segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Minha infância em Ponta Grossa

Texto de autoria de Celso Parubocz, artista visual, Ponta Grossa.

Postado no Portal aRede em 18/10/2022, lido no Blog Mareli Martins em 22/10/2022, publicado no Diário dos Campos em 30/11/2022.

Bons tempos de correr pelas ruas do Bairro de Olarias, brincar com outras crianças, soltar pipa, descer com o carrinho de rolimã, nadar nas cavas formadas pelas chuvas e pelas vertentes onde era tirado o barro para fazer telhas e tijolos.

Andar pelas toras do Wagner procurando resina, ou nas valetas depois da chuva para pegar girinos e colocar em vidros de palmito, meus primeiros aquários.

Descer no antigo curtume, apanhar taquara para fazer pipa, morrendo de medo de encontrar a Biriba, figura folclórica do nosso bairro, que andava enrolada em roupas velhas e cercada de cachorros.

O medo de ficar na rua quando ouvia ao longe o som do cincerro da vaca madrinha, que puxava o rebanho que tinha ido comer capim na beira da linha, que dividia o Bairro de Olarias do Centro e à tardinha voltava para casa.

Bons tempos de uma cidade tranquila, cujo silêncio só era quebrado por alguns sons que até hoje ficaram marcados na memória: o apito do Wagner que avisava que ia começar ou terminar o turno dos operários, cuja grande movimentação deu nome à rua onde moro; o sino badalando e o alto-falante tocando Il Silenzio, avisando que estava na hora da missa da igreja São Judas Tadeu; a sirene do Sandu (ambulância) que levava e trazia os doentes; o som do martelo incessante na bigorna do meu avô Basílio, que fazia ferramentas e consertos no paiol nos fundos da casa.

No fim do ano, o batuque das escolas de samba trazia alegria; não era uma, nem duas, eram três, todas ali em nosso bairro. Mês de junho então, a cidade toda descia para Olarias para participar das festas juninas, organizadas por famílias simples que mantinham a tradição de muitos e muitos anos.

E quando minha avó materna chegava de viagem na estação, trazendo farofa de frango que só ela sabia fazer, ficava feliz ao ganhar um dinheirinho e comprar doces no bar do Seu Germano ou no Seu Zinho.

Ah! E quando ela ia voltar então, íamos todos no carro de praça do Seu Ernesto levá-la até a estação, uma alegria imensa, tanto o passeio quanto a despedida, ao ver o trem partir na plataforma da estação.

Com o passar dos anos já eram possíveis algumas aventuras no centro da cidade, ir à missa das dez horas na catedral, na matinê do Cine Inajá ou passear pela avenida que era fechada para os veículos nos domingos; mas nada era tão divertido quanto as subidas e descidas do meu bairro.

Minha saudade é deste tempo, que ficou marcado com tantas belas lembranças.

4 comentários:

  1. Os lugares da nossa infância, mesmo que em ruínas, ou tombados pelo tempo, ainda habitam em nós! "Tivemos mais ontem do que qualquer um. Precisamos de algum tipo de amanhã". (Toni Morrison). Parabéns pelo seu retorno ao passado, o chão que lhe deu a certeza da vida! Abraços!

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  2. Adorei o texto, Celso. Uma memória que vai penetrando também as infâncias dos leitores, pois todos temos subidas e descidas, apitos e farofas de frango em nossas memórias. Parabéns!

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  3. Luiz Sérgio Matozo18 de maio de 2023 às 11:04

    Parabéns pelo texto. Também vivi muitos desses momentos no querido bairro de Olarias, além de ir comprar carne no açougue do seu Hagemayer, frequentar a Escola José Elias da Rocha, e de vez em quando na sáida da escola, comprar um doce na dona Maria Capri; fazer compras no armazém do seu Paulo Shunski, que anotava tudo na pequena caderneta pra ser pago no final do mês. Toda semana também ia buscar pedaços de lixa usada que ganhava na fábrica de móveis Monteiro, e que a vó Porfíria usava para passar na chapa do fogão a lenha. Também era costume comprar pepino azedo na venda do sr. Calaj nas proximidades da Industria Wagner ou então dos irmãos Baranhuk. Tive o regalo de ter meus avós morando no mesmo bairro e pude conviver com eles toda minha infância.

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