segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Evolução de costumes

Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, professora aposentada, residente em Ponta Grossa.

Postado no Portal aRede em 16/04/2024, publicado no Diário dos Campos em 14/02/2024, e no Jornal Página Um em 16/02/2024.

Os costumes mudam de acordo com a época, com o nível social, cultural ou econômico de uma família. Lembro bem dos costumes da minha infância, trazidos por meus pais que, por sua vez, os herdaram de suas famílias. Meus avós de ambos os lados eram muito religiosos, frequentavam missas, novenas, participavam ativamente das atividades da igreja São José. Chamávamos a Vó Maria, da Barão de Capanema, de “Vó de Baixo” e a Vó Luísa, da Prefeito Brasílio Ribas, de “Vó de Cima”, tomando por base a localização da nossa casa na Júlia Lopes. Minha mãe não seguiu o mesmo esquema religioso. Tornou-se mais liberal depois do casamento. Já independente da mãe, vivia segundo suas regras.

Meus avós arrumavam a mesa para as refeições sem preocupação com louças ou talheres. Diziam que ninguém come o prato e que o importante era o alimento. O café era adoçado no bule, um caneco para cada pessoa, a manteiga com uma faca dentro do pote, compartilhada por todos. O mesmo acontecia com a geleia. A nata do leite fervido afastada com um pequeno sopro antes de adicioná-lo ao café. Simples assim, trivial.

Na minha casa, mesmo na humildade, a relação com o visual e o conforto era mais estreita, sem nenhuma conexão com luxo, sofisticação ou requinte.  O café era servido num bule, porém amargo. Para tanto minha mãe abandonou os canecos, adotou xícaras, pires, açucareiro e colherzinhas. Facas individuais para cortar e preparar o pão, garfinho para o bolo e pratinhos de sobremesa onde colocar o alimento evitando deitá-lo sobre a toalha. Aumento de louça na pia, porém mais conforto e higiene.

Enquanto meus avós e tias ainda usavam toalhas de plástico pela praticidade com as crianças, lá em casa se usava toalha de tecido e guardanapos. Aprendemos desde criança a usar talheres básicos, não lamber a colherzinha do café e não apoiar os cotovelos na mesa. Os copos eram do tipo americano e taças só no Ano Novo para o brinde com frisante.

Agora que conheço, embora não use, talher para peixe, taças para água, vinho tinto, vinho branco, enfileiradas, fico imaginando o que diriam meus avós sobre isso. Com certeza diriam: “Que frescura”! “Luxo não enche o bucho”, ainda com a visão antiquada que não incluía boas maneiras. Mesmo assim sinto saudade das cucas de uva da Vó de Cima que eu segurava com a mão e ia mordendo. A outra segurava o caneco de café já adoçado, sem frescura.

14 comentários:

  1. "Luxo não enche o buxo". Qua belo aforismo! Não o conhecia, ótimo. Ótima crônica.

    ResponderExcluir
  2. Um luxo é receber um comentário seu, nosso primeiro coordenador e mentor do projeto de crônicas. Obrigada pelo carinho, Mário!

    ResponderExcluir
  3. Sim, as coisas sempre tomam rumos diferentes a cada geração. Não sei se é bom ou ruim? Mas a crônica está divina!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Adorei receber o conceito "divina". Vou ficar com este presente divino e deixar que cada um tome café à sua maneira.

      Excluir
  4. Acabei de perder meu comentário, aqui, quando tentei colocar o nome... Uso canecas. Colher para adoçar o café, só para a visita, pois tomamos café amargo mesmo. Não acho que seja frescura uma mesa bem posta, só não é meu estilo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tente publicar seu nome, leitor(a).
      Gostaria muito de conhecer sua identidade, já agradecendo sua participação e sua opinião tão importantes para nós, escritores.

      Excluir
  5. O aconchego da família permanece em nossas memórias de várias formas... A sensação é de conforto.

    ResponderExcluir
  6. A família é nosso pilar, nosso esteio e nosso colo. Podemos rodar o mundo, mas é para ela que sempre voltamos. Obrigada, Rita Mara.

    ResponderExcluir
  7. Sueli Fernandes: você nos traz às lembranças de um tempo ido, mas não findo na memória familiar. É uma viagem saborosa pela movimentação doméstica. Muito do que registrou aqui vivi entre os meus. Parabéns pela escrita! ALFREDO MOURÃO

    ResponderExcluir
  8. Obrigada, Mourão. Vivemos eventos semelhantes pois pertencemos à mesma geração, nas mesmas condições, eu creio. Entretanto temos muitas histórias para contar, fomos felizes e ainda somos, graças a Deus.

    ResponderExcluir
  9. Minha falecida mãe também tinha copos e pratos para todas as ocasiões, embora não passassem de ornamentos para satisfação própria, pois pouco os usava e não fazia alarde deles. Deu que os três filhos saíram frugais nesse aspecto.

    ResponderExcluir
  10. Respostas
    1. Eu que agradeço sua preciosa participação. Quando teremos o privilégio de ter um novo texto seu?

      Excluir
    2. Encaminharei texto na semana que vem, fazendo votos para que mereça ser bem recebido. Grande abraço.

      Excluir

Pedimos aos leitores do blog que desejem fazer comentários que se identifiquem, para que os autores conheçam sua origem.

Adoração da Cruz

Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes , Professora de Português e Inglês, residente em Ponta Grossa.           Já escrevi c...