Texto de autoria de Luiz Murilo Verussa Ramalho, servidor do Ministério Público Estadual, residente em Ponta Grossa.
Um dia, o conhecimento humano vai desvendar o conhecimento humano, e uma das coisas que faremos vai ser explicar como e por que fazemos o que fazemos. Até que isso não aconteça, e até que a paciência do confuso leitor não o abandone e me abandone, ficaremos com o enigma e o mistério.
Poucos anos atrás,
recém-morador do bairro de Olarias, acordei mais cedo do que o muito cedo de
costume, com explosões estrugindo em vários rumos. Após alguns minutos de
impasse sobre se tratava-se do Juízo Final (sendo o anjo trombeteiro uma
espécie de animador de rodeio) ou um simples mega assalto na agência do BB mais
próxima, o olho do bom senso piscou na noite alta com a explicação: estava
hospedado no hotel ao lado um time de futebol, e os torcedores da equipe local
vieram recepcioná-lo com rojões na esperança de que os atletas não descansassem
e entrassem em campo com a perna dura.
Não sei se o parágrafo
inicial deste texto assenta bem com o que veio após, mas os camaradas – aliás,
autointulados operarianos – caem da cama na calada (ops) da noite pra acordar
uma vizinhança inteira e, principalmente, outros indivíduos que se supõe
estejam habituados ao alarido dos jogos e a tais artimanhas, além de disporem
de orçamento para uns tampões de ouvidos que calam até a voz das neuroses
alheias e respectivas carências afetivas e do que fazer.
Na melhor tradição do esporte brasileiro, o empenho da torcida não encontrou seu equivalente em campo e o time acabou rebaixado. No ano seguinte, silêncio tumular em Olarias. Decerto, o Operário, aquele que trabalha em Oficinas, precisava descansar.