Texto de autoria de Wilson Czerski, militar da Aeronáutica, escritor e jornalista aposentado, natural de Ponta Grossa e residente em Curitiba.
Ainda início da década de 1990. Um
cunhado trabalhava na Indústria Wagner. Por algum laço especial de amizade dele
com a direção, minha mãe e o padrasto foram contratados para cuidar de uma
chácara de um dos gerentes, localizada na Colônia Dona Luiza.
Em visita
a Ponta Grossa, num domingo de verão, fomos, minha família e a do cunhado,
passar o dia na tal chácara. A casa em que minha mãe estava instalada não era
muito grande, mas o suficiente para duas pessoas morarem como caseiros. As
cercas de arame delimitavam a propriedade, mas não havia separação entre a casa
e uma área de campo que se estendia para todos os lados por algumas centenas de
metros. Outros detalhes não me chamaram a atenção.
O fato
é que, enquanto aguardávamos o almoço ser servido, adultos e crianças se
envolveram em uma brincadeira com bola. Devido ao sol forte, tirei a camiseta
regata e a pendurei em um arame utilizado como varal. Este foi o início de uma
tragédia afetiva.
Embora
fosse uma camiseta tricolor (azul com duas listas, uma branca e outra vermelha
nas laterais), portanto, em desacordo com as minhas preferências clubísticas,
eu a tinha por predileta.
Quando
a procurei para vesti-la para sentar-me à mesa, dei-me conta de tê-la deixado
lá fora e, ao sair para buscá-la, deparei-me com uma cena inusitada e
alarmante. Uma vaca, simplesmente, estava a mastigar a dita cuja. Desesperei-me
não só porque gostava muito dela, a camiseta e não a vaca, mas porque
precisaria dela para poder dirigir de volta.
Confesso
que minhas relações com os bovinos sempre foram muito discretas e nossa
intimidade limitava-se a alguns olhares desconfiados trocados a uma distância
segura. Foi, então, que eu me equipei de toda a coragem que jamais suspeitei
possuir e avancei em direção à vaca alvinegra e, entre uma mastigada e outra,
consegui arrancar a camiseta de sua boca.
Ao
fazê-lo, uma mistura de sentimentos tomou conta de mim. Tristeza por constatar
os estragos causados à preciosa peça de vestuário. Ela sofrera uma traumática
transformação. Tomara-se de uma cor diferente decorrente do suco de grama.
Estava mascada, gosmenta e quente, formando uma pasta heterogênea de tecido,
grama e baba do ruminante.
Porém, não pude deixar de exibir à rival um ar de triunfo por ter recuperado o meu pertence.
Lavei a camiseta – ou o que sobrou dela – sob muitas gargalhadas e enquanto secava – em outro varal –, saboreamos uma peixada fantástica de taraíras como dizemos nós, ponta-grossenses, pescadas ali próximo, no rio Tibagi.
Geeeente! De novo vejo que muitos de nós já passamos por circunstâncias semelhantes! Esta, da camiseta e da vaca..., um dia eu conto um caso patético! Acho que devíamos fazer desafio de temas! Parabéns pela excelente narrativa, Wilson!
ResponderExcluirJá cogitou a hipótese de as cores da camisa, que destoavam de suas preferências clubísticas, fossem ao encontro das preferências da vaca? Abs.
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ResponderExcluirSe a camiseta não fosse tão necessária para você naquele momento, poderia deixar que a vaca comesse a dita cuja e ficasse com o bucho "embrulhado" no tecido. Já imaginou que desforra? Gostei muito de sua crônica, Wilson.
ResponderExcluirSeu triunfo sobre a incauta ruminante foi realmente hilário. Alguns animais sempre gostam de nos provar e provar nossas coisas. Uma vez uma cadela nossa comeu um vestido de minha esposa. Bicho sendo bicho. Parabéns, Wilson.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNa verdade foi o Mário e não o Murilo, mas este referiu-se às preferências de cores da vaca. Pois é, questão de reconhecimento, autoconsciência de se ver malhada de preto e branco e aí nesse mundo beirando o psicodélico, é possível mesmo que ela apreciasse sobremaneira o tricolor da camiseta.
ResponderExcluirAntes mencionei a Rosicler e o Murilo erradamente comprovando o comum das experiências na interação nossas com os animais, algumas delas, talvez, não inteiramente agradáveis.
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