segunda-feira, 24 de julho de 2023

Semana Santa

Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, residente em Ponta Grossa.

Postado no Portal aRede em 25/07/2023.

Com os acordes menores e murmurantes da celebração litúrgica da tarde de Sexta-feira Santa ainda ecoando nos ouvidos, com os olhos ainda brilhando por lágrimas de uma contrição despertada pelas imagens da Paixão de Cristo, expressas pelo celebrante, pela liturgia da palavra e pelo ministério dos cantos, é que escrevo estas palavras.

Pela manhã, a Adoração Eucarística na Igreja Santa Terezinha, na Vila Estrela, envolta em preces, leituras bíblicas exaltando o grande amor de Deus, que tomou forma e pendores humanos em Jesus Cristo, representou um bálsamo de fé e esperança. Vou repetir, a meu modo, uma parte das meditações: o amor tem sido caracterizado erroneamente como abstrato. Não faz sentido, já que a melhor forma de expressar o amor é por meio de atos concretos de empatia, caridade, e a maior prova disso são a Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.

Pela tarde, na Igreja São Cristóvão, em Oficinas, contemplando os suplícios da cruz, que o Amor encarnado teve que sofrer, constatar a natureza cruel da Humanidade desde os tempos mais remotos, que ainda hoje aflora violentamente, me fez chorar. Num sermão anterior, o Padre havia esclarecido os fiéis sobre as motivações de Judas para trair e entregar Jesus aos que temiam perder terreno político para um pregador plebeu. Consegui entender que a sordidez dessa traição era tudo que poderia ser esperado de qualquer humano: manipulação de forças independentes e puras para realização dos próprios propósitos. Ele era um revolucionário à espera de um líder que fosse de tal forma poderoso que pudesse aniquilar os opressores do povo judeu. Sabia que Jesus tinha esse poder, havia visto os milagres, as curas, os pães multiplicados, as multidões o seguindo. Entretanto, achou que esse líder precisava de um empurrãozinho para transformar todo esse poder em fúria suficiente para incendiar a revolução, e numa demonstração de grandeza reconquistasse a libertação para o povo judeu, que sofria sob o jugo romano, com a cumplicidade de seus próprios líderes. Entretanto, na Sexta-feira, o Mestre estava morto. Morreu humilhado e sem expressar fúria alguma.

Para Judas não houve o regozijo da gloriosa vitória do Mestre sobre a própria morte, legando a mesma vitória àqueles que comeram sua carne e beberam seu sangue, na Última Ceia. Não pôde ver que Jesus teve uma Sexta-feira de horror para que os seus pudessem herdar o Domingo da Ressurreição. Judas só teve o Sábado Santo, e a malhação de seus restos mortais.

3 comentários:

  1. Rosicler, para você não faltam temas. Transforma tudo em motivos para crônicas. Este é o dom de um escritor. Valeu, menina!

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  2. Uma linda crônica/reflexão!!! Parabéns!!!

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  3. Obrigada, Sueli, Mário! A semana santa sempre me emociona, sempre descubro mais alguma claridade que ainda posso buscar.

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