Texto de autoria de Felipe Vieira da
Silva, carteiro, Ponta
Grossa.
Publicado no Portal aRede em 22/01/2020, lido na CBN Ponta Grossa em 14/07/2020.
Mal o ônibus
deixara o terminal central e, embaixo da passarela, um casal de velhinhos
estava parado a contemplar o horizonte.
— Quem será que
são? Todo dia estão aqui, o que será que fazem? Esperam alguém? Mas sempre
nesse mesmo horário — pensava Roberto, enquanto se apertava e tentava se
segurar em pé no ônibus lotado que o levava para casa, após mais um dia de
trabalho.
— Será que mais
alguém notou? — Olhou à volta e viu alguns rostos conhecidos; apesar de pegar o
mesmo coletivo há meses, nunca puxara conversa com ninguém.
— Aquele vem de
manhã… Esse desce um ponto antes de mim…
— Opa! — gritou
um coro de secundaristas. Era a esquina das ruas Catão Monclaro com a Fagundes
Varela.
— Qualquer dia
desses um ônibus ainda capota nesse lugar — pensou — Nossa, mas todo dia eu
tenho essa impressão… Espere, hoje acordei meio dormindo, tomei meu café
requentado e corri para o ponto, acenei com a cabeça pro rapaz que sempre já
está lá, meu vizinho veio correndo de novo, todo dia ele vem quando o ônibus já
vem vindo, o mesmo bom dia ao motorista e ao cobrador ao embarcar, a mesma
disputa pra tentar chegar ao lugar de sempre no fundo, as mesmas sacolejadas
nos buracos das ruas, os mesmos números das casas passando pela janela, as
mesmas pessoas embarcando nos mesmos pontos, o mesmo movimento no terminal, os
mesmos ambulantes abrindo suas barracas, os mesmos estudantes a caminho do
Regente pelo calçadão, o mesmo cumprimento aos colegas de trabalho que lá já
estão — E percebeu que quem fazia a mesma rotina era ele, e não o casal de
velhinhos que ficara pra trás.
— Talvez todo dia
vejam algo diferente e se divirtam com as coisas bobas que acontecem todo dia
por lá… Opa, meu ponto…
Desceu, seguiu
para casa e, no caminho, esqueceu o que pensara; talvez amanhã, quando estiver
voltando e ver o casal novamente, continue o raciocínio ou começará tudo de
novo!
Bom dia CRÔNICAS DOS CAMPOS GERAIS. Sem dúvida, a crônica de Felipe Vieira da Silva - ROTINA - é a mais significativa que já li. Um texto simples. Claro. Objetivo. Sem enfeites e, acima de tudo, com a temática clara. Falar sobre os Campos Gerais. Em seu texto, Felipe deixou bem claro para todos os leitores a "rotina" de sua cidade que ele conhece tão bem, através de seu trabalho. Também conheço o casal de velhinhos que fica o dia todo sob a passarela do Parque Ambiental e sempre me pergunto. O que fazem lá. Agora descobri. Eles prestam serviços aos olhos atentos e curiosos de um cronista como o Felipe. Parabéns aos organizadores das Crônicas dos Campos Gerais por dar oportunidade às pessoas de mostrar sua sensibilidade através da literatura. Róbison Benedito Chagas. 23.1.2020.
ResponderExcluirRóbison, concordo com você. Adorei o texto. E concordo também que o projeto é excelente, comecei a escrever crônicas com esse projeto.
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