Texto de autoria de Rosana Justus Braga,
revisora, Curitiba (natural de Ponta Grossa).
Publicada no Portal Clic Navegantes em 01/03/2020, postada no Portal aRede em 11/03/2020, lida na CBN Ponta Grossa em 18/08/2020, publicada no Correio Carambeiense em 26/12/2020.
Publicada no Portal Clic Navegantes em 01/03/2020, postada no Portal aRede em 11/03/2020, lida na CBN Ponta Grossa em 18/08/2020, publicada no Correio Carambeiense em 26/12/2020.
Olho em volta e estou
cercada de coisas. Imprescindíveis, eu diria.
Esta poltrona, sem dúvida,
me é indispensável, os móveis e estes objetos todos também o são; os quadros...
ah, como vestem bem as paredes do meu mundo; os livros a despencar das estantes
são vozes que me falam; os adornos contam um pouco das histórias que foram. E
este abajur, então, quantas sombras dissolveu no fluxo sem refluxo das horas.
Precisei de todas estas
coisas para chegar até aqui. Foram-me essenciais, chego a pensar. Como seria viver
sem elas?
É que reflito, neste
instante, sobre desapego e impermanência, fruto de leituras feitas e refeitas
que hoje despertam e vêm me cutucar o espírito. Conceitos incontestáveis, mas quão
distantes das aspirações humanas.
Não, não desatamos
vínculos com facilidade; olho para a mesinha de canto e é como se ela me contasse
um pouco de tudo que observou, caladamente, de seu ponto de vista. E o pequeno
vaso que ela sustenta tem também suas teias e me aprisiona; é de um verde
pálido, ornado com filigranas de prata, sugere mistérios do Oriente e me remete
a tudo que não sei.
Gosto da neutralidade das
coisas, da cumplicidade que emanam, de seus olhos cegos. Estar entre elas é
estar só e estar acompanhado. Não incomodam, não julgam, não aplaudem, não
condenam. Testemunhas mudas que são, nada terão a revelar ao mundo além de seu
próprio tempo.
Faço meu inventário
particular. Se pretendo desatar-me, urge saber de quê. Listo as prescindíveis,
que são inúmeras, as banalidades que me cercam; ao lado, relaciono aquelas que
não me podem faltar. Sobre elas é que devo praticar meus exercícios
filosóficos.
Frágil criatura, parece
que me falto se abro mão das coisas que gosto. Pura tolice, quero crer, a
verdadeira alegria dispensa claros motivos, assim dizem os que sabem, os que
venceram a luta contra os sortilégios da matéria.
Mister aprofundar as
leituras se a pretensão é evoluir, porque só há, de fato, uma verdade: nós passaremos,
mas as coisas... estas, ficarão.
Cada um de nós, criança ou adulto do saber, ou, não saber,vamos atravessar a vida assim: desligados ou desligados a coisas e a circunstâncias diversas... Para trilharmos o caminho da vida precisamos de artefatos, sinalizadores de percurso... Por eles passamos e, dependendo do estado emocional do nosso momento,a eles nos apegamos, ou, desapegamos... E o mais incrível: para chegarmos a um futuro, qualquer futuro,precisamos sim carregar no presente a bagagem do passado; bagagem esta materializada ou apenas viva na memória.
ResponderExcluir"As Coisas", e uma crônica inteligente e muito bem conduzida.Parabens a autora,Rosana Justus Braga.