segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Remanescência

Texto de autoria de Lenita Stark, Artista Visual, Ponta Grossa.

Publicado no Diário dos Campos em 05/08/2020, e revisada em 11/08/2020, postada no Portal aRede em 30/09/2020, lida na CBN Ponta Grossa em 05/02/2021.

Ela já estava ali, muito antes da UEPG. Quantos jovens universitários por essa calçada passaram, num vai e vem tresloucado, dias, semanas, meses e anos. Muitas fachadas foram modificadas, arquitetura histórica nessa mesma quadra foi completamente desfigurada de sua originalidade. Outras foram demolidas. Essa casa sobreviveu às demolições. Ficou intacta, não houve nenhuma mudança na sua estrutura e nem reformas ou conservação.

Suas janelas, olhos já cansados de olhar o vai e vem de transeuntes, alunos, professores e funcionários dessa instituição, responsável pela grande movimentação no entorno.

As paredes dialogam. Contemplando-a podemos sentir ecos do passado. Bares, lanchonetes, livrarias e muitas outras empresas por ali se estabeleceram, algumas mudaram, outras findaram. Ela sempre ali, contingente, sempre à espreita de qualquer acontecimento.

Seu extenso quintal foi tomado, em estacionamento transformado, ficando um pequeno pedaço de chão nos fundos da casa. Ah! Mas, ela não se afetou, continuou firme, lutando contra o tempo. Mesmo faltando janela, com rombos na alvenaria, ferrugens e ausência de cor. Habitada, continua altiva e sem vergonha de seu cenário abandonado. É símbolo de resistência, remanescência d’um passado glorioso, uma arquitetura forte e resistente.

Em suas paredes a natureza faz morada… a vegetação ali encontrou terreno fértil, entre os desgastes do cimento e tijolos, as raízes vão se alastrando, o verde contrasta com o desbotado de suas paredes. Na janela frontal, a samambaia se ajeitou num cantinho para crescer na sombra, na beira da calçada, com perspectiva para a movimentação e emoções.

“O abandono como plenitude. A consciência de um mundo em ruínas revela a possibilidade de realização por meio de osmose com a natureza… “ 

André Ibañez.


6 comentários:

  1. Marlene Castanho

    Bendita seja a virtude do saber...
    Só mesmo quem já passou por àquele ambiente da UEPG, e aproveitou (ou aproveita) de tal oportunidade, consegue mensurar a sua importância. sim, os anos foram passando e a UEPG foi se transformando numa "Senhorinha" com marcas da idade, mas ainda muito ativa. Tanto, que já tem descente (prédios de instituição de ensino) espalhados pelos Campos Gerais... Lenita Stark, "Remanescencia" preencheu aqui uma lacuna considerável... Parabéns!

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  2. Querida Lenita, sua visão de artista não podeira deixar de enxergar o que muitos não enxergariam. Linda crônica.

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  3. Lenita, nascida e criada aqui, parece que conheço aquela casa desde sempre. Hoje porém, me detive um pouco mais a enxergá-la com outros olhos e vi todos os detalhes que você cita em sua crônica. Parabéns!

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