terça-feira, 11 de maio de 2021

Maria-fumaça

 

Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa.

 Publicada no Correio Carambeiense em 15/05/2021, lida na CBN Ponta Grossa em 21/05/2021 e na Rádio Clube em 17/12/2021, postada no Portal D'Ponta News em 03/06/2021, no Portal aRede em 09/06/2021 e no Blog da Mareli Martins em 17/12/2021, publicada no Diário dos Campos em 16/06/2021.

Lá vai uma menina de 9 anos de mãos dadas com sua mãe, passo decidido, numa manhã de domingo. Às vezes tem que dar uma corridinha para sincronizar as passadas como se fosse um soldado que perde o ritmo num desfile e acerta o passo apressando sua marcha. Percorrem a Rua da Estação desde o Ponto Azul em direção à estação de trens. Uma bruma esbranquiçada não permite que visualizem o final da rua. Enfrentam o clima frio do inverno de outrora. As estações do ano são bem definidas e quando é inverno, é inverno. Geadas fortes e o vento da cidade tornam o frio ainda mais intenso. A respiração delas parece uma fumacinha quando encontra o ar gelado. A menina veste calças de flanela, blusa e gorro de tricô feitos pela mãe, o casaco novo e botas. O coração pulsa forte na expectativa daquela viagem de férias. Leva consigo um farnel com pinhão cozido e descascado para um lanche durante a jornada. A mãe compra o bilhete na hora e esperam o trem na plataforma.

O destino é Piraí do Sul onde ela passará uma semana das férias escolares de julho na casa da comadre Josefa e do compadre Jacir. A mãe escolhe um lugar no longo trem misto, acomoda a filha e se despedem. ─ Bença, mãe!

No trajeto teima com a janela pois quer apreciar a paisagem mas os vidros estão embaçados. Aceita o fato e desenha neles: seu nome, uma casinha, árvores e pássaros. Sopra o ar quente dos pulmões na vidraça e esfrega a mão nela tentando abrir passagem para seus olhos curiosos. Congelando, as mãos voltam rápidas aos bolsos do casaco. Repete o gesto até que o sol se sobrepõe à bruma e enfim pode observar os campos, córregos, a mata em alguns trechos, pequenas estações que se sucedem ao longo da ferrovia e as casas dos ferroviários à beira da linha.

Falando alto o chefe do trem informa o nome do lugar por onde estão passando.  ─ Castro! Castro! Há uma ponte sobre o Rio Iapó. A Maria-Fumaça, locomotiva movida a vapor, para em cima da ponte enquanto abastecem sua caldeira com a água do Iapó. Pela janela vê o rio lá embaixo! Como é alto! Sente um frio na barriga. Acompanha a inédita operação e se encanta.

Toca o sino e a locomotiva segue. Deixa no céu um rastro de fumaça branca e de vapor fervente nos trilhos. A menina se embala com o ruído do trem. Coloca letra àquela música e vai cantando e acelerando ao ritmo dela: Já te pego, já te pico, já te ponho no pinico, já te pego, já te pico, já te... Relaxa até que ouve a voz do chefe do trem: ─ Piraí do Sul!

2 comentários:

  1. Marlene Castanho

    Nossa, me senti essa menina refazendo esse itinerário... E realmente o fiz, algumas vezes, nos tempos de infância nas férias do meu pai q era ferroviário. A família toda, um piquenique no vagão... A viagem era sempre longa... Já te pego, já te pico KKK,inesquecível... Obrigada, Sueli Maria, por essa agradável recordação...

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  2. Piquenique no vagão devia ser divertido! No movimento do trem qualquer frase que se coloque encaixa perfeitamente, não acha? Obrigada, Marlene.

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