Texto de autoria de Luiz Carlos Zientek, Educador Social, graduado em História pela UEPG, residente em Curitiba.
Já faz algum tempo que tenho ouvido falar
muito sobre Alzheimer. A doença é bastante recorrente em idosos. Eu mesmo já
tive casos na família e encarei tudo com certa naturalidade, pois parecia não
ter muito a ver com o meu universo. Era algo distante, talvez por que eu visse
os idosos também como seres distantes, muito diferentes de mim. Agora, porém,
já percebo sinais bem claros de que estou envelhecendo. Meus cabelos já estão
grisalhos, minha energia não é mais a mesma, meu corpo dá alguns sinais de
limitação. E a mente? Claro, a mente começa a prestar atenção em coisas que
antes pareciam irrelevantes.
Uma das características que percebi
bastante comum em idosos com Alzheimer é o apego aos lugares de memória. Minha
avó materna, quando ainda era viva, não queria sair da sua casinha de madeira e
morar com os filhos por que isso seria um abandono daquilo que “o véio
deixou pra mim”. Quando a vida se fragiliza, as memórias e os lugares que
definem nossa identidade parecem ser tudo o que temos…
Hoje, apesar de não sofrer os males de uma
doença tão difícil como essa, consigo pelo menos ter um pouco de sensibilidade
e entender, em partes, o que esses velhinhos passam. Ponta Grossa é o meu lugar
de memória, e a Ponta Grossa que vejo se transformar, dia após dia, não é mais
aquela que eu conheci. A área em frente à casa do meu pai, onde hoje fica o
condomínio residencial Parque dos Franceses, em Oficinas, era completamente
desabitada. Como diz o ditado popular, quando eu cheguei por lá “tudo era
mato”. Uma senhora passava quase todos os dias por ali conduzindo um grupo
de uns 20 bodes para pastar. Onde eles foram parar? Novos tempos...
Nesse mesmo bairro, tínhamos uma bela vista do centro da cidade, com aquela aglomeração de construções e a torre da catedral. Agora, os animais desapareceram. Não há mais vegetação para pasto, mas a vista do centro é a mesma, quase uma fotografia. Ou seja, o entorno muda, o núcleo permanece. O maior edifício do estado do Paraná está sendo construído na mesma região, entre a Servopa e o Posto Pianowski. Será o progresso? Pode ser que sim. A roda gira, aparentemente cada vez mais rápido, mas o eixo que a conduz está no mesmo lugar.
Que a cidade mude, é natural. Que desapareçam alguns dos meus lugares de memória, também. Mas, aquilo que alguém experienciou e imortalizou, ainda que imaterialmente, nem a doença é capaz de destruir. Está tudo bem! A Ponta Grossa que vivi, aquela me formou e hoje é parte de mim, essa pra sempre permanecerá!
Afinal, todos somos feitos de memórias. Porém as antigas, que representam as nossas raízes, adquirem uma importância mais forte no momento em que nossas folhas começam a cair. A nostalgia do tempo...
ResponderExcluirEspecial referência para quem olha para Ponta Grossa com olhos diferentes, sempre nos trazendo grandes e memoráveis lembranças!!
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