procuram) e meu anjo benfeitor foi embora de passinho curto,
sorriso de quem roubou mais uma alma para o Pregão dos trambiqueiros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Que as procure na
próxima barca</span>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-76921769222068029582023-11-13T05:37:00.000-08:002023-11-22T16:28:31.223-08:00Um curdo entre nós<p><i style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #222222; font-size: 10pt;">Texto de
autoria de <b>Sueli Maria Buss Fernandes</b>, professora aposentada,
residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Crocheteiras,
bordadeiras ou tricoteiras garantem que para desatar um nó no fio ou na lã,
basta pensar numa pessoa fofoqueira que ele desata facilmente. Não foi assim
tão fácil para uma parente que me relatou sobre os nós que desatou de sua
própria história. Foram necessários anos de pesquisa para que a luz desfizesse
a dúvida que pairava sobre a origem de seu avô materno. A família acreditava
que o jovem que chegara à cidade vindo do Rio Grande do Sul, fosse descendente
de espanhóis. Aqui se casou e teve três filhos. Após incansáveis buscas ela
puxou o fio da meada e desvendou toda a história do avô. Na verdade, o jovem
havia nascido no Curdistão, portanto era um curdo e, pelas constantes invasões
da vizinha Turquia ao seu território, fugiu com os pais para a Alemanha. Mais
tarde, pelo porto de Barcelona, imigrou sozinho para o Brasil, aos 30 anos de
idade. Falava alemão e é sabido que em meados do século XX os alemães aqui não
eram bem-vindos, não podiam se reunir com compatriotas, eram até presos se fossem
flagrados falando alemão em lugar público. Ele dizia que havia perdido seus
documentos, uma maneira de proteger-se escondendo sua identidade. Entretanto,
para casar, era imprescindível ter documentos para realizar o ato civil. Um
cartório providenciou novos documentos com o nome que ele declarou:
Fernandes.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A certidão foi lavrada e
nunca houve contestação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Muito
trabalhador e com espírito empreendedor criou a primeira empresa funerária da
cidade, situada à Rua Theodoro Rosas (provavelmente). Um dos filhos conta que a
funerária do pai ficava em frente à residência da família Wagner, os meninos
brincavam juntos conservando a amizade até a idade adulta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Mais
tarde o imigrante construiu uma vulcanizadora de pneus com o nome de
Vulcanizadora Cruzeiro, na Rua Saldanha Marinho. O Sr. Fernandes era possuidor
de uma personalidade agressiva, brigava à toa, do tipo que não levava desaforo
para casa. Talvez por esse motivo o casamento dele tenha durado menos de uma
década e veio a inevitável separação do casal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">O
sobrenome declarado passou por três gerações até que a pesquisa revelasse seu
verdadeiro nome. Contingência de um passado remoto que se extinguirá com o
tempo. Entrei para essa família pelo casamento com o filho do Sr. Fernandes
quando ele já não estava entre nós. Levou para a sepultura histórias que
deixaram de ser contadas, vivências desperdiçadas, restando apenas um sabor
amargo de não pertencimento.<o:p></o:p></span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-49657636234520014172023-11-13T05:33:00.000-08:002023-11-13T05:33:32.547-08:00Festa de São Cristóvão<p><i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de autoria de <b>Rosicler
Antoniácomi Alves Gomes</b>, Professora de Português e Inglês, residente em
Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
dia do padroeiro da Paróquia São Cristóvão é o 25 de julho, mas a grandiosa
festa em sua honra, tradicionalmente, vai para o primeiro domingo de agosto, havendo
tríduo (um terço de uma novena) na semana anterior, com as conhecidas
“barraquinhas”. Sempre que meu
aniversário cai em um domingo, coincide com a festa de São Cristóvão. Lembro de
um aniversário em dia de festa, em que mamãe “modista” criou para mim um conjunto
de saia plissada e blusinha (o <i>plissé</i>
vincado a ferro de passar, mesmo). Vestido novo era uma vez por ano, no
aniversário ou no Natal, e aquele veio no dia da festa, como se a festa fosse
para mim. Essa coincidência, na minha infância, era motivo de grande alegria. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Nas
proximidades da Igreja, quem não acordasse cedo para assistir à missa solene em
honra ao padroeiro, naqueles tempos entoada por Frei Elias – com as respostas
litúrgicas a quatro vozes do Coral São Cristóvão, regido pelo saudoso maestro
Antônio Marenda –, acordaria, ao final da missa, com o repique festivo dos
sinos anunciando o início da procissão. Nas ruas adjacentes à Rua Franco Grilo,
começavam o buzinaço e os roncos de caminhões, juntando-se à fila da procissão,
muitos com as carrocerias apinhadas de pessoas (antigamente não era proibido!).
Desde que a Rodovia do Café foi inaugurada, num domingo, em 25 de julho de
1965, já era por aquela via que a procissão retornava, iniciando na frente da igreja,
e percorrendo a Visconde de Mauá, passando pelo Centro em direção ao antigo
Posto Presidente, e lá acessando a rodovia. Eu gostava de esperar a procissão
passar diante da minha casa, no retorno, pela Rua Franco Grilo, já passando da
hora do almoço; as crianças não queriam perder a conta dos caminhões e carros
que participaram da procissão, seguindo para a frente da igreja, novamente,
para receberem dos freis capuchinhos a bênção dos veículos.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: left;">Num certo domingo, eu
tinha ido a pé, com vizinhos, ver os carros de corrida participantes da inauguração
da rodovia, cujo acesso, de terra, era quase uma trilha. Nenhum carro passou na
velocidade que eu imaginara. Eu me divertia mais com os caminhões da procissão,
por isso quis participar de uma, em cima de um caminhão, e conhecer, assim, a
famosa Rodovia do Café.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: left;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: left;">Não me recordo
se essa aventura aconteceu no ano da inauguração, ou se foi numa coincidência
da festa com meu aniversário. Lembro do vento e de meus cabelos açoitando meu
rosto, que ardia com o sol quente. Parecia, de fato, uma corrida em alta
velocidade.</span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-38778700125711991902023-11-06T04:15:00.000-08:002023-11-06T04:15:10.849-08:00Nunca gostei de pescar<p><i style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10.0pt;">Texto de autoria de <b>Mário
Francisco Oberst Pavelec</b>, técnico em agropecuária, natural de Palmeira,
residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Tem
um ditado popular que diz “tá estressado, vai pescar”. Infelizmente comigo não
funciona. Porém, meu pai era um pescador contumaz. Raramente comia o peixe, mas
não perdia uma oportunidade de molhar as minhocas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Nas
quartas-feiras, entre primavera e verão, o rio Caniú era o preferido dele.
Descíamos até a Colônia do Lago, por volta das seis da tarde, quando ele saía
do trabalho, com o liquinho (lampião a gás), ficávamos até por volta das oito
horas da noite “tentiando” os bagres e os lambaris para ver se algum ia para
casa conosco. O placar, quase sempre, zero a zero. Saíamos da beira do rio e
íamos direto para a JAP tomar um banho de sauna com o Seu Adão, que nos
esperava com o fogão de pedras bem quente.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Nos sábados,
não raras vezes, íamos para Porto Amazonas, no portinho, na fonte, na balsa, ou
na mesa de pedra, para passarmos o dia. Quase sempre ele levava algumas
cervejas, refrigerantes, pão, queijo e alguma salada, que satisfazia plenamente
seu vegetarianismo. Aliás, tenho mais coisas para contar sobre a mesa de pedra.
A seu tempo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Nos domingos,
o passeio era no Recanto dos Papagaios, na BR 277. Enquanto a criançada
divertia-se no Rio dos Papagaios, meu pai, com seus caniços, divertia-se
enganando lambaris, carás e os bagrinhos fluviais. Nunca soube ao certo quem
enganava quem.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Onde me
encaixo em tudo isso? Nunca gostei de pescar, tinha e tenho verdadeiro tédio em
relação a estar à beira de um rio com um caniço nas mãos. Porém, tinha
verdadeira adoração naquele homem que mancava com a perna direita, pouco
cabelo, e cujo passatempo e relaxamento preferido era a pescaria. Nunca fui
pescar, mas sempre fui acompanhar meu pai em suas aventuras.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Estar com ele,
passar em conjunto alguns momentos de paz e tranquilidade, pelos seus
preceitos, era, para mim, o ápice de um relacionamento afetivo entre pai e
filho.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Tirar as
minhocas, naquele canto preparado no fundo do quintal de casa, arrumar as
varas, colocar os anzóis, chumbadas, boias e penas, arrumar as tralhas para que
nada desse errado, eram momentos ímpares, deliciosos, curtidos pelo pequeno
garoto que gostava de estar com seu pai.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Quantas vezes
deixei os caniços na beira do rio, sem isca, para não ter o trabalho de sondar
se os peixes haviam mordido o recheado anzol e ficava perto de meu pai,
assuntando, afim de entender o mundo e a vida. Ele, às vezes me dizia: “fica
quieto, piá, senão espanta os peixes”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 200%;">Levar para casa um ou
dois lambaris ou carás era a verdadeira glória!</span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-61177793017174591602023-10-30T06:49:00.000-07:002023-10-30T06:49:51.923-07:00Reminiscências<p><i style="text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto de autoria de <b>Márcia
Derbli Schafranski</b>, professora universitária aposentada, Especialista e
Mestre em Educação pela UEPG e Suficiente Investigadora pela Universidade de
Extremadura, na Espanha, residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Outro
dia, conversando com um dos meus filhos, ele perguntou-me como havia sido minha
vida, nos idos tempos da minha infância e juventude.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Essa
pergunta reportou-me ao passado distante, quando inúmeras recordações assolaram
a minha mente. Nascida em Ponta Grossa, estudei inicialmente no extinto Colégio
Anchieta e, posteriormente, cursei o Ginásio e a Escola Normal no Colégio Santana.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Minha
infância e juventude foram tranquilas, e creio que o nível de interação da
minha geração com os adultos e as crianças era bem mais próximo. Conhecíamos e
tínhamos amizade com todos os vizinhos, brincávamos na frente das nossas casas,
jogávamos bola, pulávamos amarelinha, e, por vezes, fazíamos piquenique na
escada de pedras até hoje existente na Rua Padre Ildefonso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ao
crescermos, aos domingos, o programa era participar da missa das 10 horas na antiga
Igreja Catedral e, depois, fazermos <i>footing</i> na Avenida Vicente Machado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Tenho
saudades dos almoços dominicais em família, nos quais conversávamos sobre
trivialidades e assuntos diversos, e, posteriormente, nos preparávamos para ir
à sessão das 19h30 no Cine Ópera, para assistir filminhos românticos. Lembro-me
também dos saudosos carnavais do Clube Ponta-Grossense, onde as famílias, com
muita alegria, reuniam-se para brincar ao som das antigas marchinhas como “Mamãe
eu quero”, “Ó abre alas”, “Máscara Negra” e tantas outras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Em
1968, ingressei no Ensino Superior, tendo-me formado em Pedagogia, pela
Universidade Estadual de Ponta Grossa, em 1971. Dois anos mais tarde, casei-me.
Foi no dia 8 de dezembro de 1973, sendo que, nessa mesma data, casaram-se as
queridas amigas Maria Hercilia Piazetta e Isa Carvalho, recentemente falecida.
Hoje, ao olhar para trás, vejo que a antiga Catedral, onde me casei, já não
existe, e que o lugar onde foi feita a minha festa de casamento, ou seja, a
sede social do antigo Clube da Lagoa, também foi descaracterizada. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Indagada
por meu filho em que hospital ele e seus irmãos nasceram, respondi: na
Maternidade Santana. E onde ela fica? Respondi: ela também serve a outros
propósitos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Meu
filho então exclamou: “Que pena! E você não fica triste ao perder parte das
suas referências?” Respondi, então, com lágrimas nos olhos: “Embora, alguns
desses lugares já não existam, as melhores lembranças não se encontram em
lugares, fotos ou em coisas materiais, mas vivem para sempre em nossas memórias
e são gravadas eternamente, em nossos corações”.<o:p></o:p></span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-84817906405468735592023-10-30T06:47:00.001-07:002023-10-30T06:54:42.051-07:00Os Campos Gerais dos idosos<p><i style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #222222; font-size: 10pt;">Texto de autoria de <b>Silvia
Maria Derbli Schafranski</b>, advogada e Mestre em Ciências Sociais pela UEPG,
residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No dia em que desembarcou no Rio, aos cinco anos de idade,
ladeado por seus doze irmãos e trazendo consigo apenas a roupa do corpo, ele
não imaginava que passaria a construir, nos próximos anos, também a nossa
história.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Cena pungente: minha bisavó descendo do navio com a
filharada atrás, em escadinha e sem nenhum tostão. Ironicamente, Tostão foi o
nome do terceiro cachorro de meu avô, que, já homem-feito, fixou residência na
cidade de Ponta Grossa, em época coincidente com a chegada dos trilhos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Seus bem vividos noventa e oito anos me levaram a refletir
sobre o paradoxo da velhice em um universo da longevidade. Outrora não era
degradante ser idoso. Cabelos brancos eram reverenciados como símbolo de
sabedoria. Os anciãos eram os guardiões da história, detentores de tradições e
conselheiros sábios da comunidade. No entanto, em contraste com o atual
paradigma da longevidade, a exclusão das pessoas idosas parece ser uma sombra
onipresente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.5pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O falatório dos jovens e
imposições da mídia revelam que ninguém mais quer envelhecer, até mesmo
marginalizando os idosos. A luta pela juventude eterna transforma a velhice em
doença. O culto à juventude parece estar enraizado em nossa cultura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os Campos Gerais deram oportunidades para imigrantes,
muitos deles analfabetos, e que, entre inúmeras dificuldades, construíram uma
vida digna para as próximas gerações. Os chamados "velhos" foram
criados sem quaisquer regalias ou conforto. Casamentos duravam até a viuvez e
os utensílios eram reaproveitados e passavam entre gerações. Brinquedos eram
raros ou improvisados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A comunicação era lenta e as pessoas se reuniam para tocar
instrumentos musicais ou para ouvir rádio. Patife era palavra temida e as
questões de honra eram decididas “na bala”. Assim contava meu avô, ao exibir os
sinais de perfuração no crucifixo de madeira que lhe havia salvado a vida em
uma desavença em honra da filha mais velha. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Esse saudoso universo era composto por pessoas que tinham
fome de vida e que relutavam em morrer. Daí por que insistia ele em não
compreender Getúlio. Viúvo aos quarenta anos, com três filhos para criar, não
deixou que o luto também o levasse, preferiu recomeçar. Conheceu minha avó, com
quem teve mais uma filha e que abraçou sua prole como própria. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os Campos Gerais dos idosos abraçaram homens de palavra, de
negócios realizados no “fio do bigode”.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Foram verdadeiros homens sobreviventes da escola da vida, lapidados com
os mais inestimáveis valores.<o:p></o:p></span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-9008750339268208335.post-72375056778035815042023-10-23T08:01:00.003-07:002023-10-23T08:01:42.312-07:00Eu e meu capacete<p><i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt;">Texto
de autoria de <b>Mário Francisco Oberst Pavelec</b>, técnico em agropecuária,
natural de Palmeira, residente em Ponta Grossa.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Nas idas e vindas, em ruas princesinas
e estradas campesinas, descobri um lugar inusitado, onde os pensamentos, a
filosofia e as ideias fervilham: meu capacete.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Pela
necessidade do meu trabalho, minha locomoção é quase sempre com a moto. Neste
momento de solidão, muitos pensamentos me ocorrem, desde reflexões sobre a
vida, pensamentos sobre os afazeres diários e até mesmo algumas crônicas que
surgem neste espaço pequeno fisicamente, mas ilimitado filosoficamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Enquanto
vou para Castro, atendendo mais um cliente, me surge o pensamento de quanto
penso dentro do capacete. Algumas músicas me surgem. Um caminhão aparece à
frente, novo pensamento surge.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Indo
de Uvaranas para Vila Oficinas, da Nova Rússia para o Contorno, planejo como
devo executar mais um trabalho, por onde começo, onde devo procurar as peças
que necessitarei em breve. O sinaleiro fecha, devo parar, e prestar atenção no
próximo arranque. Deus lembra de mim?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
Balduíno se descortina à minha frente, então me surge a possibilidade de mais
uma crônica. Seu título, o início, o descortinar do enredo, sua conclusão, o
humor empregado. Opa, o semáforo com a Avenida Vicente Machado está aberto. Um
toque mais intenso no acelerador para aproveitar o sinal aberto. Onde estou
indo mesmo? Ah, lembrei!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sim,
muitas vezes me perco em meus próprios pensamentos, me sentindo tão só,
parodiando o poeta, mas em excelente companhia, ou seja, comigo mesmo. Aliás,
falar sozinho dentro do capacete é muito recorrente. Altos monólogos se
desenrolam, talvez levando os transeuntes a duvidarem da lucidez do piloto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Nas
constantes idas até a capital do estado, cruzando os Campos Gerais, passando o
Tibagi, Witmarsun e despencando pela Escarpa Devoniana, também conhecida como
Serra do São Luiz do Purunã, penso na família, na sorte que tenho por ser
casado com uma mulher maravilhosa, ser pai de uma filha ímpar. Um caminhão freia,
o carro que está ao meu lado também reduz, minha manobra precisa ser
milimétrica para que a moto se mantenha em pé.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Para
chegar em casa, preciso tomar o rumo do Hospital Regional. Arredo um pouco para
o lado, pois uma ambulância está com todos seus sinais de emergência acionados.
Tomara que não seja muito grave, tomara que dê tempo. Ela passa, meus
pensamentos se voltam aos cachorros de casa, fujões, preciso ser mais esperto
que eles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Tiro
o capacete, parece que os pensamentos embaralham. Levo um tempo para que as
coisas tomem eixo novamente. Sento em frente ao computador e os imprimo.<o:p></o:p></span></p>Douglas Passonihttp://www.blogger.com/profile/17542801123988857358noreply@blogger.com16