segunda-feira, 17 de maio de 2021

Um diálogo áspero em baile de carnaval

 

Texto de autoria de Alberto Jorge Bittencourt, advogado, Tibagi.

Publicada no Diário dos Campos em 19/05/2021 e no Correio Carambeiense em 22/05/2021, lida na CBN Ponta Grossa em 04/06/2021, postada no Portal D'Ponta News em 10/06/2021 e no Portal aRede em 16/06/2021, exibida na TV Educativa em 23/12/2021.

Tornou-se uma referência na história não escrita de Tibagi, a figura de Gasparino de Sá Bittencourt (1887-1952), o que se deu pela forma de ver, interpretar e falar das coisas de sua época. Filosofava ao seu modo meio agauchado, expressando seu apego à tradição, à moral, aos costumes da gente ligada à terra dos Campos Gerais, com raízes mais distantes voltadas ao Sul do Brasil.

Numa situação bem interessante, Gasparino ─ que, evidentemente não era muito afeito a festejos carnavalescos ─ foi ao clube da cidade acompanhar as filhas solteiras que desejavam participar do baile, como seria normal num evento desses. Chegando ao clube, tomou a mesa já reservada e sentou-se com as moças. Claro que Gasparino não estava fantasiado. Vestia sua tradicional bota de couro, calça social, paletó e lenço no pescoço. Sisudo, acompanhou as primeiras seleções de sambas e marchas carnavalescas bem executadas pelo conjunto de metais.

No clube estava o "Cadete", como era conhecido o pernambucano Manoel Evêncio da Costa Moreira. Este foi um dos pioneiros na agitação cultural de Tibagi no início do século passado; instrumentista de valor, cantor talentoso. Mas não era pessoa muito próxima de Gasparino no dia a dia da cidade. Cadete liderava um bloco fantasiado de cangaceiros, naquele baile. Na aba quebrada do chapéu, os foliões levavam a frase: "Para o amor não há idade".  E Cadete, propositadamente, quando passava em frente à mesa onde Gasparino estava com a família, fazia uma reverência, mostrando a frase no chapéu.

Após umas duas dessas provocações, conta-se que Gasparino levantou-se e segurou Cadete pelo colarinho, falando em tom seguro e firme: ─ Olha aqui seu moleque, me respeite! Aqui dentro não te faço nada! Lá na rua, te cubro de desaforos! E na coxilha, te corto no laço!

Soltou o folião com desprezo e convidou as filhas para irem embora. Cadete, claro, deve ter brincado até o fim do baile.

7 comentários:

  1. Muito bom esse “causo”! Parabéns Jorge.

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  2. Jorge sempre preciso nos textos. Maninha Serenato

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  3. Você como sempre . Amei. Parabéns !

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  4. Tibagi tornou-se uma referência em bailes e desfiles carnavalescos no interior do Paraná. E sem provocações, claro. Você nos trouxe uma ilustração dos tempos idos. Bem-vindo ao grupo de participantes deste projeto, Jorge!

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  5. Marlene Castanho

    Nossa, imagine a reação das filhas de Gasparino diante a atitude intempestiva do pai! Sair do baile assim, sem chance de um flerte KKK. Parabéns, Alberto Jorge, sua crônica, concisa, aguçou minha imaginação...

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  6. Parabéns Jorge, belo relato dos tempos carnavalescos antigos, rsrs, tempos de nossos pais e avós. Impossível não se compadecer das filhas de Gasparino que perderam o baile, rsrs.

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  7. Adorei Jorge! Tibagianos valentes, alegres, brincalhões e talentosos como você! Ótimo texto.

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