Texto de autoria de Carlos Mendes Fontes Neto, engenheiro civil, Ponta Grossa.
Andando
pela cidade, percebemos que tudo está desaparecendo. Quando a gente passa por
uma rua e procura alguma coisa de que se lembra, espanta-se por não conseguir achar
qualquer vestígio. Desde a casa paranista com lambrequins até os mercadinhos
tocados por rostos familiares.
Não se acha mais o antigo
palacete do bispo, não existem mais as pastilhas de vidro da fachada do Cine Ópera,
o Império virou cratera, a fonte luminosa sumiu da praça, de onde também sumiu
o busto da Judith. O Bianchi virou estacionamento. Aquela rádio com programas
de auditório sumiu da XV. Na esquina da Eng. Schamber, o som dos programas
vespertinos parece ecoar, mas só o vento continua soprando inclemente. E assim
vai, a cidade se transformando e se modificando. Sumiram as personagens “sui
generis” das ruas centrais, tais como aquela velhinha que esmolava na esquina
do antigo correio (que também sumiu) e contavam viver à larga com proventos de
várias casas de aluguel. Sumiu o barulho de reco-reco que os sorveteiros faziam
nas tardes modorrentas do verão princesino. Sumiu o box da Dona Maria no
demolido Mercadão, onde se vendiam frutas e verduras trazidas das chácaras de
Uvaranas acompanhadas de notícias e fofocas contadas de parentes que não se
davam. Foi-se Dona Olívia que comandava
um exército de mulheres que limpavam túmulos no São José. Foi-se a Galeria de Artes da Profa. Carol, onde
se trocava uma crítica de arte entre dois dedos de prosa com a proprietária. As
irmãs Paczkowski não ensinam mais arte e profissão. Até as vitrines de doces e
chocolates da antiga Glória, com ovos Sönksen na época de Páscoa, sumiu. Assim
a cidade vai crescendo e engolindo a própria identidade, temperada com casas
modernistas. Foram-se há muito a Branca de Neve com os anões da Brinquedolândia,
a quarta feira de cardápio alemão na lanchonete do Tuma, o lanche no Vagão em
frente da Universidade...
E nem lembrei da chorada
Catedral...
Mas a verdade é flagrante na
percepção de que a princesa é cada vez menos princesa e mais, muito mais,
parecida com qualquer cidade moderna. Placas sucessivas de vende ou aluga,
intercaladas de terrenos baldios transformados em estacionamento ou ocupados
por farmácias. Muitas farmácias...
De longe, a cidade é bela, ornamentada
por edifícios cada vez mais altos. Mas olhando bem de perto, entre calçadas nem
sempre cuidadas e trânsito cada vez mais caótico, guarda um quê de nostalgia
mal resolvida.
Parece que a Pandemia, que tirou muitos das ruas, em quarentena, se aproveitou para também tirar do cenário essas preciosidades. Quando recomecei a andar por aí, me assustei com tantas mudanças. Parece que eu mudei para outra cidade. Muito pertinente seu desabafo, Carlos. Parabéns!
ResponderExcluirObrigado
ExcluirSão tempos de mudanças meu caro Carlos.
ResponderExcluirFicarão nossas lembranças; restarão nossas doses de nostalgia - como essa que nos brinda aqui.
Abraço!
At.te
PS: Não conectou minha conta.
ResponderExcluirass. Antonio Marques.
Ótimo texto! Ass: Silvia Schafranski
ResponderExcluirAndando pela cidade um filme vai passando em nossa cabeça: a desaparição de patrimônios, vidas e lembranças... como um vento violento que passa e leva tudo. Ficamos com os vestígios, como um quebra-cabeças, faltando muitas peças. Seu texto é uma reflexão sobre feridas abertas da memória coletiva. Abraços!
ResponderExcluirCarlos, você foi muito feliz com esta crônica. A cidade da nossa infância ou juventude não existe mais, é uma verdade. Nada é estático, tudo sofre mutação, porém a nostalgia nasce ao ler seu texto. Nossos descendentes deixarão de conhecer muito do que nós vimos e vivemos. Por isso sua luta pela preservação de construções históricas é louvável.
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