segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Criança diz cada uma!

 

Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa.

Publicado no Correio Carambeiense em 14/11/2020, lido na CBN Ponta Grossa em 07/01/2021, postado no Portal aRede em 20/01/2021.

Meu filho aprendeu a ler precocemente. Aos três anos copiava o nome do jornal O Estado do Paraná, que era lido pela família, usando letrinhas de plástico, seu brinquedo favorito. E daí para a leitura e escrita foi um pulo.

Passeávamos pela Praça da Catedral quando ele me chamou, ansioso para que eu visse algo que lhe chamara a atenção: ─ Veja, mãe! Aqui é a sede do Santos! ─ (referindo-se ao time de futebol). Aproximei-me do monumento à Bíblia, em cuja placa havia a inscrição “Sêde santos...”

Recentemente a neta de cinco anos de uma amiga foi visitá-la, mas não saiu do carro, devido ao coronavírus ainda circulante e gritou de longe: ─ Vó, não posso te abraçar porque estou “quarentada” ─. Ela transformou o substantivo em verbo e conjugou-o usando o tempo verbal adequado.

Nossa primeira reação é rir do fato, não há como evitar, mas depois abraçamos essas criaturinhas tão pequeninas e vemos o quanto são inteligentes.

Num passeio rural às margens do Alagados, as crianças estavam correndo por toda a redondeza. A bela paisagem, os campos, longe do rio, nenhum perigo de acidente, o mundo lhes pertencia. Não havia divisórias entre os terrenos e elas foram parar na garagem de um vizinho. Depararam-se com uma carreta usada para carregar barcos, leram a placa e vieram com a pergunta na ponta da língua: ─ Pai, onde fica a cidade de Reboque?

Elas ultrapassam a fase dos porquês mas continuam surpreendendo com suas perguntas desconcertantes e este é o vetor de sua aprendizagem não formal, empírica, que servirá para ampliar horizontes e prepará-las para o aprendizado acadêmico.

Os netos de uma amiga moravam em apartamento e frequentemente visitavam a avó que vivia em uma casa. A cada visita a avó lhes dizia: ─ Vão brincar lá fora! ─. Um dia perguntaram à sua mãe: ─ Onde fica o “lá fora” aqui de casa, mãe?

Parece que elas têm o Livro dos Recordes na cabeceira, pois querem saber qual é o maior do mundo, qual é o menor do mundo... Um dia, conversando sobre o maior rio, meu filho quis saber qual era o menor rio do mundo: ─ Se tem o maior deve haver o menor. Não tem como saber ─, falei. Em seguida me surpreendeu perguntando: ─ Mãe, então qual é o maior médio do mundo?

Perguntam tudo o que desejam saber pois ainda não foram atingidas pelo prejudicial freio do constrangimento, inimigo do conhecimento.

2 comentários:

  1. Marlene Castanho
    Sueli, parabéns pelo texto! E palmas para a Liberdade de Expressão que, imprescindível, já nasce na infancia...

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  2. Obrigada, Marlene. Crianças criadas por pais que dão liberdade a que se expressem serão pais de um adulto que conhecerá e defenderá seus direitos como cidadão. Imprescindível como você bem definiu.

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