Texto de autoria de Márcia Derbli Schafranski, professora universitária aposentada, Especialista e Mestre em Educação pela UEPG e Suficiente Investigadora pela Universidade de Extremadura, na Espanha, residente em Ponta Grossa.
Enquanto
aguardava seu filho, que uma vez por semana jantava com ela, dona Lia assistia,
na TV, ao noticiário local. Ouviu o barulho da porta se abrindo e, de repente,
Carlos Alberto surgiu, vestido com uma calça jeans muito justa, uma jaqueta de
couro e estranhas botinas, tendo nas mãos um capacete de motoqueiro. Acostumada
a vê-lo sempre impecavelmente vestido, com seus ternos discretos e muito bem
talhados, ela estranhou a indumentária do filho.
Ao
seu lado, estava uma garota, de no máximo 20 anos. De supetão seu filho falou: “Mamãe,
quero apresentar-lhe a minha namorada, vamos nos casar no final do ano!”. Ele estava com 52 anos, e a menina tinha idade
para ser sua filha.
Nobre
causídico, formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, PhD em Direito Tributário, logo foi
aprovado no concurso para docentes dessa mesma instituição. Autor de vários
livros e artigos, era muito admirado e elogiado por sua competência e dedicação
profissional. Durante a sua vida, teve algumas namoradas, mas, como estava
sempre envolvido com congressos, palestras, viagens ao exterior para ministrar
cursos, os namoros nunca evoluíam para um compromisso mais sério, e ele acabava
sozinho.
Tentando
ser educada, dona Lia perguntou à mocinha: “Qual curso você faz, minha filha?”.
A garota simplesmente respondeu: “’Tia’, sou muito nova e ainda não optei por
uma carreira. No momento, estou mais preocupada em ‘curtir a vida’ com o meu
Carlucho.”. Dona Lia ficou indignada e pensou: “Como podia, seu filho, o Dr.
Carlos Alberto Menezes de Miranda e Albuquerque, ínclito advogado e escritor,
membro de tradicional família ponta- grossense, admitir ser chamado de Carlucho?”.
Mais
uma surpresa: “Mamãe, hoje não vou jantar com a senhora. Nós vamos ao Centro de
Eventos, assistir a um show de heavy-metal.”. Logo ele, que sempre
abominara esse estilo de música, agora faria parte da plateia?
A
cada dia, o filho a surpreendia, passando a agir como um adolescente,
vestindo-se e portando-se de maneira esdrúxula e deixando em segundo plano a
sua carreira acadêmica e os seus compromissos profissionais.
Muito
preocupada com o estranho comportamento do filho, aventou a possibilidade de
Carlos Alberto não estar em pleno uso das suas faculdades mentais. Sem saber
como agir, dona Lia resolveu consultar uma psicóloga. Adentrou a sua sala e sem
ao menos cumprimentá-la, num ímpeto de desespero, exclamou: “Doutora, vim pedir-lhe
socorro: o meu filho emparveceu!”.
Veja bem: não pilota sem capacete, chama a genitora de mamãe e senhora, usa roupas de material durável, arejou o comportamento e só deitou na cama após fazer a fama. Bem vistas as coisas, achei que o Carluxo representa até uma evolução, se comparado com o Dr. Carlos Alberto. Obrigado pelo texto.
ResponderExcluirEntão, Dona Lia arranjou uma neta para chamar de nora? Melhor do que nenhuma neta. E vamos combinar: heavy-metal ainda fica mais próximo do Dr. Carlos Alberto do que de uma adolescente; uma relação mais ou menos equiparável ao Carlinhos Alberto adolescente se encantando com o Roberto Carlos de Dona Lia. Está na moda o encontro de gerações...
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