Texto de autoria de Nilson Monteiro, jornalista, escritor, membro da Academia Paranaense de Letras, nascido em Presidente Bernardes (SP), residente em Curitiba.
Publicada no Diário dos Campos em 14/07/2021, postada no Portal aRede em 28/07/2021.
Agora entendo,
com clareza, porque o Sérgio Mercer era a própria simplicidade, criatividade e
doçura de pessoa. Sua personalidade foi talhada sob a sombra de uma figueira
centenária e à margem esquerda do líquido pedregoso do Tibagi, que escondia (ou
esconde) diamantes, pequenos, enormes, verdadeiros ou imaginários. Tem a paz
das campinas e a altivez dos pinheirais.
Ali, em um
pedacinho de cidade encravada em extenso município, deram forma à alma do
Sérgio. Ali, em um berço centenário, conhecido desde 1754 como El-Dorado, se
misturaram guaranis, contumazes adversários da Fazenda Fortaleza e do desejo
dos paulistas, os brancos, e seus escravos, negros, em se estabelecer nas
cercanias.
Ali chegou, em
1782, Antônio Machado Ribeiro, esculpindo a futura civilização, que virou
Freguesia pela Lei nº 15, a 6 de março de 1864. O primeiro vigário, Frei
Gaudêncio de Gênova, benzeu as terras em 1851. E o município foi instalado, sob
as bênçãos do Vaticano, em 1872. Ali, também se mesclaram os Mercer, os Mello,
os Carneiro, os Borba, e as pessoas simples e comuns, cujos nomes não ocupam
galerias, mas, tanto quanto os sempre citados, edificaram a cidade...
Em Tibagi, de
ruas empedradas que escorrem para o rio tipicamente paranaense, vivem cerca de
18 mil pessoas, das quais 10 mil na zona urbana. Pessoas de carne e osso, de
espíritos abertos ou petrificados, com virtudes e defeitos. O município é o
maior em extensão territorial do Estado e dele já esgarçaram Reserva,
Ortigueira, Telêmaco Borba e Ventania, entre outros. Mas a cidade, teimosa e
tímida, não alarga suas fronteiras.
De arquitetura
poética, realçada por pássaros, gatos, móveis rústicos e flores, flores,
flores, uma pequena pousada garante o sono e o sonho dos que procuram o berço
do Sérgio Mercer. Nele, Margarida, uma de suas primas, tece simplicidade e
versos que fazem bem ao corpo e ao espírito. Perto, menos de 50 metros, uma
pracinha guarda rituais do interior, com direito à fonte luminosa, coreto,
frontal de igreja, senhoras rezadeiras e até o footing perdido em meio a um cipoal de nostalgia. A história jorra
e escorre pelo rio, pelas ruas e especialmente no bem-organizado museu da
cidade.
Ainda que não nato, sou tibagiano de coração - adorei a crônica.
ResponderExcluirAt.te
Um passeio cronológico muito interessante... Tibagi, além de tudo, tem essa suavidade... E o berço do Sérgio, um símbolo, representante nato, que continua ali, acolhedor e, também, propagador de muitas histórias do lugar... Nilson, parabéns pelo texto!
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