Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa.
Lá
vai uma menina de 9 anos de mãos dadas com sua mãe, passo decidido, numa manhã
de domingo. Às vezes tem que dar uma corridinha para sincronizar as passadas
como se fosse um soldado que perde o ritmo num desfile e acerta o passo
apressando sua marcha. Percorrem a Rua da Estação desde o Ponto Azul em direção
à estação de trens. Uma bruma esbranquiçada não permite que visualizem o final
da rua. Enfrentam o clima frio do inverno de outrora. As estações do ano são
bem definidas e quando é inverno, é inverno. Geadas fortes e o vento da cidade
tornam o frio ainda mais intenso. A respiração delas parece uma fumacinha
quando encontra o ar gelado. A menina veste calças de flanela, blusa e gorro de
tricô feitos pela mãe, o casaco novo e botas. O coração pulsa forte na
expectativa daquela viagem de férias. Leva consigo um farnel com pinhão cozido
e descascado para um lanche durante a jornada. A mãe compra o bilhete na hora e
esperam o trem na plataforma.
O
destino é Piraí do Sul onde ela passará uma semana das férias escolares de
julho na casa da comadre Josefa e do compadre Jacir. A mãe escolhe um lugar no
longo trem misto, acomoda a filha e se despedem. ─ Bença, mãe!
No
trajeto teima com a janela pois quer apreciar a paisagem mas os vidros estão
embaçados. Aceita o fato e desenha neles: seu nome, uma casinha, árvores e
pássaros. Sopra o ar quente dos pulmões na vidraça e esfrega a mão nela
tentando abrir passagem para seus olhos curiosos. Congelando, as mãos voltam
rápidas aos bolsos do casaco. Repete o gesto até que o sol se sobrepõe à bruma
e enfim pode observar os campos, córregos, a mata em alguns trechos, pequenas
estações que se sucedem ao longo da ferrovia e as casas dos ferroviários à
beira da linha.
Falando
alto o chefe do trem informa o nome do lugar por onde estão passando. ─ Castro! Castro! Há uma ponte sobre o Rio
Iapó. A Maria-Fumaça, locomotiva movida a vapor, para em cima da ponte enquanto
abastecem sua caldeira com a água do Iapó. Pela janela vê o rio lá embaixo!
Como é alto! Sente um frio na barriga. Acompanha a inédita operação e se
encanta.
Toca
o sino e a locomotiva segue. Deixa no céu um rastro de fumaça branca e de vapor
fervente nos trilhos. A menina se embala com o ruído do trem. Coloca letra
àquela música e vai cantando e acelerando ao ritmo dela: Já te pego, já te
pico, já te ponho no pinico, já te pego, já te pico, já te... Relaxa
até que ouve a voz do chefe do trem: ─ Piraí do Sul!
Marlene Castanho
ResponderExcluirNossa, me senti essa menina refazendo esse itinerário... E realmente o fiz, algumas vezes, nos tempos de infância nas férias do meu pai q era ferroviário. A família toda, um piquenique no vagão... A viagem era sempre longa... Já te pego, já te pico KKK,inesquecível... Obrigada, Sueli Maria, por essa agradável recordação...
Piquenique no vagão devia ser divertido! No movimento do trem qualquer frase que se coloque encaixa perfeitamente, não acha? Obrigada, Marlene.
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