terça-feira, 27 de julho de 2021

Um pedacinho da Holanda no Brasil

 

Texto de autoria de Dalton Paulo Kossoski, auxiliar de bibliotecário e contador de histórias na Biblioteca Municipal de Ponta Grossa.

Publicada no Correio Carambeiense em 31/07/2021, postada no Portal aRede em 18/08/2021 e no Blog da Mareli Martins em 19/03/2022, lida na Rádio Clube em 18/03/2022.

Você sabia que é possível viajar de Ponta Grossa até a Holanda em menos de 30 minutos? É só ir à Carambeí, ao Parque Histórico daquela cidade, um museu a céu aberto que reproduz uma vila holandesa e o modo de vida dos imigrantes daquele país europeu, que escolheram os Campos Gerais para se instalarem, mais de um século atrás.

A família Kossoski chegou à “Holanda” dos imigrantes. Uma paisagem de sonho e a sensação que fica é a de viagem no tempo! Charmosas casas de madeira espalhadas pelo campo verde, com seus lambrequins, a igreja e, aqui e ali, lagos correndo embaixo de pontes. O que aumentava o sentimento de que se estava na Holanda era a baixa temperatura. O passeio agradável nem deixava a gente sentir o frio, porque estávamos caminhando pelo Parque Histórico. Se ficássemos parados, congelaríamos. Entramos numa casa, para ver um ferro de passar “à brasa”, e outros utensílios que as pessoas usavam antigamente. Noutra casa, espiamos pela janela o interior mobiliado como nos tempos de outrora. A igreja, vazia de fiéis, mas um toca-disco no qual se ouvia um som de culto religioso, ao entrarmos. A estação ferroviária dispunha de um gravador que tocava um barulho de trem. Ao lado da fonte desse som, estava um manequim uniformizado, como se fosse um agente da estação.

O cenário ao ar livre era composto por várias estátuas de animais e pessoas, representando camponeses fazendo seu trabalho diário, colhendo produtos agrícolas. Depois de um tempo entre as memórias de outros períodos (passamos também por um galpão que exibia a evolução dos modelos de tratores, com o decorrer dos anos), entramos no carro e seguimos viagem.

Chegamos ao lugar das famosas tortas holandesas para provar das delícias. Um pedaço de torta e um copo de café (quer dizer: da família, eu fui o único a pedir dois pedaços de torta e dois copos de café, de tão gostosos que estavam. Doce, mas de precinho bem salgado...). Sentamos à mesa para saborear o lanche num ambiente aconchegante e bonito. Nas janelas, junto às cortinas, bandôs: trabalhos em crochê, decoração típica do povo holandês, o que me fez lembrar uma tia que, quando morava em Carambeí (e também algum tempo em Castrolanda), tinha essas peças decorativas pela casa, para manter a tradição daquela terra de imigrantes.

Foi muito legal aquela viagem no tempo!                   

segunda-feira, 19 de julho de 2021

O entardecer nos campos de minha infância

 

Texto de autoria de Francielly da Rosa, professora da rede municipal de Ponta Grossa e estudante de Letras na UEPG.

 

Publicada no Correio Carambeiense em 24/07/2021 e no Diário dos Campos em 28/07/2021, postada no Portal D'Ponta News em 22/07/2021 e no JM Infomix em 11/08/2021.


Hoje peguei-me a admirar o findar do dia na Praça do Pôr do Sol; como é incrível! Nesta época do ano podemos contemplar os tons de vermelho pincelados divinamente, entrecortados por tons pastéis de roxo, alaranjado e azul. As nuvens, tais quais batidas suaves de pincel, alongam-se horizontalmente, até que a sua alvura perca-se na mistura das cores. Meus deleitosos olhos acompanham as árvores que compõem esta paisagem invernal, vez ou outra esbarrando em alguma casinha que as interrompe. Num lapso de tempo estou ali e já não estou mais, sou levada às memórias de infância quando, junto de meu avô, sentava no campo em frente à sua casa e assistia ao belíssimo espetáculo da natureza.

Todo entardecer traz o cheiro de meu avô e também suas palavras: “Vem frio por aí!”. Eu, na pequenez de minha idade, nunca entendi como alguém poderia saber que esfriaria pela coloração do céu, porém nunca questionei, já que, de fato, tudo acontecia como ele previa. Lembro-me das bochechas rosadas, os olhos faiscantes, a ponta do nariz beijada pelo vento frio, depois adentrávamos a casa e nos agasalhávamos, mas, apenas aquela paisagem mantinha o coração quentinho.

Desperto do devaneio, ao que as residências ofuscam-me a visão, e cruzo o Parque do Pôr do Sol, na Rua Visconde de Nácar. Em meio às minhas memórias, retomo as palavras da poetisa ponta-grossense Anita Philipovsky em seus consagrados versos Os poentes de minha terra. Vejo-me tal qual Anita (porém, eu, uma ínfima aprendiz), escrevo mentalmente versinhos que, de certo modo, consigam exprimir de minhas memórias o âmago, versos estes que foram primeiramente escritos com os olhos.

Continuo meu caminhar, mas minha mente plaina sobre os campos e as casas e vai buscar os raios de sol para aquecer-me o corpo, e vai buscar Anita para aquecer-me o coração. Que belo dia este! Que belo presente nos deu a Princesa dos Campos! Aviso-te, querida poetisa, que os poentes continuam tão belos que só! Tinhas razão! Creio que podes vê-los ou até mesmo pintá-los divinamente, as linhas de teus versos são onde chão e céu se encontram, então mescle teu lirismo e carisma na vivacidade do entardecer.

Penso comigo se quando Anita Philipovsky escreveu seus versos fazia frio, assim como meu avô dizia sobre os dias de céu colorido, e esta quimera me constrói; então me faço mistura de poesia, memória e experiência.  Em se tratando de experiência, hoje o céu estava vermelho, então leve um casaco porque vem frio por aí!

segunda-feira, 12 de julho de 2021

A suavidade de Tibagi (II)

 Texto de autoria de Nilson Monteiro, jornalista, escritor, membro da Academia Paranaense de Letras.

Publicado no Correio Carambeiense em 17/07/2021 e no Diário dos Campos em 11/08/2021.

O Museu de Tibagi guarda não só peças históricas, que estimulam a imaginação, mas livros originais, raros em qualquer biblioteca, de Victor Hugo, João Guimarães Rosa e Euclides da Cunha, entre outros. No museu, estão fotos da época áurea dos diamantes garimpados no fundo do leito do Tibagi, assim como escafandros de ferro, pesados, antecessores da imagem moderna dos exploradores do cosmo. Candelabros, móveis, utensílios, quadros, documentos, vestimentas, imagens, medalhas religiosas brasileiras e estrangeiras, famílias arrumadinhas para fotos, coisas e pessoas amareladas pelo tempo dividem o museu, grudado no musgo do passado e no farol do presente.

Em ruelas de pedras ou descalças, na praça central, sob as sombras das figueiras e mangueiras, nas selas e estribos de cavalos e nas trilhas de tropeiros, em cortininhas de renda delicada nas janelas, no som oco do trotar, nos telhados cerzidos sobre casas acanhadas, no cochicho político, nos costumes simplórios e conservadores, no tempo escorrendo vagaroso, no lume de velas de procissões, no badalar dos sinos da igreja alta e larga para a necessidade dos crentes, nas soleiras de portas retraídas de tímido comércio, no som do silêncio, nos coloridos festejos de Momo e as chaves da cidade foi alimentada a alma alegre, criativa e ébria de vida do Sérgio Mercer, agora entendo. E não só o seu, mas o perfil de uma gente.

Aquela que adora paçoca de carne, mistura de fatias de carne de boi sem gordura, pernil de porco, farinha e cheiro-verde. Ou quirera com costelinha de porco, bolo de polvilho... São comidas originadas nos alforjes dos tropeiros, nas cozinhas dos senhores das sesmarias dos Campos Gerais e dos pratos dos garimpeiros que sonhavam em encontrar ouro e diamante.

A mesma gente que alimentou quimeras de esticar as fronteiras da cidadezinha histórica. Ou que vive sonhos entre as fendas magníficas do canyon do Guartelá ou em suas panelas de pedra ensopadas pelo rio Iapó. Contrariando versos de Drummond, eta vida boa, meu Deus!

segunda-feira, 5 de julho de 2021

A suavidade de Tibagi (I)

Texto de autoria de Nilson Monteiro, jornalista, escritor, membro da Academia Paranaense de Letras, nascido em Presidente Bernardes (SP), residente em Curitiba.


Publicada no Diário dos Campos em 14/07/2021, postada no Portal aRede em 28/07/2021.

Agora entendo, com clareza, porque o Sérgio Mercer era a própria simplicidade, criatividade e doçura de pessoa. Sua personalidade foi talhada sob a sombra de uma figueira centenária e à margem esquerda do líquido pedregoso do Tibagi, que escondia (ou esconde) diamantes, pequenos, enormes, verdadeiros ou imaginários. Tem a paz das campinas e a altivez dos pinheirais.

Ali, em um pedacinho de cidade encravada em extenso município, deram forma à alma do Sérgio. Ali, em um berço centenário, conhecido desde 1754 como El-Dorado, se misturaram guaranis, contumazes adversários da Fazenda Fortaleza e do desejo dos paulistas, os brancos, e seus escravos, negros, em se estabelecer nas cercanias.

Ali chegou, em 1782, Antônio Machado Ribeiro, esculpindo a futura civilização, que virou Freguesia pela Lei nº 15, a 6 de março de 1864. O primeiro vigário, Frei Gaudêncio de Gênova, benzeu as terras em 1851. E o município foi instalado, sob as bênçãos do Vaticano, em 1872. Ali, também se mesclaram os Mercer, os Mello, os Carneiro, os Borba, e as pessoas simples e comuns, cujos nomes não ocupam galerias, mas, tanto quanto os sempre citados, edificaram a cidade...

Em Tibagi, de ruas empedradas que escorrem para o rio tipicamente paranaense, vivem cerca de 18 mil pessoas, das quais 10 mil na zona urbana. Pessoas de carne e osso, de espíritos abertos ou petrificados, com virtudes e defeitos. O município é o maior em extensão territorial do Estado e dele já esgarçaram Reserva, Ortigueira, Telêmaco Borba e Ventania, entre outros. Mas a cidade, teimosa e tímida, não alarga suas fronteiras.

De arquitetura poética, realçada por pássaros, gatos, móveis rústicos e flores, flores, flores, uma pequena pousada garante o sono e o sonho dos que procuram o berço do Sérgio Mercer. Nele, Margarida, uma de suas primas, tece simplicidade e versos que fazem bem ao corpo e ao espírito. Perto, menos de 50 metros, uma pracinha guarda rituais do interior, com direito à fonte luminosa, coreto, frontal de igreja, senhoras rezadeiras e até o footing perdido em meio a um cipoal de nostalgia. A história jorra e escorre pelo rio, pelas ruas e especialmente no bem-organizado museu da cidade.

 


Adoração da Cruz

Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes , Professora de Português e Inglês, residente em Ponta Grossa.           Já escrevi c...