Texto de autoria de Luiz Murilo Verussa Ramalho, servidor do Ministério Público Estadual, residente em Ponta Grossa.
É
fato comprovado pela experiência de conhecidos que atuaram no ramo: embora seja
próprio de cachorros de qualquer naturalidade atacar trabalhadores que passam a
pé ou de bicicleta, os cães princesinos são especialmente ferozes e não perdoam
os operários semoventes (no bom sentido).
Os
casos contados nessa quadra são numerosos e as vítimas descrevem um
caleidoscópio narrativo que varia entre a ira completa e as mal confessadas
saudades. Segundo um amigo, daqueles tempos só lhe faz falta o excelente
condicionamento físico que adquiriu fugindo das matilhas que campeavam os
distritos de Ponta Grossa. Privado desse estímulo, resta-lhe agora o esboço do
esboço de uma vida de atleta, praticando triatlo e correndo as maratonas que a
Unimed promove na cidade.
Outro
indivíduo que consultei a respeito lastima muito o canino desapreço, mas
pondera que tragédia alguma surpreende o trabalhador bem precavido e conhecedor
das mazelas que assolam seu ofício. Por isso, quando visitava o Centro, onde
morava um animal que nutria por ele especial e injustificada predileção, punha
a mesma e castigada calça, pois soubera que o bicho andara padecendo forte
congestão após digerir alguns fiapos da peça numa investida anterior.
Agora
(referência gratuita!), tal como bem demonstrou Machado de Assis em seu A Igreja do Diabo, no meio das desgraças
mais fundas e quando a devassidão se torna generalizada, resplandece o Bem que
não imagináramos brotando lá.
Contou-me
um servidor da Sanepar. Nesta cidade tomada por animais contrários à CLT,
apareceu pelos lados do Cristo Rei o Niki, labrador de forte têmpera
republicana e cuja veia nacional-desenvolvimentista não tolerava ofensa aos
funcionários da Companhia de Águas.
Mal
via passar um leiturista para fazer as medições nos hidrômetros, o Niki saltava
e ia escoltá-lo rua abaixo, rosnando contra as ameaças e exigindo urbanidade de
seus pares. Nos primeiros dias, os cães da vizinhança não fizeram caso, mas as
bordoadas pedagógicas do Niki puseram todos na linha. Dali a pouco não havia
lugar melhor para pegar no batente, o espírito cívico de Niki impôs na região a
pax Romana; com gente trabalhando o
tratamento passou a ser de “bom dia”, “pois não” e “muito obrigado”.
Com
a aposentadoria do velho labrador, o ideal seria arranjar uns oitenta dele e
distribuí-los por pontos estratégicos da região. Mas onde se acham outros
Nikis? Lide com essa, ó, Diretoria.
Bem humorada e criativa! ALFREDO MOURÃO
ResponderExcluirGenial! Adoro textos sobre caninos.
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