segunda-feira, 12 de julho de 2021

A suavidade de Tibagi (II)

 Texto de autoria de Nilson Monteiro, jornalista, escritor, membro da Academia Paranaense de Letras.

Publicado no Correio Carambeiense em 17/07/2021 e no Diário dos Campos em 11/08/2021.

O Museu de Tibagi guarda não só peças históricas, que estimulam a imaginação, mas livros originais, raros em qualquer biblioteca, de Victor Hugo, João Guimarães Rosa e Euclides da Cunha, entre outros. No museu, estão fotos da época áurea dos diamantes garimpados no fundo do leito do Tibagi, assim como escafandros de ferro, pesados, antecessores da imagem moderna dos exploradores do cosmo. Candelabros, móveis, utensílios, quadros, documentos, vestimentas, imagens, medalhas religiosas brasileiras e estrangeiras, famílias arrumadinhas para fotos, coisas e pessoas amareladas pelo tempo dividem o museu, grudado no musgo do passado e no farol do presente.

Em ruelas de pedras ou descalças, na praça central, sob as sombras das figueiras e mangueiras, nas selas e estribos de cavalos e nas trilhas de tropeiros, em cortininhas de renda delicada nas janelas, no som oco do trotar, nos telhados cerzidos sobre casas acanhadas, no cochicho político, nos costumes simplórios e conservadores, no tempo escorrendo vagaroso, no lume de velas de procissões, no badalar dos sinos da igreja alta e larga para a necessidade dos crentes, nas soleiras de portas retraídas de tímido comércio, no som do silêncio, nos coloridos festejos de Momo e as chaves da cidade foi alimentada a alma alegre, criativa e ébria de vida do Sérgio Mercer, agora entendo. E não só o seu, mas o perfil de uma gente.

Aquela que adora paçoca de carne, mistura de fatias de carne de boi sem gordura, pernil de porco, farinha e cheiro-verde. Ou quirera com costelinha de porco, bolo de polvilho... São comidas originadas nos alforjes dos tropeiros, nas cozinhas dos senhores das sesmarias dos Campos Gerais e dos pratos dos garimpeiros que sonhavam em encontrar ouro e diamante.

A mesma gente que alimentou quimeras de esticar as fronteiras da cidadezinha histórica. Ou que vive sonhos entre as fendas magníficas do canyon do Guartelá ou em suas panelas de pedra ensopadas pelo rio Iapó. Contrariando versos de Drummond, eta vida boa, meu Deus!

3 comentários:

  1. Nelson Monteiro, fiquei impressionada com esse seu "mergulho", tão profundo e exploração vasta, pelas nuances dessa "pequena" notável:Tibagi, eta vida boa, meu Deus! Admirável paixão, por ela... Parabéns!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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