Texto
de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa.
Publicada no Portal aRede em 18/03/2020 e no Correio Carambeiense em 20/03/2021.
Publicada no Portal aRede em 18/03/2020 e no Correio Carambeiense em 20/03/2021.
Desejava conhecer o
Parque Estadual de Vila Velha, sobre o qual havia lido em um folheto de
turismo. Vila Velha, a cidade de pedra, a Lagoa Dourada e as impressionantes
Furnas. Aproveitando o feriado de Carnaval, já que não sou apreciadora da folia
momesca, desembarquei em Ponta Grossa. Depois daquele feriado prolongado,
estive na agência de um banco da cidade. Havia várias pessoas na fila e mais
clientes chegando. Muito calor naquele verão. Por coincidência o senhor de
camisa azul à minha frente conhecia o que chegou logo depois de mim, e
iniciaram uma conversa com um cumprimento ao recém-chegado.
E o outro respondeu:
— Tudo nos trinques. E você, caboco véio, o que anda fazendo da
vida?
E eu, entre os dois
clientes, não podia deixar de ouvir o diálogo, percebendo, pelo palavreado, que
ambos eram da região. Ansiava que a fila fluísse mais rápido. E o calor
aumentando...
— Quanto mais eu rezo,
mais assombração aparece! Você conhece a minha filha Zélia, né? Aquela
magrinha, raspa de tacho?
— Aquela que tem o
nome da avó?
— Não! A que tem o
nome da minha sogra é a Filó. Está morando fora. A Zélia tem o nome daquela
escritora da Bahia. Frescura da minha mulher. Coisa de quem não tem mais o que
inventar. Diz que é homenagem.
— Mas o que houve?
— Um sobrinho da minha
mulher veio do interior passar o feriado aqui em casa. E ontem eu levei a
mulher, o piá e a Zélia para almoçar fora, num restaurante por quilo. A Zélia
pega um pouco de farofa, duas folhas de alface e umas vinas e fica satisfeita.
Sempre foi assim. Mas o sobrinho... Rapaz!!
Fez um prato tão grande que eu pensei que o piá estivesse se preparando
para hibernar.
— E daí, homem?
— Quando fui pagar a
conta, deu mais de cenzão! Acredita numa coisa dessas?! Gastei tudo o que eu
tinha no bolso.
— Não quis usar o
cartão de crédito?
— Eu nem tenho porque
não me acostumo com essas coisas modernas. Hoje vim aqui buscar um dinheirinho
pra semana e também para a passagem de ônibus. Quero despachar o piá pra casa
dele antes que chegue o próximo domingo. Tá loco!
O
painel eletrônico anunciou o número da senha seguinte: 138. Antes de o senhor
de camisa azul dirigir-se ao guichê, ainda se virou para o amigo e desabafou:
— Tá vendo o número da
senha? Foi exatamente este o preço que eu paguei no restaurante. É só comigo
que essas coisas acontecem!
E, numa marcha
decidida, desapareceu atrás do biombo.
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