Texto de Jeferson do Nascimento Machado,
agricultor, São João do Triunfo.
Publicado no Diário dos Campos em 06/12/2019, postado no Portal aRede em 20/02/2020.
Publicado no Diário dos Campos em 06/12/2019, postado no Portal aRede em 20/02/2020.
Encontro-me
na Praça da Matriz, um pequeno espaço de lazer, localizado no centro da cidade
de Imbituva. O local é composto por elementos naturais – árvores, gramados,
flores e arbustos – e não-naturais, produtos do trabalho humano – bancos,
calçadas e a Paróquia Santo Antônio. Nesta praça nasceram amizades, namoros... mas
fora esses acontecimentos cotidianos, o lugar também serviu de palanque para
fascistas, repressores... Aqui discursou Plínio Salgado, foram realizadas passeatas
e marchas militares durante a Ditadura. Por outro lado, este mesmo lugar foi
ponto de encontro de jovens, que por diversas vezes reuniram-se para discutirem
as mazelas sociais e buscarem alternativas ao velho mundo.
Agora,
dirijo-me para o outro lado da praça. Noto que várias pessoas, vestidas de
branco e algumas segurando instrumentos, aglomeram-se abaixo de algumas árvores.
Aos poucos se forma um círculo. Em seguida, passam a tocar e a cantar. Aqueles
que não empunham instrumentos caem nas palmas e respondem o coro. Sem demora,
duas pessoas se dirigem sob os que tocam os instrumentos,
agacham-se, tocam a mão um do outro e adentram o círculo, realizando uma
cambalhota. Agora eles estão no centro do círculo e realizam movimentos em grande
sincronia. Parece uma luta! Parece uma dança! Trata-se de uma tradicional roda
de capoeira, que ocorre aqui desde a década de noventa. Aliás, as primeiras
aulas de capoeira da cidade foram realizadas nesse local.
Não
tarda e a roda começa a seduzir os transeuntes. Homens, mulheres, crianças e
casais que estavam passando agrupam-se em torno da roda. Imediatamente, mesmo
que de forma tímida, passam a bater palmas e a responder o coro. Isso anima os
capoeiristas, que aceleram o jogo e começam a realizar movimentos cada vez mais
complexos. Alguns dos transeuntes, mais extrovertidos, chegam a entrar na roda
e arriscar algumas pernadas.
Todavia, se hoje a capoeira é tão
querida na cidade, antigamente ser capoeirista era estar deslocado da
identidade “verdadeira”, a de imigrante europeu. Naquele tempo, tudo era mais
difícil e existiam vários estereótipos atribuídos àquele que jogasse a capoeira.
Chamar o berimbau de “cachimbo de preto”, o capoeirista de macumbeiro, de vadio
ou bandido, eram alguns dos modos de o preconceito se manifestar.
Entretanto,
os capoeiristas não desistiram, não arredaram o pé. E foi por terem resistido
ontem que podemos desfrutar hoje desta expressão nacional e regional.
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