Texto de autoria de Antonio Marques de Castro, Agente Administrativo da Prefeitura de Telêmaco Borba.
Dia desses, estava fazendo o percurso entre
duas cidades aqui da minha região. Junto comigo ia um colega cego. Totalmente
desprovido de visão. Mas, apaixonado pelos Campos Gerais do Paraná assim como
eu – Que apreciava toda a beleza daquela “visão”.
De um dado momento em diante, meu amigo começou
a relatar partes daquela linda paisagem.
Descrevia com particularidades a imponência
daqueles campos, de suas grotas, vales, serras e morros, pelos quais apaixonado
morrerei, e, escrevendo, descrevê-los não saberei.
Relatava as belas fazendas à beira das
estradas. Me fazia vir a mente vaquinhas, arvoredos, galinhas, pássaros e toda
aquela bicharada.
Seus relatos tinham algo poético, me fazendo
viajar junto com suas lembranças. Além da viagem que fazíamos, essa era mais
uma “viagem”. Uma poética e nostálgica “viagem”!
Guardo na lembrança e imagino que me será
inesquecível a forma como aquele cego descreveu a árvore símbolo do Paraná.
Indescritível! A araucária mais frondosa ele me fez “visualizar”.
Lembrança do tempo em que o mesmo ainda
conseguia enxergar.
As imagens que relatava hoje não mais existem,
estão praticamente todas modificadas. Ficaram as lembranças. Mas a poesia de
seus relatos me fazia vislumbrar a época de minha infância.
Então passei a visualizar as paisagens dos
tempos de outrora. Graças ao amigo cego – Um cego poeta.
E assim, nesse “processo”, percebi que havia um
poeta cegado em mim. Que existe um poeta cego em cada um de nós. Que viaja
junto com a gente por aí, e nós, às vezes, é que deixamos de o alimentar, de
liberar essas memórias, de “reviver” saudosamente nossas histórias.
E assim, para finalizar, gostaria de um convite
deixar: Libertemos o poeta que existe dentro de cada um de nós – Não o
ceguemos.
Para mim - narrador de histórias - todas essas imagens que são recuperadas da memória afetiva, são providenciais alimentos para toda nova narrativa. Já que o autor, providencial e inteligentemente registrou, permito-me o trocadilho: "dos tempos idos aos tempos (sempre bem) vindos!" ALFREDO MOURÃO
ResponderExcluirCreio que foi esse o processo criativo que dera origem a essa crônica meu caro Alfredo: Uma memória afetiva originando uma nostálgica narrativa. Utilizando-me do incremento de um "poeta cego", através desse personagem imaginário, relembrando dos "tempos idos", para mim e para vossa senhoria, como disse: "sempre bem vindos".
ExcluirAt.te