segunda-feira, 3 de julho de 2023

O dramaturgo inglês e as lágrimas da princesa

Texto de autoria de Wilson Czerski, militar da Aeronáutica, escritor e jornalista aposentado, natural de Ponta Grossa e residente em Curitiba.

Postado no Portal aRede em 04/07/2023.

Últimos minutos de 2019. E mais gente chegava ao Parque Ambiental. Milhares já ocupavam as calçadas e o gramado, garrafas de espumante na mão.

A passarela abarrotada. Namorados, famílias inteiras. Uma mãe com o bebê no colo, um pai com o garotinho nos ombros. Atrás, o Palladium e à frente a Estação Saudade e o futuro a partir de uma página virada, de esperanças que teimam em não morrer, novos e velhos sonhos.

Pouco antes da meia-noite, à direita, esvaziado, o parque de diversões desligou todos os brinquedos e, à esquerda, o entra-e-sai dos ônibus no terminal cessou de vez para que motoristas e cobradores também pudessem comemorar o ano-novo.

Expectativa crescente para a queima de fogos que, chegado o segundo exato, romperam os céus de Ponta Grossa, fascinantes, coloridos, ruidosos. Quando acabou e as pessoas alegremente começaram a voltar para suas casas, continuariam celebrando. Almoço especial, brindes, abraços, o otimismo de todo início de ano. Mal sabiam o que estava por vir. O destino a pregar peças. Nenhuma vidente previu a catástrofe que se abateria sobre todos.

Uma dúvida biológica shakespeariana. Um ser-não-ser vivo, genoma empacotado em uma proteína que não sobrevive sem vítimas. Vírus sinistro que deixaram ou fizeram escapar de um laboratório chinês. Que pôs de joelhos os orgulhosos, que não escolheu alvos.

E Ponta Grossa teve que assumir o seu quinhão de tragédia. As ruas vazias, tristes e silenciosas. As pessoas condenadas à prisão domiciliar. Pais mais ricos, próximos dos filhos, célula familiar fortalecida, mas apartada do corpo social. Avós sem netos, idosos reclusos, engolidos pela solidão.

Portas cerradas. Sinal de vida só nos supermercados, farmácias e postos de gasolina. Comida para os vivos, remédio para os ameaçados, ambulâncias para socorrer os contaminados e carros pretos para levar os mortos, sem tempo para a despedida.

Liberdade subtraída, especialistas em nada baixando decretos, ameaçando, proibindo. Máscaras, lockdowns, experimentos vacinais. Um olhar divino. Perguntas sem respostas. O caos e a vida suspensa. Pesadelo. E volta o dramaturgo inglês lembrando que Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia. Ou ciência.

A agonia dos hospitalizados, superlotação, gente nos corredores, heróis de branco exauridos, falta de vagas, famílias torturadas.

A espécie humana sobreviveu, mas milhares de soldados caíram no campo de batalha. E as lágrimas derramadas pela Princesa dos Campos, jamais serão esquecidas.

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