Texto de autoria de Maurício Chizini Barreto, servidor público municipal de Tibagi, natural de Ponta Grossa.
Certa
vez, ao caminhar pelo grande canyon do Guartelá, conhecido por ser o sexto
maior do mundo, sendo o único com vegetação de cerrado do planeta, deparei-me
com uma cena que no mínimo me surpreendeu. A cidade de Tibagi é dona de um cabedal
de histórias, costumes e lendas. Cresci ouvindo lendas e causos que meus pais,
tios e avós contavam nas rodadas de causo que faziam após o jantar. O município
de Tibagi é conhecido pela extração do diamante, histórias de riquezas e
aventuras daqueles que buscam na gema preciosa um futuro melhor. Outros falam
da Fazenda Fortaleza, uma fazenda escravocrata, onde conta a lenda que seu
proprietário, José Felix da Silva, na ânsia de preservar sua fortuna, antes de
morrer, enterrou todo o seu tesouro. Seu capitão do mato, Antônio Machado
Ribeiro, após comandar uma grande investida contra os indígenas, que ficou
conhecida como Mortandade, vindo a exterminar centenas de bugres, onde hoje
está instalada a Fábrica de Papel da Cidade de Telêmaco Borba, ganhou de
presente a Fazenda Tibagy, a qual mais tarde formou a cidade. Enfim, nossa
região é recheada de histórias e lendas, e, nesse dia em que eu caminhava pelas
terras do Guartelá, avistei ao longe um pequeno indiozinho, que acenava para
mim me chamando. Resolvi segui-lo; após algum tempo passou a ser acompanhado
por um menino negro. Lembrei-me dos causos de meus avós, que relatavam que
existe no Guartelá um tesouro enterrado que é vigiado por dois meninos, um
indígena e outro negro. Não sabia ao certo o que estava vendo: seriam os
guardiões de um grande tesouro? estaria eu prestes a ficar rico? Padres
jesuítas, grandes fazendeiros, trabalhadores negros e indígenas da grande
família tupi, sempre estiveram pela região. Lembro-me da história da Redução
Jesuíta, onde hoje é a Fazenda Igreja Velha, o quilombo do São Dama, onde hoje
existe uma fazenda, e por fim a fazenda escravocrata da Fortaleza, onde até
hoje parte da antiga sede mantém objetos e construções desta época. Já
caminhava cerca de duas horas quando me veio à lembrança que a lenda fala que
quem tirar essa fortuna, que alguns chamam de panela de ouro, por ser um
dinheiro encantado, amaldiçoado ou fruto do sangue de inocentes, terá sua vida
encurtada, vindo a morrer em pouco tempo. Temeroso do triste destino, acenei
para os dois meninos me despedindo, e como por mágica eles desapareceram no
mesmo instante. E assim o tesouro do Guartelá continuou intacto à espera de
quem tenha a coragem para retirá-lo.