Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, professora aposentada, Ponta Grossa.
Postado no Portal aRede em 11/08/2022, no Portal CulturAção em 01/11/2022, e publicado no Diário dos Campos em 25/11/2022.
Diariamente saio às ruas cumprindo compromissos
sociais, de trabalho, de lazer ou de cultura. A cidade é linda e fotografo
algumas cenas que me agradam, principalmente árvores floridas. Não posso deixar
de notar no meu trajeto, a existência do crescente número de caçambas de
diferentes tamanhos e logomarcas de empresas do ramo, seja no centro ou nos
bairros da cidade. Entulho seria sinônimo de crescimento? A querida Ponta
Grossa certamente responderia que sim. A quase bicentenária Princesa dos
Campos, que aniversaria em 15 de setembro, prepara-se para o evento que marcará
seus 200 anos de criação, desde aquele longínquo 1823, assumindo ares de
juventude com o grande impulso na construção civil. Principalmente nos bairros
os terrenos baldios são preenchidos com novas edificações, casas, sobrados e
prédios com muitos andares. Resíduos provenientes dessas construções,
fragmentos ou restos de tijolos, concreto, argamassa, arames ou madeira têm seu
descarte correto nas caçambas à beira das obras. Os tapumes de um material
prateado, diferente do habitual que reflete os raios solares, é o indicativo de
algo novo. Próximo à minha casa, onde residia a família de um bancário, o
terreno desocupado coberto de vegetação e sinais de abandono está sendo ocupado
por uma obra que modificará a paisagem. Por outro lado, o que causa tristeza e
desconsolo e que também ocupam caçambas, são os entulhos da demolição
indiscriminada. Em meio aos cortantes cacos de telhas coloniais, de cantos de
tijolos rosados, da cinzenta argamassa e do concreto quase indestrutível, vão-se
também as lembranças, imagens, memórias do que ali estava representado.
Edificações que fazem parte da Ponta Grossa antiga, do Patrimônio Histórico,
são derrubadas sem piedade com golpes não só na estrutura física, mas também
nos sangrantes corações preocupados com a preservação de sua história. Exemplos
recorrentes estão escancarados por aí no reino de uma Princesa. Existem grupos
de moradores que denunciam essas atitudes de completo descaso com a preservação,
como o grupo Sherlock Holmes Cultura. Esse atuante grupo de pessoas, com o
mesmo objetivo, está conseguindo importantes conquistas nesse campo em que o
interesse financeiro passa a máquina em cima da história e enche as caçambas de
entulho.
Muito apropriadas as observações, redigidas impecavelmente. Parabéns, Sueli.
ResponderExcluirObrigada pela leitura e pelo comentário, Rosicler.
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