Texto de autoria de Wilson Czerski, militar da Aeronáutica, escritor e jornalista aposentado, natural de Ponta Grossa e residente em Curitiba.
Últimos
minutos de 2019. E mais gente chegava ao
Parque Ambiental. Milhares já ocupavam as calçadas e o gramado, garrafas de
espumante na mão.
A
passarela abarrotada. Namorados, famílias inteiras. Uma mãe com o bebê no colo,
um pai com o garotinho nos
ombros. Atrás, o Palladium e à frente a Estação Saudade e o futuro a partir de
uma página virada, de esperanças que teimam em não morrer, novos e velhos sonhos.
Pouco
antes da meia-noite, à direita, esvaziado, o parque de diversões desligou todos
os brinquedos e, à esquerda, o entra-e-sai dos ônibus no terminal cessou de vez
para que motoristas e cobradores também pudessem comemorar o ano-novo.
Expectativa
crescente para a queima de fogos que, chegado o segundo exato, romperam os céus
de Ponta Grossa, fascinantes, coloridos, ruidosos. Quando acabou e as pessoas
alegremente começaram a voltar para suas casas, continuariam celebrando. Almoço
especial, brindes, abraços, o otimismo de todo início de ano. Mal sabiam o que
estava por vir. O destino a pregar peças. Nenhuma vidente previu a catástrofe
que se abateria sobre todos.
Uma
dúvida biológica shakespeariana. Um ser-não-ser vivo, genoma empacotado em uma proteína que não sobrevive sem
vítimas. Vírus sinistro que deixaram ou fizeram escapar de um laboratório
chinês. Que pôs de joelhos os orgulhosos, que não escolheu alvos.
E
Ponta Grossa teve que assumir o seu quinhão de tragédia. As ruas vazias,
tristes e silenciosas. As pessoas condenadas à prisão domiciliar. Pais mais ricos,
próximos dos filhos, célula familiar fortalecida, mas apartada do corpo social.
Avós sem netos, idosos reclusos, engolidos pela solidão.
Portas
cerradas. Sinal de vida só nos supermercados, farmácias e postos de gasolina.
Comida para os vivos, remédio para os ameaçados, ambulâncias para socorrer os
contaminados e carros pretos para levar os mortos, sem tempo para a despedida.
Liberdade
subtraída, especialistas em nada baixando decretos, ameaçando, proibindo.
Máscaras, lockdowns, experimentos
vacinais. Um olhar divino. Perguntas sem respostas. O caos e a vida suspensa. Pesadelo.
E volta o dramaturgo inglês lembrando que Há
mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia.
Ou ciência.
A
agonia dos hospitalizados, superlotação, gente nos corredores, heróis de branco
exauridos, falta de vagas, famílias torturadas.
A
espécie humana sobreviveu, mas milhares de soldados caíram no campo de batalha.
E as lágrimas derramadas pela Princesa dos Campos, jamais serão esquecidas.
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