Texto de autoria de Newmara Martins de Oliveira Spitzner, Engenheira Civil, natural e residente em Ponta Grossa.
A
luz do alvorecer começava a inundar meu quarto, quando aos poucos despertei com
o canto distante do galo, o bichinho não era meu, mas eu nutria tanto apreço
pelo seu cântico que até sentia como se fosse. Levantei ainda imersa em
sonolência e caminhei até a janela, o sol estava despontando no horizonte, banhando os verdes campos com sua luz
dourada, um privilégio diário que me enchia de gratidão. Essa poderia ser uma típica manhã em uma cabana
rural, mas não era o caso.
Residente
de um apartamento no quarto andar, minha vista era um paradoxo fascinante. Se
eu olhasse para a esquerda, o Centro
princesino exibia seus imponentes prédios modernos; à direita, eu avistava o mercado
Tozetto, do outro lado da rua. No entanto, ao olhar para a frente, ele
permanecia ali: o campo verdejante onde eu repousava meus olhos.
Mesmo
em uma cidade urbanizada e desenvolvida, algo permanecia intocado, permitindo
uma sensação de aconchego em viver ali. Ainda observando pela janela, pude ver
a rotina matinal desdobrar-se: o rugido dos carros, o murmúrio de conversas e as
risadas dos primeiros transeuntes nas ruas. Sem dúvida, uma região peculiar, a mistura inusitada de
cidade grande e vilarejo, onde os moradores desfilam com trajes modernos, mas
guardam em seu íntimo a alma bucólica preservada pela tradição.
Perdi-me em pensamentos, imaginando o longo
processo de crescimento que ocorreu até atingir esse ponto de equilíbrio e se,
em um futuro distante, a energia interiorana sucumbiria ao concreto
avassalador. É reconfortante usufruir do conforto e da praticidade citadina. Porém,
é ainda mais gratificante poder desfrutar de tudo isso, rodeada por pessoas
cordiais, que preservam a mesma simplicidade de outrora, tempos em que se
trocavam receitas com o vizinho e conversava-se sobre o clima.
Talvez
a minha preocupação fosse precoce e desnecessária. Mas, no fundo, apenas sentia
que todo amanhecer que eu testemunhava da minha janela era único e especial, e
que só poderia ser assim porque moro no exato lugar onde ele é propício para
acontecer.
Viver na cidade de Ponta Grossa é como estar em
dois mundos ao mesmo tempo, um pé no futuro e outro no passado, sem nunca
perder a conexão com a terra e com as raízes. E, no fim das contas, talvez seja
isso que torna este lugar tão especial: a capacidade de ser grande sem nunca
deixar de ser pequena, de ser moderna sem perder a simplicidade, de ser cidade
sem deixar de ser campo.
Creio que você é estreante no projeto, Newmara. Meus parabéns, bela crônica. Penso que você deva investir nesse talento, tem muito jeito pra escrever.
ResponderExcluirParabéns, Newmara. É realmente um privilégio viver nesses dois mundos, poder desfrutar do progresso e e acalentar a nostalgia.
ResponderExcluirCuriosamente, semana passada comentávamos entre amigos justamente essa singularidade de Ponta Grossa - ser uma cidade com regiões inteiras resistentes à passagem do tempo, com as coisas boas e ruins que daí decorrem. Citei o exemplo de algumas quadras da Nova Rússia. Texto capta bem o fenômeno, parabéns.
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