segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Máscaras aqui e acolá

 Texto de autoria de Murillo Emanuel de Lara, estudante de Administração da UEPG, estagiário da Prefeitura de Ponta Grossa.

Postado no Portal aRede em 18/11/2020, publicado no Correio Carambeiense em 12/12/2020, lido na CBN Ponta Grossa em 29/01/2021.

            Mais um dia normal na vida do Seu Joaquim. Normal na medida do possível. Com quase um ano de pandemia e de máscaras no rosto ─ Deus, como as odiava ─, já fazia algum tempo que o Seu Joaquim não via o parque recheado de crianças e os bares da vizinhança cheios com seus velhos amigos que se reuniam toda sexta para tomar aquela cervejinha em um copo americano, mas ele ia sobrevivendo como podia, ele e a Dona Marta, sua esposa.

            Nesse dia em específico, ele saiu de casa para ir ao centro da cidade pagar seu boleto da internet ─ no mês anterior haviam cortado sua internet, ele não queria que isso se repetisse, não hoje ─, mais tarde Teodoro e Sampaio iriam fazer uma live no YouTube e ele não queria perder, justo agora que tinha aprendido a “lidar” nessas coisas. Seu filho, Roberto, estava viajando e não poderia pagar seu boleto e a sua filha mais nova, Aline, estava passando o final de semana na casa do novo namorado, um tal de Jonatan, ou qualquer coisa parecida. Seu Joaquim não gostava dele e não aprovava esse namoro. Seguiu seu caminho em direção ao ponto de ônibus, até que viu a Dona Elizabeth, sua vizinha há anos, sempre se reuniam para tomar um chimarrão e falar mal dos vizinhos que acabaram de se mudar para o bairro. Ao avistá-la, não hesitou em falar: ─ Bom dia, Dona Bete, bão? Como está tudo? ─, ela abaixou a cabeça e passou reto por ele. ─ Deve ter brigado com o Seu Alfredo ─, pensou.

            Seguiu seu caminho e procurou não pensar sobre o assunto. Chegando ao ponto de ônibus, que estava cheio, notou algumas pessoas olhando torto para ele e algumas se afastaram. ─ As pessoas não têm mais respeito com os mais velhos como antigamente ─, matutou aborrecido.

            O ônibus chegou, todos entraram e quando chegou a vez do Seu Joaquim entrar, ouviu: ─ Sinto muito, senhor, mas não pode entrar, não ─. Ele poderia aturar desaforo dos vizinhos, mas do motorista de ônibus já era exagero. Retrucou: ─ E quem é você para dizer se eu posso ou não entrar? ─, foi só então que ele ergueu a cabeça e olhou para o rosto do motorista e notou que ele usava uma mascara azul com um bordado escrito “VCG” e percebeu o que estava acontecendo.

            Ele havia esquecido a sua máscara na cabeceira da cama.


4 comentários:

  1. Olá, Murillo, bem-vindo ao grupo! Essas máscaras enlouquecem qualquer um e não só o Seu Joaquim. Atire a primeira pedra aquele que não se viu na mesma situação constrangedora. E dá uma raiva! Parabéns pelo texto com conteúdo bem atual.

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    1. Obrigado pelas boas vindas! Fico feliz em contribuir para algo tão importante. Sim, as máscaras são complicadas de lidar mesmo hahaha. Obrigado pelo comentário e espero ter agradado com o conteúdo!!

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  2. Marlene Castanho

    Murilo Emanuel, você retratou no texto exatamente o que anda acontecendo... Às vezes da um branco, e o esquecimento da bendita máscara acontece. Mancada imperdoável...KKK Sua crônica faz refletir e rir... Muito bom, gostei muito da leitura...

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    1. Obrigado! Fico feliz que tenha gostado da leitura HAHAHA E sim, essa situação se tornou muito frequente hoje em dia, infelizmente. A tal da máscara só incomoda.

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