Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, residente em Ponta Grossa.
Com
os acordes menores e murmurantes da celebração litúrgica da tarde de Sexta-feira Santa ainda ecoando nos ouvidos, com os olhos ainda brilhando por lágrimas
de uma contrição despertada pelas imagens da Paixão de Cristo, expressas pelo
celebrante, pela liturgia da palavra e pelo ministério dos cantos, é que
escrevo estas palavras.
Pela
manhã, a Adoração Eucarística na Igreja Santa Terezinha, na Vila Estrela, envolta
em preces, leituras bíblicas exaltando o grande amor de Deus, que tomou forma e
pendores humanos em Jesus Cristo, representou um bálsamo de fé e esperança. Vou
repetir, a meu modo, uma parte das meditações: o amor tem sido caracterizado erroneamente
como abstrato. Não faz sentido, já que a melhor forma de expressar o amor é por
meio de atos concretos de empatia, caridade, e a maior prova disso são a
Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
Pela
tarde, na Igreja São Cristóvão, em Oficinas, contemplando os suplícios da cruz,
que o Amor encarnado teve que sofrer, constatar a natureza cruel da Humanidade
desde os tempos mais remotos, que ainda hoje aflora violentamente, me fez chorar.
Num sermão anterior, o Padre havia esclarecido os fiéis sobre as motivações de
Judas para trair e entregar Jesus aos que temiam perder terreno político para
um pregador plebeu. Consegui entender que a sordidez dessa traição era tudo que
poderia ser esperado de qualquer humano: manipulação de forças independentes e
puras para realização dos próprios propósitos. Ele era um revolucionário à
espera de um líder que fosse de tal forma poderoso que pudesse aniquilar os
opressores do povo judeu. Sabia que Jesus tinha esse poder, havia visto os
milagres, as curas, os pães multiplicados, as multidões o seguindo. Entretanto,
achou que esse líder precisava de um empurrãozinho para transformar todo esse
poder em fúria suficiente para incendiar a revolução, e numa demonstração de
grandeza reconquistasse a libertação para o povo judeu, que sofria sob o jugo
romano, com a cumplicidade de seus próprios líderes. Entretanto, na
Sexta-feira, o Mestre estava morto. Morreu humilhado e sem expressar fúria
alguma.
Para
Judas não houve o regozijo da gloriosa vitória do Mestre sobre a própria morte,
legando a mesma vitória àqueles que comeram sua carne e beberam seu sangue, na
Última Ceia. Não pôde ver que Jesus teve uma Sexta-feira de horror para que os
seus pudessem herdar o Domingo da Ressurreição. Judas só teve o Sábado Santo, e
a malhação de seus restos mortais.
Rosicler, para você não faltam temas. Transforma tudo em motivos para crônicas. Este é o dom de um escritor. Valeu, menina!
ResponderExcluirUma linda crônica/reflexão!!! Parabéns!!!
ResponderExcluirObrigada, Sueli, Mário! A semana santa sempre me emociona, sempre descubro mais alguma claridade que ainda posso buscar.
ResponderExcluir