Texto de
autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, professora aposentada, Ponta Grossa
Publicado no Portal aRede em 05/12/2019.
Publicado no Portal aRede em 05/12/2019.
Aquela família vivia segundo os
costumes da época, meados do século XX. Os homens trabalhavam fora, e as
mulheres cuidavam do lar e dos filhos. O trabalho caseiro delas incluía fazer
uma pequena horta e cuidar de galinhas num cercado no fundo do quintal, em que
produziam ovos e carne.
O pai trazia o sustento para casa, e
a esposa contribuía com as verduras, legumes e ovos frescos. As crianças iam a
pé para a escola todos os dias. No inverno pisavam cristais de gelo que se
acumulavam na grama dos terrenos baldios por onde cruzavam para encurtar o
caminho, com seus resistentes calçados com solado de pneu. À tardinha a mãe
esperava o marido que chegava em casa, após o trabalho, sempre no mesmo horário
e, abraçados, adentravam à casa onde contavam um ao outro sobre o seu dia.
Enquanto conversavam e a mãe
preparava o jantar, as crianças brincavam dentro de casa de “esconde-esconde”:
embaixo da mesa da sala, dentro do guarda-roupa, no cesto de roupa suja, atrás
das portas... era uma correria e risos puros de crianças felizes. As atividades
eram quase sempre as mesmas, exceto nas quartas-feiras.
Ah, na quarta-feira era diferente!
Esse dia era reservado para ir ao cinema. Jocosamente chamavam a sessão de
filmes das quartas-feiras do Cine Império de sessão “pão-duro” pois eram dois
ou três filmes ao preço de um. Diziam que os habitués daquelas sessões entravam
no cinema na quarta e saíam na quinta já que a sessão terminava depois da meia-noite.
A empresa de transporte coletivo que o casal usava, cujos ônibus faziam
a parada final no Ponto Azul, já havia recolhido seus carros naquele horário.
Carro próprio só em sonho. Era luxo.
Saíam e caminhavam até suas casas saboreando o clima da noite,
comentando os filmes e era muito natural. Não conheciam outra vida.
Hoje o tradicional Cine Império é só
uma maravilhosa lembrança, e famílias como aquela são uma saudosa recordação.
Quadros redondos nas paredes com fotos de casamento e de primeira comunhão em
preto e branco deram lugar a uma decoração mais moderna. Agora as famílias têm
carro para levar os filhos à escola e à noite as crianças também se escondem,
porém atrás de um tablet, de um celular ou de um computador. As mães trabalham
fora em dupla jornada e estão sempre estressadas, o pai volta tarde do
trabalho, cansado e sem paciência... Depois pedem comida pelo aplicativo e
assistem a filmes pela Netflix.
Para onde foi aquele tempo?
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