segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Melhor Idade

Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, professora aposentada, residente em Ponta Grossa.

Estava eu cochilando depois do almoço, curtindo o “soninho da beleza”, como dizem os entendidos em saúde do corpo e da mente, lembrando de fatos que ocorrem na nossa amada terra chamada Ponta Grossa. Ela poderia ter-se chamado Pitangui ou Estrela mas não, tinha que ser Ponta Grossa! Pensando na vida constatei que soninho da beleza é fake. Eu pratico esse esporte desde que entrei na melhor idade. Deito e levanto mostrando ao espelho a mesma imagem. Não rejuvenesce nada, é enganação! Onde está a beleza prometida? O mesmo rosto de bolacha Maria. Aliás, bolacha também é termo só nosso: pontagrossês puro! Apesar disso não me importo, continuo desfrutando do direito que a aposentadoria me concedeu de bem viver. Morar aqui é divertido. Temos mil convites para participar de bingos com chá e comilança, para viagens de turismo religioso pelas cercanias num bate e volta animado, para visitar o quintal ou o jardim da vizinha e de lá trazer mudas de flores que ainda não temos ou não exatamente daquela cor. Programa semanal da sexta-feira é ir ao açougue do Adi comprar linguicinha e queijo de porco, fresquinhos. Tem fila enorme, mas são produtos a que os idosos estão acostumados desde que seus pais ainda viviam. Os idosos daqui é que sabem se divertir. Não calçam aqueles miseráveis saltos altos que apertam o pé sem dó, não se importam com moda, qualquer look serve desde que seja confortável e fique bem no corpo, um pouquinho de maquiagem e estão prontos. O ingresso, compram no local, pois Reserva para eles é somente mais uma cidade do Paraná. Os impostos é o filho que paga porque tem Internet, agendamento de vacina é com outra filha que tem acesso a essa tecnologia, horário de médico ou dentista os filhos controlam. No aniversário dos netos ou em algum casamento, calçam aquele bendito sapato só para entrar na festa, mas dez minutos depois estão de chinelo havaiano, dançando um sertanejo com algum parente, e o sapato abandonado embaixo da mesa. Têm credencial para usar o coletivo grátis que passa na esquina e dali desaparecem pelas lojas do calçadão, pelas novenas das igrejas e pelos bingos da cidade. Uma vez por semana tem bailinho vespertino no Sesc, no 13 de Maio, no Zucão e em vários outros locais que apoiam os idosos. Já trabalhamos muito e é hora de relaxar. Que vida boa é essa da melhor idade!

4 comentários:

  1. Sueli, essa crônica aborda com muita leveza e graça a conversa muito séria que é arranjar espaços físicos e simbólicos de convivência e sociabilidade para a terceira idade. Eu criança via idosos aposentarem e morrerem desgostosos pouco tempo depois, prostrados pela sensação de terem "sobrado" na sociedade e até nas famílias. Hoje já acho que, desde que tenham condições, as pessoas saem, viajam e se divertem, o que é justo e desejável, a vida não pode ser trabalhar e morrer.

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  2. Exatamente assim, Murilo. Eu mesma sou um exemplo de que a melhor idade não é o fim e sim o início de uma vida tranquila, produtiva e divertida. Escrevi meu primeiro livro aos 72 anos e depois mais três. Estive em cerca de 40 países conhecendo novas culturas depois dos 50 anos. Se tiver saúde, creio que realmente é a melhor idade. Obrigada por ser sempre tão gentil. Um abraço.

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  3. Adorei "cara de bolacha Maria"! Mas, especialmente, esse reconhecimento de que envelhecer não representa abandono. Não abandonamos nossos sonhos nem deixamos de trabalhar, abandonamos apenas os obstáculos de um "trabalho forçado" em prol da sobrevivência. Já sobrevivemos a tudo isso, agora vivemos uma nova vida. Mas precisamos reconhecer que nem todos têm acesso a essa realidade.

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  4. Aqueles horários rígidos da jornada de trabalho, em troca de um salário que nos sustentava, ficaram no passado. O salário é depositado no banco mensalmente enquanto descansamos, o que traz tranquilidade. Se bem administrado pode proporcionar viagens e a compra de artigos de menor utilidade, só pelo prazer. Obrigada, Rosicler.

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