Texto de autoria de Sílvia Maria Derbli Schafranski, advogada e Mestre em Ciências Sociais pela UEPG, residente em Ponta Grossa.
Palmeira é uma
cidade do interior, pacata e acolhedora, que esconde muitas histórias curiosas
e engraçadas.
Amanda era uma
juíza do trabalho recém-chegada, cujos dias começavam muito cedo e o trabalho
se estendia até muito tarde.
Em uma
segunda-feira, ela olhou para o relógio e suspirou. Era seu aniversário de
casamento e seu marido havia ignorado o fato. Não era a primeira vez, mas desta
feita ela ficou realmente furiosa.
O relógio bateu
oito horas e o meirinho começou a apregoar as partes:
- Giovanni
Rossi! Giovanni Rossi! gritava pelos corredores do fórum. Na vigésima chamada
ouviu-se um grito histérico oriundo da sala de audiência:
- Pode parar de
chamar porque esse aí já morreu!
Amanda se
descontrolou, indagando o advogado sobre o que estaria pensando ao colocar o
nome de um falecido como reclamante.
Desconcertado,
ele disse que o estagiário que redigiu a peça processual inaugural
provavelmente colocou o endereço da parte em substituição ao seu nome.
Enraivecida,
Amanda arremessou uma CLT em direção à cabeça do advogado, perguntando se ele
pretendia transformar o fórum trabalhista numa anarquia.
- Não,
Excelência. Aliás, a senhora é quem está faltando com o dever de urbanidade. E
a propósito, mencionou, o falecido Giovanni Rossi coincidentemente foi quem
transformou Palmeira em palco da única experiência anarquista na América
Latina.
E continuou:
tivesse implementado o anarquismo a senhora já teria perdido a função. Explicou
ele que este pregava a abolição do Estado e a organização da sociedade de forma
igualitária e autogerida pelos trabalhadores. Palmeira era terreno fértil, com
seus imigrantes italianos e comunidades de trabalhadores que se sentiam
explorados pelo sistema político vigente.
A juíza
lamentou o ocorrido, desculpou-se e desmaiou. Foi levada às pressas ao
hospital.
Era apenas
ansiedade. E, ao acordar, ainda no hospital, foi surpreendida pelo marido que a
presenteou com flores e com um livro.
A história do
surto se espalhou. Sobrecarga de trabalho, insanidade mental ou o próprio
marido podiam ser a causa.
Assim, Amanda
percebeu a sua rotina sufocante. E os compromissos com os filhos geravam uma
jornada dupla de trabalho.
Tudo foi
minuciosamente colocado por ela a seu marido, que percebeu que precisava se
dedicar mais à esposa, passando a fazer elogios sinceros e demonstrando mais
carinho e atenção.
Contudo, cada
vez que se aproxima o seu aniversário de casamento, os advogados trabalhistas
ainda têm muito receio de adentrar o fórum.
Belo texto. Parabéns!!!
ResponderExcluirMuito obrigada!
ResponderExcluirVocê escreve muito bem!
ResponderExcluirUm caso interessante e muito gostoso de ler. Parabéns!
ResponderExcluirUma mulher ferida em seu orgulho pelo próprio marido desatento é capaz de botar fogo no fórum!
ResponderExcluirParabéns pelo texto! Palmeira tem muitas Histórias.
ResponderExcluirLembro que visitei o museu "Anarquista", organizado pelo professor Arnoldo Bach, e fiquei bastante impressionado com as história. :)