Texto de autoria de Wilson Czerski, militar da Aeronáutica, escritor e jornalista aposentado, natural de Ponta Grossa e residente em Curitiba.
Naquela
época denominavam de centro de mesa branca. E por que isso? Porque, de fato, na
maioria das vezes, o que se via nos recintos era uma mesa, geralmente, longa e
retangular, coberta por uma toalha alva ou um tanto quanto amarelada pelo tempo
de uso.
O fato
é que no bairro de Olarias havia um destes centros, próximo à laminadora dos
Wagner, numa esquina de rua de terra e sem iluminação. Era uma construção em
madeira, nos fundos da casa do “dono do centro”.
Devia
ter uns 20 metros de comprimento e, no máximo, oito de largura. Internamente, a
mobília era constituída pela mesa já referida, com mais ou menos 12 cadeiras,
também de estrutura de madeira e assentos de palha, e vários bancos rústicos
encostados às paredes e outros enfileirados a partir da porta única.
O
responsável era um senhor de uns 60 anos, cabelo e longa barba brancos que lhe
impunham um ar de profundo respeito, como se fosse Moisés ou algum velho
profeta. Seu nome era totalmente estranho. Para agravar, em vez de falarem
Geniplo, chamavam-no de Genipo.
As
sessões ocorriam todas terças e quintas-feiras, além de uma especial a todo dia
27 de cada mês, quando até o horário era alterado, passando do normal das oito
da noite para as seis da tarde. Nessa ocasião, para se estabelecer a “corrente”
de mãos dadas e, sempre que possível, alternando-se homens e mulheres, os
“trabalhadores” permaneciam de pé. Em uma vitrola, colocada em um dos cantos,
havia a audição da belíssima prece de Cáritas.
Em
todas as sessões os médiuns e os outros à mesa usavam guarda-pó branco. Sobre a
mesa tabletes de defumação e velas comuns para iluminar o ambiente e o mundo
dos espíritos, pois que tudo se passava com as luzes apagadas e todos os presentes tinham que permanecer de
olhos fechados e proibidos de cruzar braços e pernas. Ali se manifestavam
várias entidades, entre elas Joana D’Arc e São Jorge, ambos guerreiros, cujas
imagens podiam ser vistas, lado a lado, em uma das paredes.
Aquele
centro era famoso pelas curas. Vinha até gente de Curitiba, alguns de
automóvel, em busca de tratamento. Mas não acontecia nenhum espetáculo ali. Apenas
muita repetição do “Pai-Nosso”, puxada pelo dirigente ou alguém outro
autorizado para isso.
O
atendimento se resumia ao “passe” pela imposição de mãos e o chamado
“receituário” onde um dos médiuns, em aparente transe, escrevia a lápis, sobre
um maço de papel, as receitas de medicação homeopática ou, talvez, de alguma
erva.
O
resto ficava por conta da fé de cada um.
Que lindo relato, Wilson! Será que existe ainda?
ResponderExcluirAh, Rosicler, eu não acredito. Faz muito tempo.
ExcluirBela e precisa descrição da sessão espírita
ResponderExcluirAh Olarias e suas idiossincrasias! Olarias é referência para muitas pesquisas em torno de manifestações interculturais. Espaço original de movimentos artísticos e berço de artistas plurais que se notabilizaram no decurso do tempo. Agregue-se a isso ser o "berço" das escolas de samba. Cumprimentos ao autor pelo compartilhamento dessa belíssima lembrança! ALFREDO MOURÃO
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