segunda-feira, 8 de julho de 2024

Nos velhos tempos dos Correios

Texto de autoria de Márcia Derbli Schafranski, professora universitária aposentada, Especialista e Mestre em Educação pela UEPG e Suficiente Investigadora pela Universidade de Extremadura, na Espanha, residente em Ponta Grossa.

Transitando pela rua Augusto Ribas, em direção à Santa Casa de Misericórdia, o sinaleiro fechou e parei quase em frente ao prédio da Agência Central dos Correios. Lembrei então dos tempos da minha adolescência, quando meu pai me “escalava” para escrever cartas endereçadas aos seus irmãos, que não residiam em Ponta Grossa. Discorria sobre os assuntos que deveriam ser abordados e eu dispendia algumas horas, para “conversar” com parentes que mal conhecia, tendo sempre o cuidado de acrescentar um toque de amabilidade, para que as cartas não se parecessem com um relatório.

Quando eu terminava de escrever, ia ao escritório do meu pai e lia a “missiva” em voz alta, para ver se ele estava de acordo com os meus escritos, porém, sempre, ele dizia: você esqueceu de mencionar “tal” fato. Eu colocava um PS e dava por encerrada a primeira parte da minha tarefa. A segunda parte consistia em levar as cartas ao correio, sempre com a recomendação de colocá-las nas caixas certas, para não serem extraviadas. Todos os meses, a minha “missão” se repetia.

Na época de Natal, então, era o “caos”. Ele me dava uma lista enorme, com os nomes dos parentes e amigos a quem eu deveria endereçar cartões de boas festas, e lá ia eu, em direção à livraria Montes, sabendo que, na volta caberia a mim subscritar os envelopes para serem enviados.

Eu ia ao correio, com uma sacola cheia de cartões e enfrentava filas enormes, para comprar e colar os selos, com aquela colinha de pincel que ficava em cima de uma pequena bancada.  Enviava os cartões, acreditando que, finalmente, havia encerrado a minha tarefa.  Ledo engano! Quando recebíamos um cartão de alguém que não estava na nossa lista incial, papai simplesmente me dizia: Vá à livraria, comprar um cartão de agradecimentos para enviarmos ao meu amigo, com o nosso pedido de desculpas!

E os telegramas, então!!! Por ocasião de formaturas, falecimentos, ou mesmo, festas às quais não poderíamos comparecer, cabia a mim ir ao correio, enviar as mensagens, de acordo com a ocasião. O preço do telegrama era cobrado pelo número de palavras escritas e eu, sempre fazia sobrar um “troquinho”, para, na volta, passar na padaria Glória, comprar um delicioso sonho recheado com nata.

Os tempos mudaram e mudaram também, as formas de comunicação. Porém, tenho a certeza de que se hoje meu pai fosse vivo, ligaria para mim do seu telefone fixo e diria: Passe aqui em casa e traga o seu celular, pois, preciso enviar algumas mensagens!

2 comentários:

  1. Que ótima crônica! Adorei lembrar desse tempo que íamos ao correio enviar cartões e cartas. Achei muito educativa, essa demanda paterna. Parabéns ao seu saudoso pai!

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  2. A Agência do Correio por si só, rende ótimos motes para crônicas. Tal como os personagens que circulavam na sua volta. Lembro de uma delas: a velhinha que ficava esmolando na entrada e que contavam que tinha várias casas de aluguel. Mas o simples fato de uma crônica que revela aspectos relativos ao correio de antigamente é muito interessante, e fica mais ainda com essa narrativa muito reveladora dos costumes que desapareceram.

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