Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa.
Postado no Portal aRede em 23/08/2022, no Portal CulturAção em 08/11/2022, e publicado no Diário dos Campos em 19/01/2023.
Brasil, 500 anos, Ponta Grossa, 200 anos... Esquecemos os milhares de anos em que as trilhas – interação entre predadores e presas, ou que conduziam às fontes naturais de alimentos, como as florestas de araucárias – foram traçadas pela naturalidade das pisadas com pés descalços por entre florestas e cerrados, por questões de mera sobrevivência.
Entretanto,
mitos e lendas indígenas, que não nasceram com o “descobrimento”, ainda pedem
para integrar-se ao patrimônio folclórico, cultural, popular, das regiões de
onde povos originais foram expulsos com violência e extrema crueldade,
permanecendo, ainda hoje, amplamente “desconhecidos” da sociedade dominante.
Falamos em Saci, Curupira, Boitatá, Iara; falamos em Gralha Azul, João-de-barro,
e na Cidade de Pedra, mas não damos importância ao território, aos espíritos
ancestrais, às grandes viagens míticas do povo Guarani; não sabemos da
importância das “belas palavras” (mboraí
poku), e da entonação a elas dada na comunicação com os ancestrais, dos
quais os guaranis se entendem como descendentes sagrados. Não fazemos a mínima
ideia do significado dos traços, nas pinturas do corpo do povo Kaingang, nem de
sua organização social em duas metades míticas... Temos localidades, rios,
morros, batizados com expressões dessas e de outras nações originais, que
deixaram essa herança linguística. Desconhecemos a beleza dos mitos
cosmogônicos desses povos, desconhecemos sua peregrinação para escapar às
perseguições que os exterminavam ou os caçavam para os escravizar;
desconhecemos sua luta atual para manterem espaços territoriais minimamente
suficientes para seu modo de vida, para transmissão de sua riqueza cultural,
embora nossa Constituição tenha consolidado alguns desses direitos.
E que dizer das culturas africanas que
foram esmagadas e sufocadas pelo regime da escravidão? Que, apesar de artigos
constitucionais as protegerem de preconceitos, são constantemente atacadas, sob
olhares complacentes da sociedade?
Comemoramos o Folclore, em agosto, e o
Dia do Indígena, em abril – nós não temos uma festa com o porte de um
Halloween, para transmitirmos essas culturas; as escolas fazem adereços, pintam
os rostos das crianças, e as adornam com penas – não convidamos um Kuiã, um
Karaí, um Babalorixá, para transmitirem suas culturas originais nas praças,
escolas e parques. Que pena!
Parabéns Rosicler. Oportuníssimo neste 22 de agosto, dia do folclore brasileiro. Desconhecer a cultura dos povos originários dos quais somos descendentes, e a cultura popular que resulta do sincretismo de todos os povos da nação Brasil, é o sinal da falta de identidade que nos tem debilitado e nos tem imputado, entre outros tantos estrangeirismos, o Halloween e tudo que ele traduz de alienação cultural.
ResponderExcluirObrigada, Mário Sérgio, pela pronta resposta a minha modesta intenção de recordar o nosso povo, sempre pronto a valorizar estrangeirismos, que temos uma origem tão sofrida quanto bela.
ExcluirLindo e reflexivo texto.
ResponderExcluirE infelizmente, como sentenciara: "Que pena!".
At.te
Gratidão, Antonio Castro! Aproveito seu comentário para externar mais um Que pena! Que pena não valorizarmos devidamente ponta-grossenses como Faris Antonio Michaele, estudioso da profunda miscigenação que estendeu a genética indígena de tal forma, que podemos todos nos considerarmos indígenas também.
ExcluirParabéns Rosicler, ficou muito bom um assunto esquecido que de ser lembrado.
ResponderExcluirParabéns pelo excelente texto, Rosicler!
ResponderExcluirParabéns, Rosicler, adoro esse vezo histórico de mistura com literatura. Grande abraço.
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