Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, professora aposentada, residente em Ponta Grossa.
Foi
dada a largada para a corrida de dezembro! Não, não me refiro à São Silvestre,
competição de rua que se realiza anualmente no Brasil, em 31 de dezembro.
Refiro-me àquelas corridas insanas nas semanas que antecedem o Natal. A ânsia
na busca por presentes transforma o calçadão de Ponta Grossa num formigueiro
humano. Todos buscando presentes que alegrem familiares e amigos. Doce ilusão!
Isto se confirma quando o comércio reserva a semana seguinte à troca do
presente que não serviu ou que, principalmente, não agradou. O amigo-secreto é
um caso à parte. Tem o grupo da empresa, da universidade, do Pilates, da
igreja. Aí entram em cena as lembrancinhas e a caminhada se alonga até o
Paraguaizinho. Ninguém fica satisfeito com o seu presente e, malgrado este
fato, não entendo o porquê de repetirem essa prática que sabidamente causa
mal-estar? Já notaram o sorriso amarelo de quem quer jogar o presente no
momento em que abre o pacote? A corrida começa a cansar, mas ainda segue pelas
lojas de decorações natalinas para ornamentar a mesa, a guirlanda da porta, a
árvore iluminada... Atualle, desce, Lojão 1,99,
sobe...
E
a ceia? Meu Deus!! Lista de ingredientes para prepará-la em casa, orçamentos
espalhados pela mesa em busca do melhor preço caso optem por comprá-la pronta.
Se for do tipo americano, onde cada família contribui com um prato e com as
bebidas, às vezes há descontentamento porque um não come peru, outro não gosta
de pernil, bacalhau é adorado por uns e odiado por outros. Coloco passas no
arroz? Arrisco colocar maçã picadinha na maionese? E na farofa, vai azeitona ou
não? Haja paciência, força e coragem! Desde a entrada até a sobremesa são as
mulheres que programam e passam pelo desgaste causado por uma festa de fim de
ano em casa. Aos homens cabe a facilidade de fazer um pix contribuindo na divisão de gastos e na prazerosa compra de
caixas de cerveja e alcatra para o churrasco do dia seguinte. O churrasco de
alcatra, nosso prato típico, é complementado pelas sobras da véspera, já
requentadas algumas vezes, o popular “já te vi”. O chester é uma delas. Um
presente de última hora e mais uma corridinha até o Tozetto pegar, talvez, a última garrafa de vinho Casillero del Diablo, para um primo.
Os
participantes da São Silvestre correm por um troféu, mas uma corredora de
dezembro só deseja um sofá onde possa descansar as pernas. E o aniversário era
de quem, mesmo?
Muito bom, com pinceladas da mais fina ironia! Parabéns, Sueli!
ResponderExcluirUma excelente crônica para repensar no propósito verdadeiro das comemorações e avaliar o que desta correria vale a pena de verdade! Parabéns Sueli, um excelente fim de ano a você!
ResponderExcluirVocê fez uma análise perfeita! Obrigada, Camila. Para você também um maravilhoso ano novo.
ExcluirQue prazer receber um comentário teu, querida Teju! Muito obrigada.
ResponderExcluirCertamente mais um saboroso texto. Obrigado, Sueli!!!
ResponderExcluirSou eu quem agradece tua presença assídua comentando neste blog.
ResponderExcluirPara muitos é isso mesmo! Mas esses desencantos e bacalhaus indesejáveis muitas vezes se tornam as melhores lembranças. Nada como tirar risadas de onde a Vida nos dá dissabores.
ResponderExcluirDepois que acaba a corrida, todos se encontram, confraternizam, aí vem a parte boa, aquela que deixa lembranças, arranca risos nos anos seguintes, aquela faz tudo valer a pena. Obrigada ANÔNIMO. Frequente este espaço mais vezes com seus comentários procedentes e agradáveis.
ExcluirComo é bom escrever de forma desassombrado e sem idealizações, não é, Sueli? Obrigado pelo texto.
ResponderExcluirOi, Murilo! Não alcancei muito bem o teu raciocínio. Você costuma escrever assim, sem idealizações e desassombrado?
ResponderExcluirÓtimo saber porque teus textos dão um show no conteúdo e na forma. Um forte abraço e volte sempre.
Você escreve assim, cara Sueli, sempre numa perspectiva muito particular. Sou seu leitor assíduo. Abraços.
ExcluirQue honra ter um leitor tão especial como você e, além do mais, assíduo. Abração.
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