Texto de
autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa.
Publicado no Diário dos Campos em 22/01/2020, postado no Portal aRede em 03/02/2021.
As pessoas com mais de 50 anos viveram a época
dourada do rádio nas cidades do interior. A Rádio Central do Paraná, uma
emissora AM que apresentava uma programação eclética, tinha programas
esportivos, noticiário, programa direcionado às mulheres, programa infantil,
muita música e a atração das noites: as novelas.
Os atores eram da cidade mas, com o passar
do tempo, agregaram-se novos artistas vindos de São
Paulo.
Minha mãe fazia parte do elenco do radioteatro,
como eram denominadas as novelas. Para driblar o ciúme que meu pai sentia, eu a
acompanhava e ficava por lá, brincando, mexendo na máquina de escrever,
esperando a hora de voltar para casa.
Dessa forma minha presença era assídua e
eis que surgiu um personagem infantil numa novela de Ivani Ribeiro e fui
convidada a participar. Minha mãe foi quem me ensinou a arte da interpretação.
Eu tinha nove anos de idade quando iniciei e gostava muito de fazer aquele
trabalho. Cada capítulo era feito ao vivo. Nada era gravado.
A sonoplastia, executada com materiais
improvisados, ficava perfeita. O silêncio no estúdio era imprescindível, porém
aconteciam risos abafados atrás de uma cortina.
Era o ano de 1956. Num sábado, véspera
do Dia das Mães, seria levada ao ar uma peça especial para a data e o meu papel
seria importante naquela apresentação.
No entanto, durante a noite de
sexta-feira fui acometida por fortes dores abdominais, minha mãe não podia
fazer outra coisa além de chá e compressas. Não tínhamos telefone e nem carro e,
para culminar, meu pai estava fora.
Ela esperou amanhecer e levou-me ao
Hospital São Lucas (hoje é o Pronto Socorro) onde o médico constatou apendicite
aguda. Uma cirurgia de emergência era a indicação clínica. Comecei a chorar
porque não concebia a ideia de não participar da peça. Na verdade, a direção
teria que cancelar a apresentação pois não havia substituta, eu era a única
atriz mirim do elenco.
Convenci a todos de que faria meu
trabalho de qualquer maneira.
Naquele sábado, entreguei-me ao
personagem como sempre o fazia. Microfone ligado, script na mão, painel aceso
“NO AR”. Emocionada com o texto cheguei às lágrimas. Ao término, após um copo
de água açucarada, fui levada pela Viviane Durski, uma grande atriz, a bordo do
seu fusquinha, até o hospital onde aconteceu a cirurgia naquela mesma noite.
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