Texto de autoria de Marivete Souta, Professora,
Ponta Grossa.
Publicada no Portal aRede em 25/03/2020, lida na Rádio CBN Ponta Grossa em 19/05/2020.
Publicada no Portal aRede em 25/03/2020, lida na Rádio CBN Ponta Grossa em 19/05/2020.
Hoje, ao passar no
cruzamento da esquina da avenida Vicente Machado com a rua Coronel Dulcídio, o
sinal fechou, olhei para o lado e senti falta do sorriso de uma figura
carismática e peculiar que vinha até à janela de meu carro. Aquele sorriso
sempre levava meus trocados.
No calçadão, nos anos 90, uma moça trajando
roupas chamativas como as de sua musa inspiradora – Xuxa Meneguel, a rainha dos
baixinhos – iniciou sua trajetória como ícone desta cidade dançando ao som de Ilariê, entre outros sucessos.
Talvez meu olhar de poeta é que
me fazia tantas perguntas ao observar aquela moça: Quem é ela? Tem família?
Onde dorme? Tem um lugar para voltar quando o manto negro da noite cobrir a
cidade?
Essa mania de ver como se
fosse a primeira vez o que de fato ninguém vê é coisa
de poeta, como disse o escritor Otto Lara Resende, porque nossos olhos se
gastam, no dia a dia, opacos. É por isso que acaba se instalando nos corações o
monstro da indiferença.
Mas um dia o
cruzamento silenciou, eu senti falta da alegria que me acostumei a encontrar
ali. Passaram-se dias, semanas, meses, até que vi no noticiário que a Xuxa do
Calçadão estava doente, que a família a mantinha encarcerada em casa para
preservá-la, pois ela se perdera algumas vezes nos últimos tempos. Foi assim
que soube que a Xuxa do Calçadão era Dirce Maria Alves, mãe, tinha três filhas. Agora soube até sua idade: 65 anos, e que
morava no núcleo Cristo Rei. Mas nunca saberei o que sentia, pensava, sobre
seus sonhos e o que a impeliu a dançar e pedir esmolas.
A mulher que
ficou conhecida como Xuxa do Calçadão era a personificação da liberdade, pois
essa personagem ponta-grossense agia segundo seu livre arbítrio, de acordo com
sua vontade
Ela faleceu após
ser diagnosticada com o Mal de Alzheimer, doença degenerativa que atinge as
funções intelectuais. E como uma artista, ao som de aplausos, o cortejo fúnebre
seguiu até o cemitério. Dirce, a Xuxa do Calçadão, nunca será esquecida,
continua a inspirar poetas e escritores. Diferentemente do porteiro, personagem
de Otto Lara Resende, que para ser notado teve que cometer a descortesia de
morrer, Xuxa do Calçadão, como artista que foi, despertou curiosidade na
população quando desapareceu das ruas de Ponta Grossa, a ponto de repórteres
procurarem saber de seu paradeiro. Por quê? Porque um artista é singular, faz falta
e nunca morre. Xuxa do Calçadão não morreu, se tornou história.
Que homenagem fofa! Me lembro claramente dessa personagem de nossa cidade :)
ResponderExcluirUma bela homenagem. Lembro dela dançando e depois vinha pedir moedas.
ResponderExcluirparabéns professora pela visão poética sobre o "outro
ResponderExcluirbelo texto, Mari! realmente a Xuxa era a figura daquela esquina
ResponderExcluirInteressante abordagem sobre xuxa
ResponderExcluirLinda crônica.
ResponderExcluirLembro bem dela.
A 1°vez que a vi ela dançando em frente uma loja musical em frente à antiga Ana Maria.Estava tod bonita de Maria Chuiquinha vestido cor de rosa
Dançava alegremente uma música da Xuxa, sem importar se com o povo.
As lojas da Avenida , todas as moças gostavam dela e davam roupas p ela.