segunda-feira, 12 de junho de 2023

A arte da cantaria dos alemães do Volga

Texto de autoria de Rogério Geraldo Lima, empresário, redator e radialista, residente em Palmeira.

Postado no Portal TánoTipo em 19/07/2023, e publicado no Diário dos Campos em 14/06/2023.

Sempre que passo pela BR 277 e vejo a antiga ponte sobre o rio dos Papagaios, no Recanto Francisco Monteiro Tourinho, vem a mente o engenho e arte dos imigrantes alemães do Volga, que chegaram ao Brasil no final do século 19. O trabalho de dar forma a pedras para utilizá-las em construções é algo encantadoramente fascinante. A ponte sobre o rio dos Papagaios é o mais conhecido exemplo desta arte, mas há outro monumento destes, em escala menor, que é a ponte sobre o rio Monjolo, na rua 15 de Novembro, no centro de Palmeira.

Enquanto a mais famosa das pontes de pedra de Palmeira tem dois arcos, a do rio Monjolo tem apenas um, que se ergue a cinco metros acima do nível do rio. Ela foi construída em 1879, conforme denúncia a inscrição da data gravada na pedra central do arco para quem olha da bucólica e quase abandonada Praça do Chafariz.

As duas pontes atendiam, à época da construção, no final da antepenúltima década do século 19, o crescente tráfego de veículos à tração animal que utilizavam a Estrada do Mato Grosso, a ligação entre Curitiba e Castro, que passava por dentro da então Villa da Palmeira.

Relata o historiador Astrogildo de Freitas, em seu livro Palmeira: reminiscências e tradições, publicado em 1984, “a semelhança entre as duas obras de arte, a dos Papagaios e a do Monjolo, não só na aparência, mas ainda na segurança, na técnica de construção e no material empregado, nos leva a crer que foram os mesmos canteiros e pedreiros que prepararam o material utilizado e executaram os serviços de construção de ambas as obras”.

A história nos conta que, em setembro de 1878, um grande número de imigrantes alemães, que saíram da região do rio Volga, na Rússia, com destino ao Brasil, chegou a Palmeira. Como eram muitos, foram divididos em núcleos ou colônias, segundo a religião que professavam. Assim, os católicos ocuparam as terras dos núcleos do Pugas, do Lago e de Santa Quitéria, enquanto os luteranos foram destinados para as áreas das colônias de Quero-Quero e de Papagaios Novos.

Todos aqueles imigrantes que aqui chegaram, já passaram e deixaram descendentes. Porém, as robustas e engenhosas construções em pedra permanecem e resistem, há quase um século e meio, como marcas concretas da arte da cantaria dominada com maestria e ferramentas rústicas por aqueles homens de mãos e braços fortes e corações cheios de sonhos.

7 comentários:

  1. Sou descendente de alemães do Volga, povo trabalhador que deixou marcas por aqui. Sua crônica é história e com ela aprendi o que é cantaria. Confesso que nunca tive conhecimento dessa arte. Deu curiosidade de conhecer tais pontes. Parabéns, Rogério!

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  2. Obrigado, Sueli! Minha descendência materna também é de alemães do Volga, famílias Ditzel e Stremel, da Nova Rússia e da Colônia Dona Luíza, respectivamente. Sem dúvida, imigrantes que dominavam diversos ofícios.

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  3. Também sou descendente de Alemães do Volga, pela parte materna, mas minha avó, Dorothea Scheffer, nasceu na Argentina e veio criança para o Paraná. Casou-se com meu avô e ficou por aqui, mas alguns familiares dela retornaram para a Argentina. Adorei conhecer a arte da cantaria poor meio de sua crônica!

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    1. Obrigado, Rosicler! Acredito que na região - incluindo Ponta Grossa, Palmeira, Imbituva e Prudentópolis - uma grande parcela da população tem descendência de alemães do Volga.

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  4. Parabéns Rogério. Amo conhecer mais e mais de minha cidade mãe!!!

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  5. Cumprimentos pelo registro desse patrimônio que é tanto material quanto imaterial por conta das memórias dos imigrante alemães em nossas terras. Sou também descendente desse grupo. ALFREDO MOURÃO

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    1. Obrigado, Alfredo! Além de descendente de alemães do Volga, és um excepcional contador de histórias.

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