segunda-feira, 11 de julho de 2022

Corações ardentes

Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa.

Postada no Portal aRede, em 13/07/2022.

Voltei para casa com dois corações. Um de doce de abóbora e outro de bolacha de melado. Não dei conta de comer tudo que havia: cachorro quente, quentão, pinhão, canjica, bolo de mimosa, nega maluca... e o rei das quermesses, o pastel.

Crianças pulavam numa cama elástica, destacando suas silhuetas na penumbra entre duas fogueiras: a que o pôr do sol estendia no horizonte, retalhado pelo bosque que ladeava o pomar, e a que incendiava grossos troncos de árvores e jogava as faíscas em direção à lua crescente, competindo com o fulgurante pôr do sol. O proprietário do sítio garantiu que esses troncos vieram de árvores mortas, já “ardidas” (apodrecidas), recolhidas no capão. Ele também explicou que a pedra da grande mesa, no salão de recepção interno, era uma pedra vinda de Carrara, Itália, há aproximadamente 120 anos, e que até pouco tempo funcionava como uma bancada de curtir couros, do curtume da família. Para uma menininha junina, ela apenas tornava perigosamente mais interessante a sua brincadeira de correr, pois lhe apresentava o desafio de abaixar-se para passar debaixo dela.

Não era uma festa qualquer, de folguedos juninos. Há dias programada e organizada pela família e “chegados”, o evento transformou em “junino”, estendido a dezenas de convidados, o espaço de acolher as gerações contemporâneas da família para os avós e tios “chamegarem”.

Na tarde de 3 de julho, Silvestre Alves, minha irmã Luci e eu, ponta-grossenses, nos dirigimos a Palmeira, onde fica esse sítio encantador. Não era uma festa qualquer, nem se tornaria extraordinária, se não houvesse um vetor muito especial, capaz de conjurar, além dos encantamentos naturais, também os da solidariedade, da empatia e da amizade. Esse vetor era Maria Edite Lederer, membro da Academia de Letras dos Campos Gerais, guerreira que há anos desafia dificuldades físicas resultantes de uma paralisia na infância, autora dos livros Gotas de Sentimentos, Pedacinhos de Amor e Um pouco de Mim. Maria Edite enfrenta, atualmente, mais uma batalha que a vida não deixa de apresentar aos guerreiros que encaram seus desafios e ousam combater com as precárias armas que lhes são permitidas. Os familiares organizadores da festa, movidos pela solidariedade, engajaram-se nessa batalha de Maria Edite, e a fizeram com sorrisos, cantos, danças e fogueiras de amor nos corações. E, munidos desses encantamentos, continuarão a auxiliar a guerreira até que possa levantar-se e retornar ao combate. 

5 comentários:

  1. Linda crônica, é como se estivesse lá!

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  2. Mais uma vez Rosicler mostra seu talento como cronista num texto expressivo que faz arder nossos corações sejam os de abóbora ou os que latejam no nosso peito desde criança. Parabéns!

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  3. Um Arraiá Junino na cidade já é "loco de bão", imaginem junto à natureza com toda representação de farturas e alegrias entre as pessoas. Ah, é de arder corações...! Aplausos pela sua bela narrativa!

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  4. Gratidão, amigas, e anônimo! Meu coração que não é de abóbora está derretendo. Me encantam seus comentários.

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  5. Bonita crônica, Rosicler, obrigado. Att.

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