segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Fantasmas molhados

Texto de autoria de Wilson Czerski, militar da Aeronáutica, escritor e jornalista aposentado, natural de Ponta Grossa e residente em Curitiba.

Vinte e seis de julho de 2009. Temperatura agradável. Aquele calorzinho pré-frontal. Os institutos de meteorologia previam muita chuva para aquele domingo.

É provável que todo torcedor do Fantasma já tenha começado a rezar antes mesmo de sair da cama. Sant’Ana, no seu dia, teria que trabalhar, abençoando o Operário Ferroviário. Era dia de decisão.

Naquela tarde, depois de muitas tentativas frustradas, o alvinegro de Vila Oficinas disputaria a sua partida mais importante dos últimos anos. Enfrentaria a Portuguesa Londrinense pela Segunda Divisão do campeonato paranaense.

Em anos anteriores, cabeças-de-bagre em excesso, havia literalmente “batido na trave” e a torcida amargava essa situação vexatória resignadamente. Mas agora bastava um empate para retornar à elite do futebol das araucárias e o adversário já estava eliminado.

Sinceramente não entendo como algumas pessoas possam não gostar de futebol. Talvez por não terem sido brindadas de crescerem próximo aos campos onde a bola rola, ainda que fosse o do Olinda.

Futebol é paixão, um vício capaz de causar problemas no trabalho e – perigo! – em casa. Quem gosta sabe do que estou falando. Futebol é o meu segundo oxigênio. Não vivo sem ele. De domingo a domingo, ao vivo ou pela TV.

Ver os outros correrem atrás da bola e, quando possível, fazer o mesmo. Para alguém com parcos recursos técnicos, o difícil era pegá-la. Então, o lugar predileto era embaixo das traves, ficar esperando que ela viesse até mim e poder carinhosamente afagá-la em meus braços.

Ingresso esperando na casa da irmã, coração batendo mais forte, a saída cedo de Curitiba rumo à Princesa dos Campos. No final da manhã, ela chegou, a chuva.

Às quinze e trinta, início do jogo e o Germano Krüger abarrotado de pessoas e guarda-chuvas na vã tentativa de se proteger do aguaceiro. Desconforto e sofrimento pelo gol que tranquilizaria e não saía. E a Lusinha ameaçou duas ou três vezes e todos de coração na mão. No apito final do juiz, o zero a zero garantiu o Operário na 1ª Divisão do estadual do ano seguinte. A padroeira abençoou.

Maciça invasão no campo completamente enlameado, eu incluso, e festa com os heróis. Carreata desde a Visconde de Mauá, seguindo pela Paula Xavier e alcançando a Vicente Machado nas horas seguintes. Buzinas, fogos de artifício, bandeiras alvinegras e gente, muita gente cantando, gritando e bebendo.

Sem arruaças, nenhum automóvel danificado ou qualquer ato de vandalismo. Fantasmas ordeiros estes. Encharcados até os ossos, mas felizes.

6 comentários:

  1. Futebol é o meu segundo esporte preferido, o primeiro é o vôlei. Que bom que nessa partida o Fantasma saiu molhado, mas vencedor e não teve briga após o jogo que é tão comum atualmente. Esporte é saúde, diversão e entretenimento. Avante, Operário!

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  2. É isso, Sueli. Continuo torcendo muito para que o Operário evolua mais e cheguei à Série A. Ponta Grossa merece.

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  3. Amei a crônica, parabéns.

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  4. Rosicler Antoniácomi12 de agosto de 2024 às 20:03

    Não sou torcedora assim tão apaixonada, mas o Fantasma consegue me emocionar com alguma coisa que não sei bem o que é. É como as ruas em que pisei, como os rostos que me sorriram desde a minha infância. Uma parte do meu mundo. Me encantou sua crônica.

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  5. Times sediados em cidades de médio porte geram um engajamento fantástico no aspecto comunitário. Gostei muito de seu texto e fico no aguardo aquele, que você provavelmente tem na agulha, sobre o titulo paranaense de 2015.

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