segunda-feira, 19 de agosto de 2024

O mar...

Texto de autoria de Marivete Souta, Graduada em Letras e Mestre em Estudos da Linguagem pela UEPG, professora da Rede Estadual e escritora, natural de Ponta Grossa.

Mar... Mariana, eu tenho o mar no nome, na alma. Viver é um modo de navegar. Nunca gostei de um ponto final, assim, como o mar que parece não ter fim. Não fecho aspas...prefiro deixar que tudo se complete, prefiro as reticências... eu ainda não senti o sintoma da morte: ter certezas, finais, minha história será sempre incompleta. Olho a vida como quem olha o mar, uma grande aventura a ser vivida.

Serenamente, acompanho o barulho do vai vem das ondas sob um céu muito azul mesclando-se com ele numa simbiose que só é cortada pelo pôr do sol deslumbrante trazendo uma saudade que tem cheiro. 

Mesmo antes de conhecê-lo o mar despertava em mim fascínio, talvez porque a poesia morasse em mim, talvez porque ele faz imaginar e ela, a imaginação, sempre foi minha fiel escudeira.

A dança das ondas me diz que ele é como eu, imenso! Seu lamento vai tecendo lembranças de um tempo que não volta mais, e as emoções vividas vão bordando lembranças, muitas vividas nos Campos Gerais, onde adotei a Princesa como cidade, cidade natal.

Não me dei conta de como os anos deslizaram tão rapidamente. Aporto na terceira idade depois de uma viagem que me transmutou nessa pessoa que vejo hoje no espelho.  Olho para estas mãos com marcas senis desenhadas pelo tempo, delicadamente toco meu rosto e sinto as marcas que os anos deixaram. Hoje habito este corpo que se move mais lentamente. Outrora fora tão ágil e atraente! Penso... não acho que isso é ruim. Tenho 93 anos vividos plenamente. A imagem que o espelho reflete envelheceu, todavia, ainda vejo a menina que habita em mim. Ela nunca me abandonou. Está aqui, sempre tão presente! 

Envelhecer é um privilégio negado a muitos. Quantos em tenra idade se foram!  Vi muitos virem ao mundo e também muitos partirem. Esse é o legado de quem tem muita idade. Trago na mala muitas lembranças, umas boas, outras nem tanto... mas todas me fizeram ser quem sou hoje. 

O mar é como os meus sonhos... não tem fim e eu carrego ainda dentro de mim a certeza de que nós precisamos correr atrás dos nossos sonhos para não termos que enfrentar os sintomas da morte, porque o maior sintoma da morte é a finitude de nossos sonhos. Olhar a vida como uma grande aventura a ser vivida conserva a alegria na caminhada de quem luta, sonha.

6 comentários:

  1. Compartilho ter o mar no nome, e o rio também. Onde termina um é começa o outro? Sem o rio não haveria mar, sem o mar não haveria rio. Maravilha de crônica. Parabéns.

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  2. Onde termina um e começa o outro? Corretor...

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  3. Rosicler Antoniácomi19 de agosto de 2024 às 17:31

    Que linda crônica, MARivete! Deslizou como a maré vazante, desvendando brilhos encrustados na areia...

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  4. Não tinha entrado o comentário, enviei de novo, agora duplicou...

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  5. Crônica muito gostosa de ler. O mar é fonte de poesia, de encantamento e por isso muitos têm o Mar no nome como eu. Sueli Maria Fernandes.

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