Texto de autoria de Francielly da Rosa, estudante de Letras Português/Inglês na
UEPG, Ponta Grossa.
Publicado no Portal aRede em 29/01/2020 e no Diário dos Campos em 19/02/2020, lida na CBN Ponta Grossa em 16/06/2020.
Numa
de minhas andanças resolvi fazer paragem na casa de uma estimada amiga, na zona
rural de Ipiranga. A estrada de chão era longa, salpicada por casebres onde
mais adiante iam se intercalando plantações de milho e fumo. A casa de pínus
ficava à beira da estrada de chão, cercada pela mata nativa, podendo-se
contemplar a extensão da longa plantação de fumo que era a vizinha da frente.
A
paisagem era deslumbrante e o ângulo do relevo permitia a visão de um
entardecer único, as árvores diminutas deitavam-se em sombras que se estendiam
pela plantação, os raios de sol batiam de chapa pela vegetação e iam morrendo
manhosamente. Os porcos grunhiam num cercado distante da casa, guapecas
caramelo latiam e espojavam-se pelo terreiro junto às crianças, a mulher
ligeiramente ia atiçando o fogão a lenha e preparando a comida. Acompanhados de
um café bem forte havia farinha, carne suína, feijão e arroz. Enquanto deixava
a comida borbulhar, sentava-se à mesa na área da casa e contava a vida,
exaltando as recentes modificações e ampliações da casinha.
Toda
aquela simplicidade e alegria convidativa propiciavam um ambiente digno de
querer fazer morada, mas bem se sabem as dificuldades da vida no campo. Horas
exaustivas no trabalho com a plantação deixando consumir-se pelo sol escaldante
sem descanso, traços sendo marcados, entre rugas e cicatrizes o suor. Tentativas
inúmeras de um trabalho melhor na área urbana, mesmo assim a estrada, até lá, morre-se
em quilômetros exaustivos.
A
mulher sorridente corria para arrumar a casa, arrumar coisas que não se
arrumam, pensar no almoço sobrando para o jantar, cuidar dos filhos desejando a
eles um futuro melhor, quem sabe longe dali. Escondidos em sorrisos,
ansiolíticos e antidepressivos em uma prateleira da cozinha. Simplicidade é
lindo para quem vê de fora. Apreciei a comida simples e fiz elogios sinceros,
desejei ter um cantinho assim para morar também, admirava-me a simplicidade e
alegria, porém atentei as dificuldades não contadas, as lágrimas perdidas e
pensei “que gente forte! ”
Alguém
sorrindo exclamou: “- Que vida boa vocês têm aqui! ” E os moradores daquela
humilde residência na região rural se entreolharam sem jeito, suspiraram,
sorriram frouxo e um deles respondeu: “Pois é! ” Propagando-se pela estrada
poeirenta aquelas palavras ecoavam tal qual vento assoviando no campo. Pois é!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Pedimos aos leitores do blog que desejem fazer comentários que se identifiquem, para que os autores conheçam sua origem.