Texto de autoria de Luiz Murilo Verussa Ramalho, servidor do Ministério Público Estadual, residente em Ponta Grossa.
Quem me contou
essa comovente crônica familiar autorizou a sua publicação e até pediu que
fossem dados os nomes, mas nesse ponto não pude atendê-la devido à delicadeza
do tema “sogra”, como se verá.
Sucedia que ela,
a sogra, era das mais arrojadas cozinheiras de seu tempo nos Campos Gerais e a
todos que cruzassem seu caminho não perdoava, antes lhes infligia doces e
salgados em quantidade que incrementava com força o pecado da gula e fazia
tremerem os fundos dos infernos.
Até aí, tudo
bem, não fosse que nossa personagem, prestes a casar com o filho único da santa
senhora em questão, já não tolerava mais sentar à sua mesa e passar pelo
périplo de tamanha diversidade de pratos. E, para maior açoite de sua
consciência, quanto mais enjoava, mais o destino prodigalizava oportunidades
para naquela casa se servir, já que a sogra morava pertinho de seu trabalho e
fazia questão de que lá almoçasse todos os dias.
O educado leitor
e a educada leitora – principalmente se tiverem filhos marmanjos – devem estar
achando absurdo que a indivídua (inventei essa palavra porque soa pejorativa)
comendo em abundância, com qualidade e gratuitamente, ainda fizesse desfeita.
Sei disso e concordo, ela também sabia e sofria muito, é a vida.
Mas havia
esperança. Como sabem os habitantes de Ponta Grossa e adjacências, por aqui
multiplicam-se festividades religiosas para as quais contribuem, com sua
experiência e talento, exércitos de senhoras e senhores geniais em tudo que se
asse, frite e cozinhe para comer. Veio a festa da Igreja do Sa... melhor não
dizer o santo, e a nossa heroína, que já passara da calça 42 para 38 e de olho
no simples, porém elevado nível gastronômico dos pastéis lá servidos, viu a
chance de comer uma coisinha diferente, mesmo porque era boa de garfo, essa
questão de refeição de sogra é que a traumatizava um pouco.
No almejado dia,
encarando o pastel de cenho franzido como quem contempla no longe uma glória
duramente buscada, ela mastigou a massa e, para seu desalento, descobriu que
sogras (é duro dizer, pois particularmente sempre gostei das minhas, mas é
verdade) nos encontram por caminhos sorrateiros e imprevisíveis. É que essa em
específico, além de ótima cozinheira e boa parenta, era também devotada fiel da
paróquia, a cuja cozinha se dedicava com amor e fúria em eventos tais, tanto
que seu pastel foi a iguaria mais vendida naquele ano e levantou recursos
surpreendentes para a Santa Madre.
Como eu disse, é a vida. O casamento, pelo menos, deu certo.
Excelente, Luiz Murilo! Sou sua fã de carteirinha. Você escreve muito bem, ótimo vocabulário e ainda inventa outros vocábulos como "individua". Parabéns!!
ResponderExcluirUm texto farto!!! kkkk
ResponderExcluirÔ vontade de comer esse pastel de sogra! Violentamente pecaminoso, por isso mesmo delicioso, seu texto! Parabéns!
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