Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa.
Publicado no Correio Carambeiense em 14/11/2020, lido na CBN Ponta Grossa em 07/01/2021, postado no Portal aRede em 20/01/2021.
Meu
filho aprendeu a ler precocemente. Aos três anos copiava o nome do jornal O Estado do Paraná, que era lido pela
família, usando letrinhas de plástico, seu brinquedo favorito. E daí para a
leitura e escrita foi um pulo.
Passeávamos
pela Praça da Catedral quando ele me chamou, ansioso para que eu visse algo que
lhe chamara a atenção: ─ Veja, mãe! Aqui é a sede do Santos! ─ (referindo-se ao
time de futebol). Aproximei-me do monumento à Bíblia, em cuja placa havia a
inscrição “Sêde santos...”
Recentemente
a neta de cinco anos de uma amiga foi visitá-la, mas não saiu do carro, devido
ao coronavírus ainda circulante e gritou de longe: ─ Vó, não posso te abraçar
porque estou “quarentada” ─. Ela transformou o substantivo em verbo e
conjugou-o usando o tempo verbal adequado.
Nossa
primeira reação é rir do fato, não há como evitar, mas depois abraçamos essas
criaturinhas tão pequeninas e vemos o quanto são inteligentes.
Num
passeio rural às margens do Alagados, as crianças estavam correndo por toda a
redondeza. A bela paisagem, os campos, longe do rio, nenhum perigo de acidente,
o mundo lhes pertencia. Não havia divisórias entre os terrenos e elas foram
parar na garagem de um vizinho. Depararam-se com uma carreta usada para
carregar barcos, leram a placa e vieram com a pergunta na ponta da língua: ─ Pai,
onde fica a cidade de Reboque?
Elas
ultrapassam a fase dos porquês mas continuam surpreendendo com suas perguntas
desconcertantes e este é o vetor de sua aprendizagem não formal, empírica, que
servirá para ampliar horizontes e prepará-las para o aprendizado acadêmico.
Os
netos de uma amiga moravam em apartamento e frequentemente visitavam a avó que
vivia em uma casa. A cada visita a avó lhes dizia: ─ Vão brincar lá fora! ─. Um
dia perguntaram à sua mãe: ─ Onde fica o “lá fora” aqui de casa, mãe?
Parece
que elas têm o Livro dos Recordes na
cabeceira, pois querem saber qual é o maior do mundo, qual é o menor do
mundo... Um dia, conversando sobre o maior rio, meu filho quis saber qual era o
menor rio do mundo: ─ Se tem o maior deve haver o menor. Não tem como saber ─,
falei. Em seguida me surpreendeu perguntando: ─ Mãe, então qual é o maior médio
do mundo?
Perguntam
tudo o que desejam saber pois ainda não foram atingidas pelo prejudicial freio
do constrangimento, inimigo do conhecimento.
Marlene Castanho
ResponderExcluirSueli, parabéns pelo texto! E palmas para a Liberdade de Expressão que, imprescindível, já nasce na infancia...
Obrigada, Marlene. Crianças criadas por pais que dão liberdade a que se expressem serão pais de um adulto que conhecerá e defenderá seus direitos como cidadão. Imprescindível como você bem definiu.
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