Texto de autoria de Alberto Jorge Bittencourt, advogado, Tibagi.
Publicada no Diário dos Campos em 19/05/2021 e no Correio Carambeiense em 22/05/2021, lida na CBN Ponta Grossa em 04/06/2021, postada no Portal D'Ponta News em 10/06/2021 e no Portal aRede em 16/06/2021, exibida na TV Educativa em 23/12/2021.
Tornou-se uma referência na história não
escrita de Tibagi, a figura de Gasparino de Sá Bittencourt (1887-1952), o que
se deu pela forma de ver, interpretar e falar das coisas de sua época.
Filosofava ao seu modo meio agauchado, expressando seu apego à tradição, à
moral, aos costumes da gente ligada à terra dos Campos Gerais, com raízes mais
distantes voltadas ao Sul do Brasil.
Numa situação bem interessante, Gasparino ─
que, evidentemente não era muito afeito a festejos carnavalescos ─ foi ao clube
da cidade acompanhar as filhas solteiras que desejavam participar do baile,
como seria normal num evento desses. Chegando ao clube, tomou a mesa já
reservada e sentou-se com as moças. Claro que Gasparino não estava fantasiado.
Vestia sua tradicional bota de couro, calça social, paletó e lenço no pescoço.
Sisudo, acompanhou as primeiras seleções de sambas e marchas carnavalescas bem
executadas pelo conjunto de metais.
No clube estava o "Cadete", como
era conhecido o pernambucano Manoel Evêncio da Costa Moreira. Este foi um dos
pioneiros na agitação cultural de Tibagi no início do século passado;
instrumentista de valor, cantor talentoso. Mas não era pessoa muito próxima de
Gasparino no dia a dia da cidade. Cadete liderava um bloco fantasiado de
cangaceiros, naquele baile. Na aba quebrada do chapéu, os foliões levavam a
frase: "Para o amor não há idade".
E Cadete, propositadamente, quando passava em frente à mesa onde
Gasparino estava com a família, fazia uma reverência, mostrando a frase no
chapéu.
Após umas duas dessas provocações, conta-se
que Gasparino levantou-se e segurou Cadete pelo colarinho, falando em tom
seguro e firme: ─ Olha aqui seu moleque, me respeite! Aqui dentro não te
faço nada! Lá na rua, te cubro de desaforos! E na coxilha, te corto no laço!
Soltou o folião com desprezo e convidou as
filhas para irem embora. Cadete, claro, deve ter brincado até o fim do baile.
Muito bom esse “causo”! Parabéns Jorge.
ResponderExcluirJorge sempre preciso nos textos. Maninha Serenato
ResponderExcluirVocê como sempre . Amei. Parabéns !
ResponderExcluirTibagi tornou-se uma referência em bailes e desfiles carnavalescos no interior do Paraná. E sem provocações, claro. Você nos trouxe uma ilustração dos tempos idos. Bem-vindo ao grupo de participantes deste projeto, Jorge!
ResponderExcluirMarlene Castanho
ResponderExcluirNossa, imagine a reação das filhas de Gasparino diante a atitude intempestiva do pai! Sair do baile assim, sem chance de um flerte KKK. Parabéns, Alberto Jorge, sua crônica, concisa, aguçou minha imaginação...
Parabéns Jorge, belo relato dos tempos carnavalescos antigos, rsrs, tempos de nossos pais e avós. Impossível não se compadecer das filhas de Gasparino que perderam o baile, rsrs.
ResponderExcluirAdorei Jorge! Tibagianos valentes, alegres, brincalhões e talentosos como você! Ótimo texto.
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