segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Namoro por acaso

 

Texto de autoria de Alfredo Mourão de Andrade, aposentado do Serviço Público Municipal de Ponta Grossa.

 Publicado no Correio Carambeiense em 19/09/2020 e no Diário dos Campos em 10./02/2021, lido na CBN Ponta Grossa em 21/10/2020, postado no Portal aRede em 04/11/2020.

Do alto da singular imponência arquitetônica, velhos casarões de 1920 e lá vai poeira, perscrutam a rotina modificada dos poucos passantes desses dias impensáveis. Elegantes fachadas de estilos europeus observam-nos atentamente através das janelas longilineamente primorosas e disfarçadamente curiosas. Majestosos e emblemáticos apesar das décadas errantes impõem-se soberbos e cheios de personalidade no planalto ponta-grossense, exibindo-se na 7 de Setembro, Marechal Deodoro, Largo da Matriz, Rua das Tropas, Coronel Dulcídio, Balduíno Taques e outros becos mais.

Das calçadas incertas os poucos passantes têm tido mais tempo para deitar olhares de admiração sobre os velhos e persistentes casarões patrimoniais. Olhares pueris, jovens, maduros. Os que peregrinam há quase um século permitem-se marejar os olhos cansados, palpitar os corações atribulados, aquecendo-se às tardias lembranças de momentos únicos.

Da observação estrutural despercebida aos olhos humanos, do olhar emocionado e coração pulsante dos filhos de Deus, nasce uma relação inesperada de afeto. Uma incontrolada vontade de estreitamento, de aproximação indisfarçadamente amorosa. E um novo namoro – nunca tardio! – acontece perturbador e inevitável: a relação do inverso.

Detentores de poder e glamour, narradores do tempo e da história, resistentes à insana especulação imobiliária, nossos casarões soberanos permanecessem serenos e fortes. Enquanto nós, frágeis passageiros dos tempos difíceis, sobreviventes das décadas transformadoras, continuamos a virar páginas e fechar livros de uma existência efêmera.

2 comentários:

  1. Marlene Castanho

    As palavras são poderosas...
    Bati os olhos e logo notei: o cavalheiro é mais um entre tantos outros, e outras criaturas de Deus, fisgados pelos encantos dessa nossa princesa. Inclusive eu, às vezes me pego a observa- lá, vejo que não há outra igual, e me rendo ao seu aconchego de cidade acolhedora... Alfredo Mourão, "Namoro por acaso", caiu como uma luva: um amor de presente a nossa querida Princesa dos Campos Gerais. 197 anos de muita glamour. Parabéns para você... Parabéns, Ponta Grossa! 👏👏👏👏

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  2. Estou de "namoro com a Princesa" já a algum tempo. Bela, rústica e com ares de interior; a exalar em seu esplendor. Sigo a cortejá-la, aguardando o momento que obtenha o "SIM", para que possas ir morar com ela. Sem obviamente deixar de namora-la.
    At.te

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