segunda-feira, 22 de julho de 2024

Eméritos dos Campos Gerais

Texto de autoria de Sílvia Maria Derbli Schafranski, advogada e Mestre em Ciências Sociais pela UEPG, residente em Ponta Grossa.

    Nos corredores da Universidade Estadual de Ponta Grossa, um encontro peculiar aconteceria. Era um desses dias em que as lembranças do passado se encanastravam com o presente de maneira quase corpórea. Reunidos como que por um chamado, estavam os professores aposentados da instituição, que dedicaram décadas de suas vidas à sublime missão de arrotear.

    Entre eles, destacava-se um professor caricato, cujos cabelos grisalhos e olhar erudito transformou-se ao longo dos anos. Ao seu lado, a Professora Cleide, com sua postura elegante e voz fleumática, transmitia toda a sua sabedoria. E assim, outros colegas assentiam, cada um carregando consigo uma bagagem de histórias e ensinamentos.

    Logo as conversas dissuadiram para um tema de preocupação e reminiscência: a nova geração de estudantes. Com olhares críticos, os professores começaram a discutir as vulnerabilidades percebidas naqueles que agora ocupavam as salas de aula.

    "Você viu como os alunos de hoje em dia parecem tão frágeis e dependentes da tecnologia?", comentou o Professor Almeida, sacudindo a cabeça com incredulidade. "Não têm mais aquela curiosidade natural de explorar o mundo ao seu redor. Tudo é entregue de bandeja, mastigado e pronto para ser digerido."

    A Professora Beatriz assentiu, acrescentando: "E não é apenas a falta de interesse pelo conhecimento. Muitos deles têm dificuldade em conviver com adversidades. Estão tão acostumados ao conforto que qualquer obstáculo se torna um dilema intransponível."

    Trocaram olhares cúmplices, lembrando de suas jornadas de desafios e superações: acondicionar o material em uma sacola de lixo, morar em república com dez outros estudantes, utilizar o transporte público apenas em dias de tempestade forte, nos demais, recorrer às capas e galochas. Certas observações faziam parecer até mesmo uma competição sobre quem foi o menos afortunado: nunca ter tido caixa de lápis de cor ou reutilizar o material dos irmãos mais velhos. Em meio à concorrência, um professor de Engenharia mencionou que contou todos os pregos de sua primeira obra e jamais imaginou viver em meio a uma geração de desperdício.

    "Fomos forjados na fornalha das dificuldades", declarou o Professor Almeida, com olhos nostálgicos. "Cada obstáculo que enfrentamos nos tornou mais fortes, mais resilientes".

    Entretanto, humildes, ainda mantinham a esperança de que cada aluno pode ser capaz de encontrar em si a força necessária para desenvolver seu pleno potencial rumo ao extraordinário.

3 comentários:

  1. Concordo com o Professor Almeida quando diz que "fomos forjados na fornalha da dificuldade". E estamos aí, formados, trabalhando ou já aposentados e não perdemos nada com aquele tipo de vida, só ganhamos.

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  2. Obrigada Silvia, sinto-me honrada em dar nome a sua personagem. 😀

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  3. Gosto de acompanhar esses diálogos das outras gerações. Viveram num mundo extinto, como se passará conosco nesse mundo em constante transformação...

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