Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, professora aposentada, residente em Ponta Grossa.
Os
costumes mudam de acordo com a época, com o nível social, cultural ou econômico
de uma família. Lembro bem dos costumes da minha infância, trazidos por meus pais
que, por sua vez, os herdaram de suas famílias. Meus avós de ambos os lados
eram muito religiosos, frequentavam missas, novenas, participavam ativamente
das atividades da igreja São José. Chamávamos a Vó Maria, da Barão de Capanema,
de “Vó de Baixo” e a Vó Luísa, da Prefeito Brasílio Ribas, de “Vó de Cima”,
tomando por base a localização da nossa casa na Júlia Lopes. Minha mãe não
seguiu o mesmo esquema religioso. Tornou-se mais liberal depois do casamento.
Já independente da mãe, vivia segundo suas regras.
Meus
avós arrumavam a mesa para as refeições sem preocupação com louças ou talheres.
Diziam que ninguém come o prato e que o importante era o alimento. O café era
adoçado no bule, um caneco para cada pessoa, a manteiga com uma faca dentro do
pote, compartilhada por todos. O mesmo acontecia com a geleia. A nata do leite
fervido afastada com um pequeno sopro antes de adicioná-lo ao café. Simples
assim, trivial.
Na minha
casa, mesmo na humildade, a relação com o visual e o conforto era mais
estreita, sem nenhuma conexão com luxo, sofisticação ou requinte. O café
era servido num bule, porém amargo. Para tanto minha mãe abandonou os canecos,
adotou xícaras, pires, açucareiro e colherzinhas. Facas individuais para cortar
e preparar o pão, garfinho para o bolo e pratinhos de sobremesa onde colocar o
alimento evitando deitá-lo sobre a toalha. Aumento de louça na pia, porém mais
conforto e higiene.
Enquanto meus avós e tias ainda usavam toalhas de plástico pela praticidade com as crianças, lá em casa se usava toalha de tecido e guardanapos. Aprendemos desde criança a usar talheres básicos, não lamber a colherzinha do café e não apoiar os cotovelos na mesa. Os copos eram do tipo americano e taças só no Ano Novo para o brinde com frisante.
Agora que conheço, embora não use, talher para peixe, taças para água, vinho tinto, vinho branco, enfileiradas, fico imaginando o que diriam meus avós sobre isso. Com certeza diriam: “Que frescura”! “Luxo não enche o bucho”, ainda com a visão antiquada que não incluía boas maneiras. Mesmo assim sinto saudade das cucas de uva da Vó de Cima que eu segurava com a mão e ia mordendo. A outra segurava o caneco de café já adoçado, sem frescura.
"Luxo não enche o buxo". Qua belo aforismo! Não o conhecia, ótimo. Ótima crônica.
ResponderExcluirUm luxo é receber um comentário seu, nosso primeiro coordenador e mentor do projeto de crônicas. Obrigada pelo carinho, Mário!
ResponderExcluirSim, as coisas sempre tomam rumos diferentes a cada geração. Não sei se é bom ou ruim? Mas a crônica está divina!!!
ResponderExcluirAdorei receber o conceito "divina". Vou ficar com este presente divino e deixar que cada um tome café à sua maneira.
ExcluirAcabei de perder meu comentário, aqui, quando tentei colocar o nome... Uso canecas. Colher para adoçar o café, só para a visita, pois tomamos café amargo mesmo. Não acho que seja frescura uma mesa bem posta, só não é meu estilo.
ResponderExcluirTente publicar seu nome, leitor(a).
ExcluirGostaria muito de conhecer sua identidade, já agradecendo sua participação e sua opinião tão importantes para nós, escritores.
O aconchego da família permanece em nossas memórias de várias formas... A sensação é de conforto.
ResponderExcluirA família é nosso pilar, nosso esteio e nosso colo. Podemos rodar o mundo, mas é para ela que sempre voltamos. Obrigada, Rita Mara.
ResponderExcluirSueli Fernandes: você nos traz às lembranças de um tempo ido, mas não findo na memória familiar. É uma viagem saborosa pela movimentação doméstica. Muito do que registrou aqui vivi entre os meus. Parabéns pela escrita! ALFREDO MOURÃO
ResponderExcluirObrigada, Mourão. Vivemos eventos semelhantes pois pertencemos à mesma geração, nas mesmas condições, eu creio. Entretanto temos muitas histórias para contar, fomos felizes e ainda somos, graças a Deus.
ResponderExcluirMinha falecida mãe também tinha copos e pratos para todas as ocasiões, embora não passassem de ornamentos para satisfação própria, pois pouco os usava e não fazia alarde deles. Deu que os três filhos saíram frugais nesse aspecto.
ResponderExcluirObrigado pelo texto, Sueli!
ResponderExcluirEu que agradeço sua preciosa participação. Quando teremos o privilégio de ter um novo texto seu?
ExcluirEncaminharei texto na semana que vem, fazendo votos para que mereça ser bem recebido. Grande abraço.
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